Jovens egípcios protestam a favor do impeachment do presidente Morsi

01/07/2013 14:14 Atualizado: 01/07/2013 20:26
Manifestantes Tamarod no Egito
Manifestantes da oposição egípcia protestam em frente ao Palácio Presidencial Egípcio, como parte da campanha “Tamarod” no Cairo (Ed Giles / Getty Images)

Cairo – Centenas de milhares de egípcios foram às ruas no último domingo, alguns em apoio ao presidente islamita Mohammed Morsi e outros para pedir sua saída. Um novo movimento de jovens chamado Tamarod, ou Rebeldes, está liderando a mais recente campanha destinada a forçar Morsi a deixar o cargo. Há cerca de três meses, o grupo lançou uma petição para colher assinaturas de egípcios favoráveis à renúncia do presidente.

Segundo críticos, o crescente descontentamento com Morsi está em sua incapacidade de combater eficazmente os problemas do país. O grupo Tamarod afirma que já recolheu mais de 22 milhões de assinaturas. As petições não têm peso legal e não foram autenticadas de forma independente, mas a contagem seria – se apurada – quase o dobro do número de votos que Morsi recebeu há um ano ao ser eleito à presidência. A principal coalisão de oposição, a Frente Nacional de Salvação, endossou Tamarod e ajudou a coletar as assinaturas.

Morsi, que completou três anos dos quatros que restam de seu mandato, diz que não tem intenção de renunciar. Os organizadores Tamarod e figuras da oposição dizem que os manifestantes não vão sair das ruas até que ele deixe o cargo. Se ambos os lados mantiverem suas posições, o impasse pode durar dias, talvez até semanas. Portanto, há outros fatores em jogo: se o grande número de protestos no último domingo se repetir nos próximos dias, o país vai aumentar o cerco sobre Morsi. A mobilização social pode se tornar uma campanha de desobediência civil aliada a greves de algumas categorias de trabalhadores.

A Irmandade Muçulmana, grupo fundamentalista que impulsionou Morsi ao poder, mostrou poucos sinais de recuo. O grupo aponta que a vitória eleitoral do então presidente foi através de uma votação amplamente reconhecida pela população, de caráter democrático e transparente. “Forçar uma renúncia criará um precedente perigoso para o sucessor”, segundo Morsi em entrevista ao jornal britânico The Guardian no último domingo. A única maneira de desafiar o presidente é por meio das urnas, afirmam seus partidários.

A participação do exército

O chefe do Exército, o general Abdel-Fattah el-Sissi, reuniu-se com Morsi e a oposição há uma semana para chegar a um consenso. Na ocasião, o general avisou que os militares iriam intervir se o país chegar a uma guerra civil. Os comentários do militar foram os mais fortes desde que o presidente nomeou el-Sissi em agosto de 2012. Após a reunião, o exército enviou reforços para bases espalhadas por todo o país, implementando tropas com veículos blindados fora das áreas urbanas.

O exército ainda não interferiu no atual impasse político do Egito, e é improvável que os militares encenem um golpe para depor Morsi. No entanto, existe a possibilidade das tropas intervirem em defesa dos manifestantes da oposição se a violência irromper. Tal atitude daria um impulso aos protestos anti-Morsi e, provavelmente, atrairia muito mais egípcios a tomar as ruas, confiantes que seriam protegidos pelos militares.

Outra indagação é que os militares vejam a onda de protestos antigovernamentais como uma oportunidade de ouro para livrar-se de Morsi e seus partidários. O general El-Sissi, aparentemente, não entrou em conflito com o presidente, embora note-se sinais de tensão entre as duas poderosas instituições. Alguns estudiosos dizem que o exército egípcio nunca esteve confortável com os estreitos laços entre o presidente e o Hamas – grupo extremista Palestino -, que os militares há muito tempo têm visto como uma ameaça para a estabilidade na península egípcia do Sinai, que faz fronteira com Israel e a Faixa de Gaza governada pelo Hamas.

Uma intervenção provavelmente deixaria os militares no comando do país novamente, assim como após o levante de 2011 que derrubou o então Presidente Hosni Mubarak. Os militares foram duramente criticados pelas medidas tomadas durante o comando do país no período de transição de quase 17 meses. Críticos os culparam pela má administração durante a transição, e os acusaram de cometer muitas violações dos direitos humanos, incluindo a tortura de detentos e a realização de testes de virgindade em mulheres manifestantes.

Centenas de milhares de pessoas foram às ruas no domingo gritando palavras de ordem como: “Saia!”, que tiveram um significativo efeito contestador sobre à alegação de Morsi sobre cumprir um mandato presidencial por escolha popular. Será difícil para ele manter sua atual posição sem impor sua autoridade. No entanto o caminho que Morsi escolher pode ser fortemente influenciado por sua experiência como antigo membro da Irmandade Muçulmana, um grupo secreto que passou grande parte dos mais de 80 anos desde a sua criação escondido para evitar a repressão do governo. A Irmandade esperou oito décadas para governar o Egito, e a perspectiva de abandonar o poder agora que eles o têm, depois de tantos anos de perseguição – incluindo a execução de alguns de seus líderes mais respeitados – claramente não é algo que o grupo deseja.

Morsi e seus partidários têm permitido grupos islâmicos radicais – com um passado violento -, assumirem a liderança em defesa do presidente. Eles têm falado publicamente sobre “apagar” os manifestantes e rotineiramente se referem a eles como “infiéis” ou servos pagos de Mubarak. Apostar nessa parceira seria muito arriscado, podendo conduzir o Egito à guerra civil, como muitos especialistas indicam.

Também existe potencial para eclosão da violência por parte da oposição, especialmente se os protestos se prolongarem e Morsi mantiver sua posição. No passado, alguns protestos antigovernamentais transformaram-se em confrontos. Com exceção de semana passada, um grupo de manifestantes anti-Morsi invadiu e saqueou vários escritórios da Irmandade Muçulmana e seu braço político, o Partido Liberdade e Justiça. Confrontos em uma série de cidades e no Delta do Nilo, porto da cidade costeira de Alexandria, deixaram pelo menos sete pessoas mortas e centenas de feridos.

Até agora, nenhum dos lados parece disposto a fazer concessões. Tamarod e os partidos da oposição insistem que as eleições presidenciais antecipadas são o último passo. Morsi disse, mais recentemente, em uma entrevista publicada no domingo, que ele não deixará o cargo.

Essa matéria foi publicada originalmente em inglês com a ajuda da Associated Press.

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