O juiz federal Claudio Bonadío ordenou na última quinta-feira (27) à Polícia Metropolitana uma blitz nos escritórios da Administração Federal de Ingressos Públicos (Afip, a Receita Federal da Argentina) para obter as declarações juramentadas da presidente Cristina Kirchner e de integrantes de sua família. O juiz investiga irregularidades nos balanços e na composição acionária da empresa Hotesur, administradora do hotel de luxo Alto Calafate, no vilarejo de El Calafate, na província de Santa Cruz, na Patagônia.
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O juiz solicitou documentos relativos à presidente Cristina Kirchner, seus filhos Máximo e Florencia, além das declarações juramentadas do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), que morreu em 2010. Bonadío suspeita que o hotel foi utilizado para operações de lavagem de dinheiro em parceria com Lázaro Báez, sócio dos Kirchners em diversos empreendimentos imobiliários na Patagônia.
O empresário, cujas empresas principais são empreiteiras que concentraram a maior parte das obras públicas da gestão Kirchner no sul da Argentina, enriqueceu de forma exponencial nos últimos anos. Báez está sendo processado desde o ano passado pela lavagem de 60 milhões de euros.
As suspeitas sobre lavagem de dinheiro começaram com a descoberta do pagamento que Báez havia feito em 2013, de forma retroativa, por 935 diárias no hotel Alto Calafate, como se os quartos tivessem sido ocupados ininterruptamente nos anos de 2010 e 2011. Além do pagamento retroativo, o juiz suspeitou pelo detalhe de que os quartos nunca haviam sido ocupados.
Bonadío também pediu as declarações juramentadas de Martín Báez, filho do empresário, e de Romina Mercado, sobrinha do casal Kirchner. Romina é irmã de Natalia Mercado, procuradora federal que engavetou diversas investigações judiciárias sobre seus tios Néstor e Cristina na província de Santa Cruz.
Bonadío também está procurando informações sobre o hotel-boutique Los Sauces, instalado ao lado da mansão que a presidente possui em El Calafate, que ela chama de “meu lugar no mundo”. A deputada da oposição Margarita Stolbitzer afirmou que a Justiça “pisou em um formigueiro” com a denúncia sobre o primeiro hotel, já que estão aparecendo outras irregularidades nos negócios da presidente Cristina Kirchner.
O governo Kirchner revidou as investigações com um pedido de julgamento político do juiz Bonadío, anunciado na sexta-feira pelo vice-ministro da Justiça, Julián Álvarez. “O desempenho de Bonadío é indignante!”, exclamou Álvarez, integrante de “La Cámpora”, denominação da juventude kirchnerista.
O governo acusa Bonadío de “lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e abuso de autoridade”. Na última terça-feira, em discurso perante os empresários da Câmara de Construção, a presidente Cristina Kirchner desafiou: “Nenhum carcará vai me extorquir!”
Deputados do partido socialista no Parlamento da Suíça solicitaram ao governo em Berna que envie à Justiça em Buenos Aires dados sobre as contas do empresário Lázaro Báez em bancos suíços. Lázaro Báez passou de ser um desconhecido contador do Banco da Província de Santa Cruz, em 2001, para um dos principais empreiteiros do país.
Sócio do casal Kirchner em vários empreendimentos imobiliários, em 2011 deu de presente a Cristina Kirchner o grande mausoléu no cemitério de Río Gallegos, onde repousa o caixão de seu marido, morto em 2010. Em 2010 a Coalizão Cívica, de oposição, denunciou a existência de irregularidades na indenização de terras que seriam alagadas pelos lagos das hidrelétricas em Santa Cruz. Segundo a denúncia, Báez, informado previamente por Néstor Kirchner da construção das hidrelétricas, havia comprado a baixo preço 182 mil hectares de terras nas margens dos rios. Na sequência, o governo federal pagou uma substancial indenização pelas terras.
Editado por Epoch Times