O julgamento por homicídio de Gu Kailai parecia encenado, segundo observadores políticos que se perguntaram se houve um acordo político feito nos bastidores.
Gu Kailai, esposa do político chinês recém-deposto Bo Xilai, teve sua sentença de morte suspensa por dois anos por assassinar o empresário britânico Neil Heywood. Zhang Xiaojun, um empregado da família Bo, foi condenado a nove anos de prisão por ajudá-la.
Quatro policiais de Chongqing acusados de encobrir o assassinato foram condenados entre 5 e 11 anos de prisão. Todos os seis réus aceitaram suas sentenças e não manifestaram intenção de recorrer, segundo a mídia estatal porta-voz do regime chinês, a Xinhua.
A resposta de Gu Kailai sobre sua sentença de morte suspensa foi exibida na China Central de Televisão (CCTV), “Eu acho que a sentença é justa”, disse ela.
A Xinhua afirmou que Gu Kailai assumiu total responsabilidade por sua conduta criminosa, mesmo que tenha alegado estar sofrendo de um distúrbio mental. Ela estava ciente das consequências de assassinar Heywood, mas foi incapaz de se controlar, segundo a narrativa.
Repórteres na China consideraram o julgamento foi uma farsa. “Uma pessoa mentalmente perturbada diz que a sentença foi justa, quem acreditaria”, disse um deles, segundo a Agência Central de Notícias, uma mídia estatal de Taiwan.
Um funcionário da mídia disse a CNA que era surpreendente ver Hong Kong e a mídia estrangeira reportarem o resultado do julgamento antes da mídia estatal chinesa. “Todo mundo sabe que o julgamento foi um espetáculo planejado. Mas [repórteres chineses] não conseguiram descobrir de antemão como apresentar a notícia, que partes publicar e quais ignorar. Algo deve ter dado errado com as pessoas lá em cima cujo trabalho era fazer com que todos escrevessem a mesma coisa sobre o julgamento.”
O julgamento de Gu Kailai tem sido considerado como o mais importante julgamento-espetáculo na China desde a condenação da “Gangue dos Quatro”, um grupo julgado como traidor que incluía a viúva de Mao Tsé-tung, no fim da Revolução Cultural, em 1981.
Analistas disseram que o resultado do julgamento de Gu Kailai foi pré-determinado, com juízes e outros seguindo um roteiro pré-escrito. O processo de audiência durou apenas sete horas. Houve cooperação tácita entre os réus e o Ministério Público, que disse que a prova era clara e suficiente de que Gu Kailai e Zhang Xiaojun utilizaram veneno para assassinar Heywood. Gu Kailai admitiu todas as acusações e ainda agradeceu ao Ministério Público por seu tratamento “humanitário”.
Um artigo da Voz da América comentou que a cooperação entre o Ministério Público e Gu Kailai parecia uma novela política, eles eram atores no palco e todos sabiam quem estavam nos bastidores, os detalhes importantes do julgamento foram pré-determinados internamente.
Um relatório da Rádio França Internacional chegou a uma conclusão semelhante, “Na China, onde o processo legal não é diferente de uma brincadeira de criança, o julgamento de Gu Kailai foi apenas a interpretação de um roteiro. O objetivo era pôr fim à questão de Wang Lijun e apagar completamente Bo Xilai da cena. A fim de alcançar um equilíbrio de poder, os principais líderes do Partido Comunista Chinês (PCC) se uniram para lidar com esta crise social.”
O professor Kerry Brown, diretor do Centro de Estudos da China da Universidade de Sydney, fez comentários semelhantes num artigo do jornal The Australian. “Desde o início, todo este processo tem sido mais sobre controle do que justiça”, disse ele. “O maior desejo do PCC, que se prepara para uma sucessão da liderança em algum momento no fim deste ano, é que o drama de Gu Kailai e seu julgamento sejam esquecidos tão logo quanto possível.”
Tem havido muita especulação sobre o destino de Wang Lijun, o ex-chefe de polícia de Chongqing e braço direito de Bo Xilai que teria fornecido os detalhes do assassinato de Heywood e outras evidências sobre Bo Xilai às autoridades norte-americanas no consulado dos EUA em Chengdu, província de Sichuan.
O Boxun, um website de notícias em língua chinesa sediado nos EUA, disse recentemente que um julgamento secreto de Wang Lijun seria realizado em Chengdu na semana passada e que Wang Lijun seria condenado a 15 anos por deserção, ao invés de traição.
Nota do Editor: Quando o ex-chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro, ele colocou em movimento uma tempestade política que não tem amenizado. A batalha nos bastidores gira em torno da postura tomada pelos oficiais em relação à perseguição ao Falun Gong. A facção das mãos ensanguentadas, composta pelos oficiais que o ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu para realizarem a perseguição ao Falun Gong, tenta evitar ser responsabilizada por seus crimes e continuar a campanha genocida. Outros oficiais têm se recusado a continuar a participar da perseguição. Esses eventos apresentam uma escolha clara para os oficiais e cidadãos chineses, bem como para as pessoas em todo o mundo: apoiar ou opor-se à perseguição ao Falun Gong. A história registrará a escolha de cada pessoa.