Jornal de Hong Kong se curva a Pequim, dizem jornalistas

27/07/2012 11:00 Atualizado: 27/07/2012 11:00

Uma membra do Partido Democrata de Hong Kong segura um cartaz de protesto diante do escritório do jornal ‘South China Morning Post’ (SCMP) em Hong Kong. (Anthony Dickson/Getty Images)O maior jornal de língua inglesa de Hong Kong, o ‘South China Morning Post’ (SCMP), está se curvando à pressão de Pequim, segundo 23 jornalistas que escreveram uma carta aberta ao diretor-executivo do jornal.

Todos os jornalistas trabalharam anteriormente para o SCMP, mas agora trabalham em outros países, incluindo o Reino Unido, Austrália, Japão e Cingapura.

O grupo expressou preocupação de que o SCMP tem cortado cada vez mais notícias importantes relacionadas à China e substituído jornalistas ocidentais com colegas de Pequim.

A carta foi dirigida a Hui Kuok, a diretora-executiva do SCMP. Ela é a caçula do magnata malásio do açúcar Robert Kuok, que comprou uma participação de controlo no jornal em 1993. Ela é responsável pelos negócios e operações do grupo de mídia.

Na carta, os jornalistas manifestaram desconforto com as decisões editoriais feitas pelo recém-nomeado editor-chefe Wang Xiangwei. Wang assumiu o novo emprego em fevereiro deste ano, depois de trabalhar para o jornal estatal do continente Diário da China.

Paul Mooney, um dos signatários da carta, foi recentemente despedido por Wang no que ele alega serem motivos políticos. Num artigo de opinião publicado pelo Epoch Times, o Sr. Mooney disse que dezenas de suas propostas relacionadas com artigos sobre a China foram ignoradas ou derrubadas por Wang.

O Asia Sentinel relatou sobre dois outros jornalistas que perderam seus empregos no SCMP. Tanto Willy Lam como Jasper Becker, chefes de departamento em Pequim, foram demitidos antes que Wang assumisse o cargo.

“O SCMP nunca foi uma publicação radical, mas serviu o povo de Hong Kong por 100 anos, fornecendo-lhes informações precisas e oportunas”, diz a carta, segundo o Sentinel. “Agora, acreditasse amplamente que a prioridade principal do jornal não é mais continuar essa boa tradição, mas agradar as autoridades em Pequim.”

A polêmica sobre a mudança nas diretrizes editoriais do SCMP apareceu em junho, quando um de seus editores teria questionado abertamente a ética de trabalho de Wang. Os artigos do Sr. Price no Sentinel examinam a decisão de reduzir uma história importante sobre a morte suspeita num hospital de Hunan do dissidente da Praça da Paz Celestial, Li Wangyang, para uma breve nota.

Price enviou a Wang um e-mail dizendo, “Várias pessoas estão se perguntando por que beliscamos a história sobre Li Wangyang ontem à noite. Parece um pouco estranho. Você poderia lançar alguma luz sobre o assunto?” Isso gerou uma série de e-mails em que Wang disse, “Eu não tenho de lhe explicar nada. Eu tomei a decisão e a suporto. Se você não gosta, você sabe o que fazer”, relata o Sentinel.

Wang procurou mais tarde justificar sua decisão ao pessoal dizendo que a história sobre a morte de Li tinha recebido pouca ou nenhuma cobertura pela CCTV, uma emissora de televisão de propriedade do regime comunista chinês.

“A mais recente disputa sobre a cobertura reduzida da história de Li Wangyang provocou a ira de um grande número de leitores tradicionais e simpatizantes do SCMP”, disseram os ex-jornalistas do SCMP na carta. “Isso sugere que as acusações dos críticos do jornal são justificadas. Entendemos que juízos de notícias têm de ser feitos às pressas e erros ocasionais devem ser esperados.”

“Algumas das explicações para a decisão sobre Li Wangwang sugerem, porém, que uma mudança na política ocorreu. A ideia de que a história precisava ser minimizada porque tinha recebido pouca ou nenhuma cobertura da CCTV é indigno das tradições do SCMP como um jornal independente e empreendedor. A CCTV, sem dúvida, não tem um papel como fonte de informação. Se for utilizada como um indicador de valor de notícia é uma fonte de ignorância.”

“Estamos preocupados com tudo isso não só porque no passado nós fomos felizes e orgulhosos trabalhando para o SCMP e não gostaríamos de ver sua reputação se deteriorar, mas também porque o jornal tem sido historicamente um importante recurso cívico para o povo de Hong Kong. Será uma grave perda pública se o jornal continuar indo ladeira abaixo.”

“Nós pedimos que você garanta que as histórias sejam avaliadas com base no interesse para os leitores de Hong Kong. Também pedimos que você garanta que os jornalistas do SCMP sejam capazes de trabalhar segundo uma política editorial explícita e compreensível.”

Após uma série de tentativas, o Sr. Wang Xiangwei não pôde ser encontrado para comentários.