Julgamento encenado do político desgraçado Bo Xilai concluído na China

27/08/2013 14:05 Atualizado: 27/08/2013 15:13
Segredos familiares revelados, mas Partido Comunista é deixado intocado
Um policial faz guarda durante o terceiro dia do julgamento do político chinês desgraçado Bo Xilai, no Tribunal Popular de Jinan, província de Shandong (Mark Ralston/AFP/Getty Images)
Um policial faz guarda durante o terceiro dia do julgamento do político chinês desgraçado Bo Xilai, no Tribunal Popular de Jinan, província de Shandong (Mark Ralston/AFP/Getty Images)

O julgamento de Bo Xilai, um político outrora poderoso do Partido Comunista Chinês (PCC) que agora está em desgraça, concluiu seu quinto e último dia em 26 de agosto, com Bo Xilai fazendo uma advertência incomum para as autoridades judiciais.

“O sistema legal da China é projetado para evitar casos injustos e falsos, com a segurança pública, os sistemas do Ministério Público e judiciais tendo um efeito restritivo mútuo … tudo é projetado para evitar que casos injustos e incriminações sem base. Se você só ouvir o lado da Procuradoria, isso criará uma grande injustiça”, disse ele ao juiz.

Essas foram palavras que Bo Xilai nunca teria dito como secretário do PCC, mas sentado no banco dos réus como um prisioneiro, ele estava numa posição bastante diferente. Foi também uma observação rica vinda de Bo Xilai, segundo observadores familiarizados com sua carreira política. Seu caminho pelas fileiras do PCC tem sido marcado por abusos extraordinários da justiça criminal e dos sistemas de segurança, dizem os críticos.

Em seu último cargo antes de ser derrubado no meio de uma luta política brutal, Bo Xilai era o chefe da grande cidade de Chongqing, no sudoeste da China, onde foi acusado de extorquir milhares de empresários e rivais políticos usando o sistema legal. Ele e seu vice Wang Lijun, que testemunhou contra ele recentemente, acusariam os empresários de fazerem parte da máfia, torturá-los-iam por confissões e, em seguida, os prenderiam e tomariam seus ativos.

Bo Xilai também enviou um internauta chinês em Chonqging a um ano de reeducação pelo trabalho forçado depois que ele fez uma piada escatológica sobre Bo Xilai nas mídias sociais.

E em seu posto anterior como ministro do Comércio, Bo Xilai foi processado por crimes contra a humanidade em mais de dez países por ajudar o ex-líder chinês Jiang Zemin na perseguição ao Falun Gong, uma popular disciplina espiritual. Segundo especialistas, a campanha contra esse grupo na China resultou em dezenas de milhares de mortes, muitas delas devido à execução no curso da colheita forçada de órgãos.

Antes de ser ministro do Comércio, Bo Xilai era secretário do PCC na província de Liaoning e antes ele foi prefeito de Dalian, uma cidade naquela província. Em ambos os papéis, ele é acusado de ajudar a intensificar a perseguição ao Falun Gong, supervisionando a rápida expansão dos campos de trabalho forçado. Um número de campos na região também se tornou famoso pela brutalidade. O Campo de Trabalho Feminino Masanjia, por exemplo, tornou-se pioneiro no uso da tortura sexual contra mulheres praticantes de Falun Gong sob a supervisão de Bo Xilai.

No quinto dia de seu julgamento, Bo Xilai parece cansado (CCTV)
No quinto dia de seu julgamento, Bo Xilai parece cansado (CCTV)

Nos últimos dias, Bo Xilai enfrentou a ira do próprio sistema penal chinês, embora, neste caso, o punho de ferro do Estado estivesse envolto em muitas camadas de veludo, segundo advogados na China que assistiram o caso de perto e estão familiarizados com a trajetória política de Bo Xilai.

“O julgamento foi como um jogo”, disse Liu Zhengqing, um advogado de direitos civis baseado em Guangzhou, numa entrevista por telefone com o Epoch Times. “Bo Xilai é um tirano. Se ele se tornasse o líder da China, ele seria pior do que Mao Tsé-tung.”

Liu destacou que, no julgamento, Bo Xilai só foi acusado de três delitos, reduzidos dos seis que foram originalmente movidos contra ele pelas autoridades após sua prisão no ano passado. Além disso, “o julgamento nem sequer tocou na questão da colheita de órgãos, na tentativa de golpe de Estado ou nas campanhas antimáfia e de ‘cantar o vermelho’”, que Bo Xilai lançou em Chongqing, disse Liu.

Bo Xilai teria tentado um golpe de Estado junto com o ex-chefe da segurança pública Zhou Yongkang, para interromper a ascensão ao poder do atual líder chinês Xi Jinping e instalar-se como chefe do PCC. Foi isto, em vez de mera corrupção, que teria provocado a fúria do PCC sobre sua cabeça, segundo Liu. “O PCC não se atreve a abordar crimes pesados”, disse Liu. “Bo Xilai sabe disso muito bem.”

Com tanta agitação nos bastidores que nem o PCC nem Bo Xilai gostariam de expor a luz do dia, o julgamento se tornou uma peça negociada: Bo Xilai foi autorizado a defender-se, mas manteve a tergiversações sobre os detalhes dos crimes (relativamente) pequenos de que foi acusado, ao invés de denunciar a legitimidade do processo em si.

Pelo menos isso é o que pode ser conhecido das transcrições do tribunal, que são rigorosamente revisadas antes de serem apresentadas ao público no blogue do Tribunal Popular Intermediário de Jinan, onde o julgamento foi realizado. Nenhum vídeo ou áudio de Bo Xilai foi publicado desde sua audiência e fontes disseram ao New York Times que alguns dos protestos de Bo Xilai foram apagados das transcrições, antes destas serem publicadas online.

Li Zhuang, um advogado chinês de defesa criminal que foi preso por Bo Xilai no auge da campanha antimáfia em Chongqing, comentou numa entrevista por telefone que Bo Xilai é “um excelente ator”.

Liang Xiaojun, um advogado chinês de direitos civis, observou que o julgamento não pareceu proceder completamente isento de problemas para as autoridades. “Eles pareciam pensar que Bo Xilai confessaria seus crimes, mas ele negou todas as acusações. O julgamento revelou uma série de segredos da família de um oficial de alto escalão, tal como Wang Lijun ter uma queda por Gu Kailai, Bo Xilai ter dado um tapa em Wang Lijun, Xu Ming ter dado a Gu Kailai e Bo Guagua um monte de dinheiro, Gu Kailai ter problemas mentais e assim por diante.” Ele se referia a outros no elenco de personagens que surgiram durante o julgamento: Bo Guagua, o filho de Bo Xilai; Gu Kailai, a esposa de Bo Xilai; e Xu Ming, um parceiro de negócios da família que interferiu em seus estilos de vida com injeções regulares de dinheiro e presentes.

As autoridades também tomaram muito cuidado para conter os danos enquanto puniam Bo Xilai: a quantidade de suborno e peculato de que ele foi acusado foi apenas na casa dos milhões – e não centenas de milhões ou até bilhões – de dólares. As somas não eram pequeninas, mas não foram grandes o suficiente para dar um nome ruim ao PCC.

“Usando a corrupção para ir atrás de Bo Xilai é muito superficial”, disse Liang Xaojun. “Eles são todos corruptos.” Segundo as autoridades, o veredito contra Bo Xilai será proferido “em data a ser decidida”.