O jornalismo de oposição fica sem proteção na Colômbia

09/10/2013 15:02 Atualizado: 08/11/2013 17:41

As FARC estão tramando atentados contra o ex-presidente Uribe e contra o atual procurador-geral da Nação, Alejandro Ordóñez Maldonado, assim como contra o jornalista Puentes e outras personalidades.

O que dirá desta vez a Fundação para a Liberdade da Imprensa (FLIP)? A FLIP-Bogotá negou no passado o apoio a Ricardo Puentes, após catalogá-lo como “jornalista de direita”.

Digamos da maneira mais simples: se algo acontecer ao jornalista Ricardo Puentes Melo, o senhor Andrés Villamizar, diretor da Unidade Nacional de Proteção (UNP), terá que responder por isso. E não só Villamizar, mas também o ministro do Interior, Aurelio Iragorri Valencia e, por sua vez, o presidente Juan Manuel Santos, pois o que Andrés Villamizar acaba de fazer teve que ter sido consultado com o ministro e com a cabeça do poder executivo.

Há menos de uma semana, em 4 de outubro de 2013, Ricardo Puentes, diretor do portal Periodismo sin Fronteras, e um dos maiores críticos das negociações entre as FARC e o presidente Santos em Havana, saía do seu apartamento em Bogotá em um automóvel, com seus guarda-costas. De repente, um carro os bloqueou em uma rua. Uns homens ordenaram que Puentes saísse do veículo. Entregaram-lhe um papel e lhe disseram que, a partir daquele instante, ele ficava sem esquema de segurança. Sem que ele pudesse pedir uma explicação, os homens e os escoltas que protegiam o jornalista até esse momento abandonaram o local. O jornalista ficou só na rua.

Horas depois, eu recebia esta mensagem de Ricardo: “Interceptaram-me. Chegaram como um comando de assalto e me fizeram descer do carro. Tiraram-me os guardas no meio da rua. Geralmente, quando vão retirar o esquema de segurança de uma pessoa protegida, eles avisam, chamam a pessoa em um gabinete e lhe explicam. No meu caso, a decisão foi totalmente irregular e repentina. Tiraram-me a proteção mediante um assalto na rua”.

Por que a Unidade de Proteção operou de maneira tão arbitrária com um jornalista que estava sob sua proteção? Quem pode ter ordenado essa revirada brutal e furiosa contra um jornalista que necessita proteção? Tal comportamento de um organismo do Estado é uma clara violação dos Direitos Humanos.

Até hoje ninguém pôde explicar o que aconteceu. Entretanto, trata-se de um golpe contra a liberdade de imprensa. Com esse ato covarde, intimida-se e põe-se em perigo a vida de um jornalista de renome que por seu valente trabalho profissional recebe ameaças de morte.

A proteção de Ricardo Puentes Melo havia sido renovada há um ano por ordem expressa de Andrés Villamizar. Porém, a decisão de sexta-feira não estava assinada nem por Villamizar, nem por seu segundo no comando, José Luis Aguillar. Puentes tentou falar com o primeiro porém não pôde localizá-lo. Aguillar lhe disse algo surpreendente: que ele mesmo “não havia sido informado” dessa medida. Algo muito estranho está acontecendo na Unidade Nacional de Proteção.

Andrés Villamizar não quis falar acerca desse incidente. Limitou-se a fazer frases sobre o que todo o mundo sabe. Mediante uma mensagem em Twitter disse que, em geral, a decisão de proteger alguém “não se toma levando em conta a ideologia” da pessoa. Radio Caracol só pôde citar as frases vazias de Villamizar. Ele insistiu em que “não tem nada a ver com a ideologia de uma pessoa” e que a UNP é obrigada a “proteger mais os opositores, sejam de esquerda ou direita”. Palavras sem sentido, pois o que ocorreu em 4 de outubro mostra que a conduta da UNP é errada e deixa sem garantias os opositores.

Ricardo Puentes fez revelações nas últimas semanas sobre o turvo passado do atual ministro da Justiça, Alfonso Gómez Mendez, que arrasta umas caçarolas difíceis de esconder: vínculos com as FARC (confirmadas por alguns chefes terroristas desmobilizados) e ter sido advogado de um notório mafioso, Giorgio Sale, grande amigo de um chefe para-militar deportado aos Estados Unidos: “el mono” Mancuso.

O diretor de Periodismo sin Fronteras provou, por outro lado, a venalidade dos promotores e juízes que intervieram no caso do Coronel Alfonso Plazas Vega, o processo mais absurdo, surrealista e ilegal da história da Colômbia. Puentes obteve as dramáticas declarações de Edgar Villamizar Espinel, que demonstrou que ele nunca havia testemunhado contra o Coronel Plazas Vega e que a promotora desse caso havia inventado um testemunho sob esse nome para condenar de alguma maneira o Coronel Plazas. Ricardo Puentes descobriu, além disso, que um dos acusadores mais fanáticos do Coronel Plazas, um tal René Guarín, era um militante do M-19 com vultoso passado criminal, detalhe que ele havia ocultado e que o Ministério Público havia escondido apesar de que a condenação desse indivíduo era plenamente conhecida pela justiça.

O investigador Puentes Melo também revelou dias atrás que Rubén Darío Pinilla Cogollo, o magistrado do Tribunal Superior de Medellín que pretende abrir um processo de perseguição ao ex-presidente Álvaro Uribe, aos comandantes das Forças Militares da Colômbia e aos empresários colombianos, foi um orgânico do M-19, da ANAPO Socialista e do EPL. Ricardo Puentes tentou de entrevistar Pinilla Cogollo, em vão, pois ele negou-se a lhe responder.

O fato mais recente que talvez tenha encolerizado alguma instância do Governo contra Ricardo Puentes ocorreu neste 2 de outubro. Nesse dia ele publicou um artigo que, em um de seus parágrafos, diz:

“Periodismo sin Fronteras teve acesso a uma informação privilegiada de inteligência segundo a qual as FARC, frustradas por não ter podido cumprir sua meta de assassinar o ex-mandatário Álvaro Uribe Vélez em meses anteriores – tal e como denunciamos aqui -, e para o qual havia treinado especialmente um grupo de terroristas de suas mesmas fileiras, fixaram o mês de outubro deste ano como data para tentar de novo. Só que para esta ocasião o fariam com um carro-bomba que explodirão nos locais que o Dr. Uribe Vélez freqüentará, e cujo itinerário já conhecem perfeitamente, graças a que uma famosa ex-congressista conseguiu filtrar alguns de seus seguidores no círculo de confiança do hoje aspirante ao Senado da República”.

Essa fonte reitera que as FARC estão tramando atentados contra o ex-presidente Uribe e contra o atual Procurador Geral da Nação, Alejandro Ordóñez Maldonado, assim como contra o jornalista Puentes e outras personalidades. 48 horas depois da difusão desse informe, Ricardo Puentes foi interceptado na rua. Apesar de que Puentes entregou uma cópia desse informe de inteligência, a UNP não alertou os interessados acerca do que os terroristas estão tramando.

O movimento uribista sim, protestou: “Periodismo sin Fronteras fez graves revelações [sobre a] ação política do governo do presidente Juan Manuel Santos. Retirar-lhe sua proteção por parte do Estado, é um mecanismo para silenciar o jornalista Puentes Melo”, declarou a Fundação Centro de Pensamento Primeiro Colombia, antes de exigir o restabelecimento imediato do esquema de segurança do jornalista. Nesta segunda-feira (07), Fernando Londoño, diretor de La Hora de la Verdad, da Radio Red de RCN, fez um enérgico pronunciamento a respeito e responsabilizou o governo pelo que possa acontecer a Ricardo Puentes e à sua família. Pode-se ouvir essa entrevista aqui.

O que dirá desta vez a Fundação para a Liberdade da Imprensa (FLIP)? A FLIP-Bogotá negou no passado o apoio a Ricardo Puentes, após catalogá-lo como “jornalista de direita”. Dirigida por ativistas, a FLIP viola seus próprios estatutos e a ética jornalística ao cair em tais sectarismos. O que dirá desta vez o Repórteres sem Fronteiras, de Paris, que negou-se no passado a lançar uma nota de alerta para proteger Ricardo Puentes, pois seguiu as instruções da FLIP?

O trabalho de Ricardo Puentes Melo é vital e indispensável. Graças a ele e a outros jornalistas realmente livres, os colombianos sabem o que o poder e a subversão tratam de ocultar. Ricardo Puentes deve ser protegido.

Esta matéria foi originalmente publicada pela Mídia Sem Máscara