Julgamento marcado para chefe de polícia que começou escândalo na China

15/09/2012 10:30 Atualizado: 15/09/2012 10:30
Wang Lijun, ex-chefe da Secretaria de Segurança Pública de Chongqing, em março de 2011. (Feng Li/Getty Images)

O julgamento de Wang Lijun, o ex-chefe da polícia de Chongqing, que tentou desertar para um consulado dos EUA em fevereiro, por deserção, recebimento de propina e abuso de poder, começará na terça-feira.

A tentativa de deserção de Wang Lijun revelou uma profunda brecha entre os altos oficiais da liderança do Partido Comunista Chinês (PCC) e provocou a eventual queda de Bo Xilai, o ex-chefe do PCC em Chongqing, que se encontra sob investigação e é acusado de abuso de poder, nepotismo, corrupção e de criar um culto à personalidade num revivalismo maoísta. A esposa de Bo Xilai recebeu uma sentença de morte suspensa recentemente por matar o empresário britânico Neil Heywood.

Quando Wang Lijun tentou desertar para o consulado dos EUA em fevereiro, ele teria contado aos funcionários consulares sobre o envolvimento de altos oficiais chineses na colheita de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong. O Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, é uma forma de meditação que é perseguida pelo regime chinês desde meados de 1999.

O repórter da segurança nacional Bill Gertz soube em março que Wang Lijun teria dado informações sobre um plano de golpe de Bo Xilai e do chefe da segurança pública chinesa Zhou Yongkang contra Xi Jinping, o provável próximo líder chinês.

Wang Lijun será julgado num tribunal na cidade sudoeste de Chengdu, informou a AFP. “O caso de Wang Lijun será ouvido em 18 de setembro”, disse um porta-voz do Tribunal Popular Intermédio de Chengdu.

No início deste mês, a agência estatal de notícias Xinhua informou que Wang Lijun teria dito a diplomatas que Gu Kailai envenenou Heywood. Na época, a morte de Heywood foi atribuída ao consumo excessivo de álcool.

“Ele conscientemente negligenciou seu dever e usou a lei para ganho pessoal, de modo que [Gu] Kailai não fosse legalmente responsabilizada”, disse a agência de notícias, acrescentando que ele será acusado de receber “grandes subornos”, usando métodos de vigilância ilegal e por “usar a lei para fins egoístas”.

A agência de notícias estatal descreveu as provas contra Wang Lijun como “concretas e abundantes”.

O julgamento de Wang Lijun ocorre apenas algumas semanas antes da esperada transição da liderança chinesa que verá os líderes do Partido Comunista Chinês, Hu Jintao e Wen Jiabao abrirem caminho para a nova geração. O chefe da segurança Zhou Yongkang também deve se aposentar.

Bo Xilai era considerado um favorito para se tornar membro do Comitê Permanente do Politburo, o mais alto órgão de decisão do país. Devido à tentativa de deserção de Wang Lijun, ele foi destituído de seu posto como chefe de Chongqing e não tem sido visto em público há vários meses desde que o escândalo estourou.

Donald Clarke, professor de direito chinês na Universidade George Washington, disse num blogue que a deserção pode ser punida com uma sentença de cinco anos, mas se Wang Lijun revelou segredos de Estado, ele poderia obter uma sentença muito maior ou até pena de morte. Ele não foi acusado oficialmente de divulgar segredos de Estado.

“Num sistema mais transparente, você pode delinear a relutância do governo de produzir evidências sobre esses segredos, mas não tenho certeza se essa é a resposta na China”, escreveu Clarke. “Dificilmente há qualquer dúvida de que se Wang Lijun abriu a boca no consulado dos EUA, ele provavelmente é culpado deste crime.”