Depois de publicar uma série de artigos contundentes sobre as vítimas da recente enchente em Pequim, que nunca publicou um número real de mortes, o Economic Observer teria sido fechado. A placa com o nome do jornal foi arrancada da parede, seus escritórios foram fechados e suas edições foram retiradas das prateleiras, segundo relatos.
Mas depois disso, as autoridades chinesas disseram que nada aconteceu. O jornal está operando normalmente e seus funcionários não confirmarão se foram fechados ou não.
A Rádio France Internacional (RFI) informou em 4 de agosto em sua edição chinesa que, segundo fontes, a Secretaria Municipal de Cultura de Pequim invadiu os escritórios do jornal sob o pretexto de reprimir a “pornografia e publicação ilegal”.
O relatório RFI disse que os funcionários da Secretaria fecharam os escritórios, removeram uma placa e confiscaram cópias publicadas nas bancas de jornal de Pequim.
O motivo foi a tentativa do Observer de relatar com precisão o número de mortes e danos da enchente do mês passado na capital.
Autoridades colocam o número de mortos em 37 no início, antes de elevá-lo para 79 em meio a críticas severas. No entanto, internautas chineses não acreditaram no último número. Milhares expressaram seu ressentimento em blogues e mídias sociais, como o Sina Weibo, pelo que julgaram como incompetência das autoridades em lidar com o desastre.
Wang Keqin, assistente do editor-chefe do Economic Observer e um conhecido jornalista investigativo na China, publicou um artigo intitulado “Pessoas desaparecidas nas fortes chuvas”, que detalhava o que aconteceu com três vítimas das inundações em Pequim. O artigo descreveu a dificuldade enfrentada pelas famílias ao recolherem os restos das vítimas que não constavam no número oficial de mortes.
Ligações da Rádio Free Asia (RFA) para os escritórios do jornal foram infrutíferas, segundo um artigo. Mas a RFA disse que falou com um jornalista da publicação, que disse que as autoridades comunistas tinham de fato removido o sinal de entrada da publicação. O Economic Observer não respondeu a um e-mail pedindo comentários.
Gao Yu, ex-vice-editora-chefe do Economia Weekly, uma publicação que foi fechada após o massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em 1989, disse à RFA que tais táticas de censura severa não têm sido empregadas há um longo tempo.
A assinatura de Gao Yu do Economic Observer parou de chegar depois de 4 de agosto, disse ela numa entrevista em 7 de agosto. Este deve ser um “assunto sério”, disse ela, porque nos últimos anos as autoridades comunistas demitiram com mais frequência os executivos de jornais que não seguiam a linha do regime do que fecharam uma publicação inteira.
Gao Yu disse que o regime está preparado para usar “táticas de mão pesada” para silenciar opositores políticos e limitar a informação sobre temas sensíveis, enquanto oficiais de alto escalão do PCC se reúnem num resort à beira-mar em Beidaihe para determinar os detalhes finais da mudança da liderança do Politburo programada para ocorrer no fim deste ano. “Isso significa que o regime enfrenta uma crise iminente”, disse ela.
A RFI deixou em aberto a possibilidade de que a situação seria resolvida, relatando que administradores do Observer conversavam com as autoridades sobre chegarem a alguma acordo.
Para sobreviver, o jornal provavelmente adotará um estilo mais censurado e poderá substituir suas posições superiores, informou a RFI, segundo suas fontes no e próximas do jornal.
Um compromisso pode ter assumido na manhã de 8 de agosto. O escritório de propaganda de Pequim em sua conta oficial no Weibo disse, referindo-se aos relatos de incursão nos escritórios e da censura do jornal, que “não há absolutamente nada disso, é puramente rumor”.
De acordo com o Sina, um portal de notícias popular, o Observer também afirmou que os relatos eram “rumores”, que nenhum jornal foi confiscado e que as alegações de escritórios fechados “simplesmente não eram verdade”.
Não foi possível encontrar no Weibo as postagens acima dos feeds do Economic Observer ou do escritório de propaganda de Pequim. Pesquisar por “Economic Observer” neste último não produziu resultados.
Seja verdade ou puro boato, uma postagem no Weibo do Observer no final da noite de 9 de agosto foi de fato enigmática. A imagem de um pôr do sol ou nascer do sol, iluminando a lua sobre o oceano, foi acompanhada por um texto que dizia, “Não se preocupe com os problemas de amanhã… a vida humana tem muitos lugares para descansar os pés” e “Nós podemos esperar e carregar alguns fardos pelo tempo que for necessário carregá-los.”