Paul Mooney é um daqueles verdadeiros jornalistas da velha escola – ele se concentra nas pessoas, nas histórias que elas precisam saber e nas histórias que elas devêm compartilhar. Depois de cobrir a China por 18 anos e ganhar vários prêmios por seu trabalho, seu visto foi recusado para retornar como um repórter da Reuters.
Conversando com o Epoch Times em Berkeley, Califórnia, Mooney contou por que o Ministério das Relações Exteriores do Partido Comunista Chinês (PCC) não o deixará entrar na China. Ele também contou algumas histórias que reportou que são de partir o coração, o tipo de histórias que o PCC não quer que as pessoas ouçam. Seu dom para contar essas histórias é a razão dele não ter permissão de volta ao país.
“Eu me foco bastante nos direitos humanos e na justiça social. Eu relatei sobre o Tibete e Xinjiang, e estes são temas sensíveis na China. Tenho certeza de que o governo não estava feliz com as reportagens que fiz.”
Ele diz que não é tão ruim para ele, no entanto. Os verdadeiros heróis são os jornalistas chineses. “Eu tenho grande respeito pelos jornalistas chineses que tentam fazer essas histórias [enquanto bloqueados pelo PCC]. Há grande risco para eles; eles perdem seus empregos e alguns inclusive foram para a cadeia. Eu não tenho qualquer esperança no PCC, mas tenho nesses jornalistas.”
Consulado chinês o avisa
No último ano, o regime chinês reforçou seu controle já firme sobre a mídia e muitos jornalistas estrangeiros como Mooney estão sendo expulsos. O mapa analítico mais recente dos Repórteres Sem Fronteiras sobre a liberdade de imprensa no mundo classifica a China completamente preta.
Durante a espera de oito meses para obter seu visto, Mooney foi convocado ao consulado chinês em São Francisco para entrevista. Ele foi questionado sobre seus pontos de vista a respeito do Tibete, do Dalai Lama e de advogados destacados de direitos humanos. Ele respondeu com franqueza que não achava que eles fossem uma ameaça à China. Seu entrevistador avisou que se ele queria o visto ele teria de reportar mais “objetivamente”. “Foi obviamente uma ameaça”, disse Mooney.
Pró-China, anti-China
“Como jornalista eu sempre fui objetivo, eu nunca inseri minha opinião em qualquer uma dessas histórias. Eu relatei da mesma forma na China, como eu teria feito nos EUA. Isso é algo que o governo chinês não entende. Eles dizem que a mídia ocidental tem antipatia pela China. Mas isso não é verdade.”
Uma questão que Mooney tem de enfrentar como repórter sobre a China são as acusações de que ele é anti-China. Ele ouve o PCC dizer isso, mas também ouve esta noção vinda de ocidentais. “Acho que eles pensaram que eu era anti-China. Mas na verdade eu sou muito pró-China. As pessoas que entrevistei nunca me chamaram uma vez sequer de anti-China. Se o Partido Comunista não gosta da verdade, isso é problema deles.”
“Eu sentia como se estivesse dando uma voz às pessoas que não tinham nenhuma e mantive contato com muitas das pessoas sobre as quais reportei. Eu ajudei pessoas a adquirirem remédios dos EUA e achei médicos para pessoas que necessitavam de cirurgia. Eu mantive contato pelo Skype. Essas pessoas também sabem que não há esperança para elas, mas o fato de que alguém se importa significa muito para elas.”
Um artigo publicado no Business Insider destacou que, após os Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim, o PCC deixou de ser receptivo aos jornalistas estrangeiros. Com a pressão para apaziguar o resto do mundo, Mooney disse que nunca viu tantos jornalistas estrangeiros à espera de visto.
“Se você olhar os artigos da Coreia do Sul, Taiwan, Japão, Indonésia, Malásia e América Latina, todos apresentam os mesmos problemas. A [propaganda] chinesa prevalece alegando que os EUA então contra a China, mas na verdade o governo dos EUA e os cidadãos norte-americanos fazem muito pelo povo chinês”, disse Mooney.
“Inúmeras ONGs vão à China e, para os estudantes chineses, nós abrimos escolas e campi em todo os EUA. Se os EUA realmente quisessem manter a China para baixo, não faríamos essas coisas. Mas você não vê essas coisas relatadas no Diário do Povo ou no Diário da China, nós sempre ouvimos que os EUA estão agindo para detê-los, esse tipo de opinião distorcida.”
Pressão necessária
Mooney não acha que a situação melhorará para os jornalistas na China sem pressão recíproca de países estrangeiros. Os EUA devem ter a mesma abordagem restritiva para dar vistos a jornalistas chineses.
“Eu gostaria que o governo americano dissesse: ‘OK, se você não aprova vistos para jornalistas americanos, pararemos de aprovar vistos para jornalistas chineses.’ A China tem mais de 700 correspondentes nos Estados Unidos. Nós não atrasamos seus vistos, nós não os recusamos na grande maioria dos casos. Não os assediamos ou seguimos nem usamos a polícia para intimidá-los ou espancá-los.”
“Correspondentes chineses tem as rédeas soltas nos EUA e alguns deles são de fato espiões. Eu garanto que se começarmos a negar os vistos, em duas semanas eles começarão a conceder vistos a jornalistas americanos novamente, mas agora não há repercussões para eles.”
Mooney explicou que o resto do mundo tem medo de pressionar a China para não perder negócios e oportunidades comerciais, mas o que eles não percebem é que a China precisa do resto do mundo da mesma forma e por isso a pressão funcionará.
Reportagem sobre a injustiça é pró-China
“Uma história que escrevi foi sobre o sequestro de crianças na zona rural. Meninos jovens que são sequestrados e forçados a trabalhar em fornos industriais – como fornos de olaria para fabricação de tijolos – onde são mantidos como escravos.”
“Há alguns anos, uma grande quantidade de jovens adolescentes começou a desaparecer. Eles iam da província de Henan para Zhengzhou [capital de Henan] à procura de trabalho. Então, eu acompanhei um grupo de nove pais por cerca de uma semana e fiquei com essas famílias enquanto elas procuravam nesses lugares por seus filhos e foi incrivelmente triste. Eles gritaram o tempo todo.”
Mooney disse que alguns jornalistas chineses cobriram brevemente essas histórias, mas isso não durou muito. “As pessoas que ajudei colocavam esperança em mim, mas em minha experiência há muito pouca reação do governo”, disse Mooney. “Um pai me disse que a polícia não fez nada para ajudar a encontrar as crianças.”
Mooney contou uma história sobre um menino que escapou de um forno e foi à Secretaria do Trabalho pedir ajuda apenas para ser vendido de volta ao forno por um dos funcionários e depois vendido novamente pelo mesmo funcionário para outro forno por 600 yuanes (US$ 98).
“Eu também fiz histórias sobre as aldeias de câncer. Eu fui a uma aldeia na província de Hunan que tinha uma fábrica de baterias. Muitas pessoas começaram a adoecer, por isso o governo enviou médicos para examiná-los e, quando descobriram que mil deles foram envenenados com cádmio no sangue, eles pararam todos os exames.”
“A fábrica não tinha qualquer equipamento para lidar com os resíduos. A fábrica de baterias é um poluidor de metal pesado. Eles subornaram as autoridades ambientais locais para lhes dar certificados e trabalhavam com o governo local e gangues locais. Eles bombeavam a água residual no rio da aldeia.”
Água, arroz e produtos contaminados
“Uma menina morreu de envenenamento por cádmio. A avó de 80 anos caiu de joelhos chorando junto com a mãe da criança em desespero, quando olharam para cima e me viram chorando elas ficaram chocadas por um momento, então começaram a se lamentar ainda mais alto. Foi de partir o coração.”
O pai gastou 90 mil yuanes (US$ 14.770) para tentar salvá-la. Todos na aldeia estavam com muito medo até para falar com Mooney sobre a situação. “Eu reportei sobre esta história, porque eu esperava que o governo compensasse essas pessoas.” Mooney esperava que seu relato pudesse ajudar o povo chinês e por isso se vê como pró-China, mas, no final: “Foi escrevendo sobre estas coisas que me colocou em problemas.”
Ele explicou que há cerca de 400 vilas de câncer no sul da China. Os rios estão todos poluídos com metais pesados e ele não viu o PCC fazer nada a respeito. “Eles falam muito, mas não agem. O governo compactua com os negócios e oficiais locais para ganhar dinheiro. A imagem do Partido Comunista é muito mais importante do que o bem-estar do povo chinês. Então, no final das contas, é o povo chinês que sempre paga o preço.”
‘Cruel e implacável’
Mooney começou a se interessar pela China nos anos 70. Como muitos americanos na época, ele ficou fascinado com o comunismo chinês. Mas tudo isso mudou. “Como um ser humano, não é possível imaginar ou entender o comportamento do PCC.”
Ele percebeu que muitos chineses podem não gostar do que ele diz. “Acho que muita gente, chineses e ocidentais, está enganada pela propaganda do PCC. Muito disso é tão positivo que você nunca terá a verdadeira imagem da China.”
Mooney aponta que os comunistas estão prejudicando os chineses muito mais profundamente do que os japoneses no passado. “360 mil crianças adoeceram envenenadas com fórmula de bebê com melamina. A história foi bloqueada, porque o Partido Comunista não permitiria que qualquer notícia negativa antes dos Jogos Olímpicos prejudicasse sua imagem.”
Outro exemplo: “Um repórter chinês teve sua história sobre a segurança dos trens de alta velocidade bloqueada. Um ano depois, um grande acidente ocorreu. Este é um governo que está disposto a deixar o povo chinês ser envenenado, ferido ou morto, do que prejudicar as aparências.”
“Haverá um grande problema com câncer de pulmão devido à severa poluição. Portanto, a China parece uma sociedade moderna, mas na verdade é apenas uma fachada.”
“O Partido Comunista é realmente cruel e implacável. Quanto a todos os problemas da sociedade, a menos que o PCC sinta que há uma séria ameaça a sua autoridade, eles não farão nada. Então, eu antecipo que as coisas ficarão muito piores antes que o governo responda e tome qualquer ação sobre estas questões. Eu não vejo qualquer esperança.”