Um jornal de Hong Kong que reportou sobre a morte do ativista Li Wangyang, um manifestante da Praça da Paz Celestial (Tiananmen), recebeu uma série de críticas e acusações de se autocensurar.
Um número de manifestantes marchou para o escritório do ‘Diário da Manhã do Sul da China’ na quinta-feira e queimou centenas de cópias do jornal enquanto gritava slogans que o acusavam de não fazer o suficiente para informar sobre a morte de Li, que ocorreu em circunstâncias misteriosas.
A NTDTV citou Wilson Li, um membro do comitê do Partido Democrático que estava presente nos protestos, dizendo, “Seu editor-chefe deve dar uma explicação completa para sua equipe, a todos os jornalistas e ao público de Hong Kong. A questão agora já não diz respeito somente a seu jornal. Agora, é uma questão relativa à liberdade de imprensa em Hong Kong.”
Em 7 de junho, o Diário publicou pela primeira vez uma longa história sobre a morte de Li, mas depois reduziu-a a uma breve notícia e colocou-a nas páginas finais, relatou a Reuters. A morte de Li chegou às manchetes em várias mídias ocidentais e as especulações sobre sua morte circularam em toda a internet de língua chinesa.
Alex Price, um editor do Diário, perguntou numa troca de e-mail com o editor-chefe Wang Xiangwei por que a história sobre a morte de Li foi encurtada dizendo, “Parece um ato terrível de autocensura”, segundo a NTDTV.
Wang respondeu depois que ele não tinha de responder à questão de Price, o que levou vários funcionários seniores a assinarem uma petição pela transparência plena e liberdade de imprensa na publicação.
A ação dos membros da equipe levaram Wang a emitir uma declaração dizendo, “Quero deixar absolutamente claro que eu não tentei minimizar a história de Li Wangyang. Esta questão deveria ter sido resolvida de uma forma muito mais construtiva. No entanto, isso me dá a oportunidade de indicar onde me posiciono.” Ele acrescentou que o Diário reportou extensivamente sobre a morte de Li nos dias seguintes ao surgimento da história.
As autoridades chinesas no início desta semana ordenaram uma investigação sobre a morte de Li. Li estava na prisão por mais de duas décadas por tentar criar sindicatos trabalhistas independentes na cidade de Shaoyang, província de Hunan, durante o movimento democrático de 1989.
Inicialmente, a morte de Li foi considerada um suicídio no hospital onde estava sendo tratado por diabetes e doenças cardíacas. No entanto, seus amigos e parentes disseram que o suicídio foi encenado porque ele foi encontrado pendurado numa barra de segurança da janela com os pés plantados no chão.
A família de Li disse que ele era cego e quase surdo devido a anos de tortura na prisão e que teria sido difícil para ele se matar. Além disso, ele foi encontrado morto poucos dias depois de dar uma entrevista a uma TV a cabo de Hong Kong.
Alguns observadores na China acreditam que o poderoso Comitê dos Assuntos Político-Legislativos, chefiado por Zhou Yongkang, um membro Comitê Permanente do Politburo, arranjou a morte de Li. Observadores também acreditam que a data da morte de Li não foi uma coincidência, porque ocorreu por volta da época do memorial de 4 de junho pelo Massacre da Praça da Paz Celestial e durante um período de turbulência política na liderança política da China.