Jornal do Estado chinês publicado online, provocando risos

04/08/2012 03:00 Atualizado: 04/08/2012 03:00

Uma imagem da nova página do Diário do Povo no popular website chinês de mídia social Sina Weibo, que tem atraído a zombaria de internautas. (Weibo.com)Oficiais do Partido Comunista alertam sobre ‘sensação de crise’ em nova ‘frente de batalha’ da propaganda online

O jornal porta-voz do regime comunista chinês, que controla rigorosamente a imprensa, fez sua recente estreia no Sina Weibo, uma popular plataforma de microblogue, ao som da gargalha de muitos internautas.

Ferramentas como o Weibo tornaram-se nos últimos anos o mais poderoso bálsamo à imprensa sufocante e à incessante propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC), melhor representadas pelo Diário do Povo. A entrada tardia deste último na cena foi considerada irônica por muitos.

O Diário do Povo trouxe à nova plataforma de comunicação a mesma abordagem antiga que muitos que adotaram o Weibo tentam escapar, caracterizando o Weibo como uma frente de batalha da qual eles precisavam atacar.

Um artigo do Diário Oriental da Manhã, um jornal sediado em Shanghai, observou que foi um jovem editor no Diário do Povo que fez a sugestão de que o jornal deveria se expandir para o Weibo. “Não podemos ignorar submissamente a frente de batalha do Weibo. Temos que atacar de forma proativa, criar uma [conta] Weibo oficial e promover a qualidade do produto.”

A reunião foi realizada e os editores decidiram prosseguir. O jornal sentiu uma “sensação de crise” sobre sua necessidade de se aventurar no cenário da nova mídia social, disse o artigo do Diário Oriental.

A conta do Diário do Povo foi criada em 22 de julho, um dia após o início das chuvas torrenciais em Pequim. Oito diretores de departamento do jornal foram encarregados de liderar a nova tarefa de propaganda no ciberespaço.

Zhang Zhi’an, assistente do reitor da Escola de Comunicação e Design da Universidade Sun Yat-sen, disse ao Diário Oriental que a escolha do jornal de criar um microblogue neste momento não deve ser tratada como um evento isolado, mas como parte de uma nova estratégia de mídia global.

Ridicularizado

Internautas tanto zombaram com desdenharam da ação do Diário do Povo.

Sun Qiang, um policial na província de Heilongjiang, disse, “É um desperdício de recursos. Tais organizações deveriam ser criadas por populares.” Ele se referia à estrutura de gestão burocrática da conta, conforme relatado pelo Diário Oriental.

Um internauta na cidade de Hangzhou, província de Zhejiang, disse, “Apenas quando houver liberdade de expressão será um bom jornal.” Ele também comentou sobre o fato de que oito diretores foram requisitados para executar o microblogue, em parte para garantir que a pureza política dos anúncios do microblogue seja mantida.

“Parece que o serviço público tem de ser expandido. Não há funcionários suficientes, porque há desordeiros demais no Weibo”, disse o internauta Zhou Zhou da cidade de Nantong, província de Jiangsu.

“Eles estão fazendo lavagem cerebral em nós com nossos próprios impostos?”, comentou um blogueiro chamado “Trabalhando calmamente” da cidade de Guangzhou.

Medos da censura

Com a entrada do Diário do Povo no Weibo, blogueiros estão preocupados com o aumento das tentativas de estrangular seu discurso.

Atualmente, usuários do Weibo podem comentar com algum grau de liberdade sobre grandes eventos sociais na China, incluindo mais recentemente o incêndio num centro comercial em Tianjin, os protestos em massa em Shifang, na província de Sichuan, e as inundações em Pequim.

As contas são regularmente censuradas também, inclusive com suas mensagens excluídas imediatamente, feitas invisíveis a todos exceto para o dono da conta ou incapazes de serem exibidas em pesquisas. Às vezes, as contas são banidas por cruzarem as fronteiras invisíveis da crítica ao regime. Em alguns casos, os infratores foram presos ou condenados a campos de trabalho por fazerem gracejos sobre os oficiais do PCC.

No entanto, dado que o Weibo é impulsionado principalmente pela contribuição dos cidadãos, as pessoas estão muito mais dispostas a acreditar no que leem lá do que na propaganda da mídia estatal.

Uma das funções mais apreciadas do serviço é a possibilidade de comentar em postagens ou artigos de outros usuários. Esta é uma funcionalidade do Weibo é ainda melhor do que o Twitter.

“Há centenas de milhões de usuários no Weibo. As observações no Weibo refletem a opinião pública, que o Diário do Povo teme. Espero que o Weibo não encerre a função de comentar”, diz Hu Jun, da ONG ‘Campanha de Direitos Humanos na China’.

A função de comentar foi de fato removida em 31 de março por três dias como punição pelos “boatos e outras informações ilegais e lesivas” que os internautas discutiram e se espalharam online.

Provavelmente, o rumor mais prejudicial foi que tinha havido uma tentativa de golpe em Pequim na noite de 19 de março. Os líderes do PCC não toleram discussões sobre a instabilidade do regime comunista.

“A verdade não pode ser conhecida se não for sacudida para retirar o pó”, disse Hu Jun numa entrevista por telefone. “Não temos medo da fala do governo. Temos medo que ele seja o único a falar e não deixe o povo falar.”