Jornal de Hong Kong acusado de desprezar morte de ativista

24/06/2012 03:00 Atualizado: 24/06/2012 03:00

Membros do Partido Democrata rasgam cópias do ‘Diário da Manhã do Sul da China’, enquadrado na moldura de um caranguejo, durante um protesto em Hong Kong em 21 de junho de 2012.Um jornal de Hong Kong que reportou sobre a morte do ativista Li Wangyang, um manifestante da Praça da Paz Celestial (Tiananmen), recebeu uma série de críticas e acusações de se autocensurar.

Um número de manifestantes marchou para o escritório do ‘Diário da Manhã do Sul da China’ na quinta-feira e queimou centenas de cópias do jornal enquanto gritava slogans que o acusavam de não fazer o suficiente para informar sobre a morte de Li, que ocorreu em circunstâncias misteriosas.

A NTDTV citou Wilson Li, um membro do comitê do Partido Democrático que estava presente nos protestos, dizendo, “Seu editor-chefe deve dar uma explicação completa para sua equipe, a todos os jornalistas e ao público de Hong Kong. A questão agora já não diz respeito somente a seu jornal. Agora, é uma questão relativa à liberdade de imprensa em Hong Kong.”

Em 7 de junho, o Diário publicou pela primeira vez uma longa história sobre a morte de Li, mas depois reduziu-a a uma breve notícia e colocou-a nas páginas finais, relatou a Reuters. A morte de Li chegou às manchetes em várias mídias ocidentais e as especulações sobre sua morte circularam em toda a internet de língua chinesa.

Alex Price, um editor do Diário, perguntou numa troca de e-mail com o editor-chefe Wang Xiangwei por que a história sobre a morte de Li foi encurtada dizendo, “Parece um ato terrível de autocensura”, segundo a NTDTV.

Wang respondeu depois que ele não tinha de responder à questão de Price, o que levou vários funcionários seniores a assinarem uma petição pela transparência plena e liberdade de imprensa na publicação.

A ação dos membros da equipe levaram Wang a emitir uma declaração dizendo, “Quero deixar absolutamente claro que eu não tentei minimizar a história de Li Wangyang. Esta questão deveria ter sido resolvida de uma forma muito mais construtiva. No entanto, isso me dá a oportunidade de indicar onde me posiciono.” Ele acrescentou que o Diário reportou extensivamente sobre a morte de Li nos dias seguintes ao surgimento da história.

As autoridades chinesas no início desta semana ordenaram uma investigação sobre a morte de Li. Li estava na prisão por mais de duas décadas por tentar criar sindicatos trabalhistas independentes na cidade de Shaoyang, província de Hunan, durante o movimento democrático de 1989.

Inicialmente, a morte de Li foi considerada um suicídio no hospital onde estava sendo tratado por diabetes e doenças cardíacas. No entanto, seus amigos e parentes disseram que o suicídio foi encenado porque ele foi encontrado pendurado numa barra de segurança da janela com os pés plantados no chão.

A família de Li disse que ele era cego e quase surdo devido a anos de tortura na prisão e que teria sido difícil para ele se matar. Além disso, ele foi encontrado morto poucos dias depois de dar uma entrevista a uma TV a cabo de Hong Kong.

Alguns observadores na China acreditam que o poderoso Comitê dos Assuntos Político-Legislativos, chefiado por Zhou Yongkang, um membro Comitê Permanente do Politburo, arranjou a morte de Li. Observadores também acreditam que a data da morte de Li não foi uma coincidência, porque ocorreu por volta da época do memorial de 4 de junho pelo Massacre da Praça da Paz Celestial e durante um período de turbulência política na liderança política da China.