Jornada de Hu Jintao ao supremo poder militar – Parte 2

13/07/2012 03:00 Atualizado: 13/07/2012 03:00

O líder chinês Hu Jintao na sessão de encerramento do Congresso Nacional Popular em 14 de março. (Lintao Zhang/Getty Images)Se aprovado pelo regime central chinês, Hu Jintao seguirá o exemplo de seus antecessores Deng Xiaoping e Jiang Zemin, que mantiveram o poder sobre os militares por dois anos após o término de seus 10 anos de mandato como secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) e presidente da China. Mas vivendo na sombra de Jiang e de sua facção, Hu lutou uma batalha mais difícil e longa do que seus antecessores para conquistar o apoio dos militares e ele obteve sucesso apenas no último ano de seu mandato de 10 anos.

Desafio de Bo Xilai

Enquanto Hu Jintao assumiu o controle sobre as forças armadas em Pequim por volta de 2007, ele também “baniu” Bo Xilai, o herdeiro escolhido a dedo de Jiang Zemin, para fora de Pequim para chefiar a cidade de Chongqing, no sudoeste da China. Ao perder a esperança de entrar no Comitê Permanente do Politburo, o círculo de nove membros mais poderoso no governo da China, Bo procurou aliança com comandantes militares locais para realizar suas ambições.

Em seguida, Bo iniciou sua campanha de “cantar o vermelho e esmagar o preto”, um revivalismo da cultura vermelha ultraesquerdista e a repressão à criminalidade, clara reminiscência da Revolução Cultural de Mao. Mas esmagar o preto foi muitas vezes utilizado como uma desculpa para incriminar proprietários de negócios civis e rivais políticos e confiscar suas propriedades.

Bo também usou sua popularidade para desafiar o governo menos radical de Hu Jintao e do primeiro-ministro Wen Jiabao.

“Bo não parecia se importar se Hu Jintao estava alarmado. Ele não só continuou fanaticamente sua campanha de ‘cantar o vermelho e esmagar o preto’, prendendo mais de 600 líderes de gangues, mas também aproveitou a oportunidade para expandir a força policial”, segundo Jiang Weiping, um ex-jornalista da mídia estatal Xinhua.

“Além disso, Bo ativamente construiu relações com o comando militar de Chengdu e, secretamente, conectou-se com os chefes militares, como Zhang Haiyang, para tramar ações futuras”, disse Jiang Weiping num artigo de 24 de março no Chinesepen.org. “Isso revelou completamente a ambição de Bo de adquirir uma posição na liderança superior”, disse ele.

De acordo com o artigo, Jiang Weiping conheceu Bo Xilai durante décadas e passou seis anos na prisão por publicar histórias de corrupção de Bo e outros oficiais na imprensa de Hong Kong.

Enquanto no cargo, Bo recrutou muitos policiais de todo o país, adquiriu veículos blindados e motos italianas caras e, com grande publicidade, estabeleceu novas equipes, como a ‘Equipe Flor da Polícia’, formada por mulheres bonitas e jovens, e a ‘Equipe de Escolta de Visitas de Estado’. Bo também doou mais de 2 bilhões de yuanes (cerca de 300 milhões de dólares) para o comando militar de Chengdu.

Li Jun, um ex-desenvolvedor imobiliário bilionário de Chengdu que desertou da China em 2010, disse ao Financial Times como ele foi incriminado, preso, torturado e chantageado por Bo e seus subordinados. Li disse que seus captores lhe ordenaram pagar 40 milhões de yuanes para uma unidade militar de Chengdu antes de libertarem-no. Ele também recebeu uma lista de 20 oficiais militares e lhe foi dito para acusá-los de violarem a lei. Li disse que sentiu estar sendo usado para purgar os adversários políticos de Bo.

“Bo Xilai […] me vitimou para agradar [o chefe militar] Zhang Haiyang a fim de obter apoio militar para sua promoção durante o 18º Congresso Nacional do PCC”, disse Li ao China.dwnews.com em julho de 2011.

Em 2009, Bo promoveu seu amigo Wang Lijun, o ex-chefe de polícia e vice-prefeito de Chongqing, para liderar a polícia armada, uma tropa de 10 mil componentes.

Assim, o apoio que Bo recebeu lhe deu mais poder para enfrentar Hu.

Em 2010, Bo levou seu “Coral do Canto Vermelho” a Pequim, que foi interpretado como um desafio direto à liderança de Hu. Vários oficiais militares compareceram à performance, enquanto os membros do Politburo não apareceram.

Um desafio ainda mais ousado veio em novembro de 2011, quando Bo participou de um grande exercício militar realizado pelo comando militar de Chengdu, enquanto Hu atendia a cúpula da APEC nos Estados Unidos. Liang Guanglie, o ministro da Defesa e membro do Comitê Militar Central, e chefes militares locais também participaram do exercício.

Como as relações entre os líderes do governo local e as forças militares locais sempre foram tabu na estrutura de poder do PCC, as ações de Bo não só alarmaram Hu, mas também chocaram o mundo político da China, disse Jiang Weiping no artigo do Chinesepen, citando uma fonte de Pequim.

Muitos oficiais sentiram que Hu Jintao tinha de tomar medidas decisivas contra Bo ou então poderia haver um golpe a qualquer momento, disse uma fonte de Pequim.

O Mingjingnews.com de Hong Kong relatou em 30 de março que Bo comprou grandes quantidades de armas e munições através de Wang Lijun para estabelecer sua própria força armada.

Hu contra-ataca

As primeiras respostas de Hu à Bo foram discretas e, principalmente, através de mudanças de pessoal. Em 2009, o comissário político do comando militar de Chengdu, Zhang Haiyang, um aliado de Bo, foi substituído por um oficial de Xinjiang. Vários outros oficiais superiores foram substituídos por oficiais transferidos de outras unidades.

O contra-ataque total de Hu começou em julho de 2011, quando rumores sobre a morte de Jiang Zemin foram liberados através de imprensa de Hong Kong, disse uma fonte ao Epoch Times. “Esse foi o primeiro passo para testar os ânimos”, segundo a fonte.

A notícia da morte de Jiang, anunciada pela primeira vez pela ‘Asia Television’ em 6 de julho de 2011, causou excitação imediata, com alguns chineses até mesmo soltado fogos de artifício.

Fontes disseram ao Epoch Times que ao liberar a notícia, Hu estava testando a reação e o poder da facção de Jiang e também avaliando o estado de saúde de Jiang ao forçá-lo a fazer uma aparição pública. Foi também para testar a resposta do público e determinar se as ações contra Jiang e sua facção teriam apoio do público, disseram as fontes.

Aliança com Xi Jinping

Outro marco importante na luta de Hu foi formar uma aliança com seu sucessor Xi Jinping. Isto foi conseguido com a ajuda de Ping Song, o mentor de Hu, e Hu Deping, o filho do ex-líder chinês Hu Yaobang, segundo a revista Frontline de Hong Kong.

Hu Jintao precisava de um aliado como Xi, que é ao mesmo tempo vice-presidente do Comitê Militar Central e membro do Politburo. Xi, por outro lado, estava satisfeito em permitir que Hu e Wen removessem o causador de problemas Bo Xilai antes da transferência de poder oficial, segundo o Frontline.

Com o apoio de Xi, Hu estava pronto para fazer valer sua autoridade.

Durante uma conferência do Comitê Militar no final de dezembro de 2011, o general Liu Yuan mostrou uma foto de uma grande e luxuosa mansão pertencente a um oficial sênior numa das melhores localizações de Pequim. Liu criticou os chefes do Comitê Militar, Guo Boxiong, Xu Caihou e Liang Guanglie, dizendo, “Vocês três líderes do Comitê Militar estiveram em posições de liderança por muitos anos. Vocês são responsáveis pela corrupção desenfreada no Exército!”

As palavras de Liu causaram tumulto na plateia, mas Hu e Xi apenas escutavam sem qualquer expressão, segundo artigos da imprensa de Hong Kong.

Desde então, o Comitê Militar lançou uma série de campanhas anticorrupção, que foram interpretadas como uma ordem para mostrar lealdade a Hu. Por exemplo, Xu Caihou, o vice-presidente do Comitê Militar, pediu aos militares para “obedecerem incondicionalmente à liderança central do PCC, ao Comitê Militar Central e ao presidente Hu”. Esta foi a primeira vez que os militares colocaram o nome de Hu em tal contexto.

Outros oficiais superiores também comprometeram publicamente sua lealdade a Hu em várias ocasiões.

Em fevereiro de 2012, Gu Junshan, o dono da mansão que o general Liu Yuan criticou na conferência, foi acusado de corrupção. É dito que Gu, um ex-chefe-adjunto do Departamento Geral de Logística, é parente de Gu Kailai, a esposa de Bo Xilai.

Incidente de Wang Lijun

Em 6 de fevereiro, Wang Lijun, o capanga de Bo, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu, deixando uma pilha de arquivos secretos. Mais tarde, a mídia dos EUA revelou que os documentos incluem um complô de Bo e Zhou Yongkang, o chefe do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos, para derrubar Hu e Xi.

O incidente de Wang Lijun tornou-se o ponto crítico. Na semana seguinte, Bo visitou uma unidade militar na província de Yunnan, que seu pai costumava comandar. Este movimento foi visto como outro desafio à liderança central.

Em 17 de fevereiro, o Comitê Militar Central implantou uma unidade de 1.500 membros da polícia armada em Chongqing, supostamente para evitar que a polícia armada de Chongqing se rebelasse. Rumores contam que outras unidades militares, totalizando mais de 10 mil, foram enviadas para Chongqing.

Em março, Zhu Heping, o comandante da guarnição de Chongqing, que estava profundamente conectado com Bo, foi investigado.

Em abril, o Comitê Militar Central criou um grupo de auditoria para examinar projetos de aquisição, construção e renda imobiliária nas forças armadas, um movimento interpretado como um aviso aos oficiais militares que qualquer deslealdade poderia ser punida com uma investigação de corrupção”, disse o Financial Times.

Conclusão

Segundo analistas, Hu Jintao, sem dúvida, permanecerá como presidente do Comitê Militar depois que passar suas posições de liderança no Estado e no PCC ainda este ano.

Há muitos sinais que apoiam esta conclusão. Geralmente, antes de um importante líder se aposentar, ele faz arranjos para seu pessoal imediato e os transfere para outras posições. Mas até agora, todo o pessoal do gabinete de Hu permanece em suas posições e não têm demonstrado qualquer sinal de estarem concluindo seu trabalho atual ou de estarem mudando para outros cargos.

A carta para o Politburo, assinada por muitos chefes militares pedindo que Hu mantenha sua posição como líder militar, confirma ainda mais o completo sucesso de Hu, embora tardio, em ganhar o controle sobre as forças militares da China.

De acordo com as últimas notícias, Guo Jinlong, um aliado de Hu, foi apontado como o novo chefe do PCC em Pequim em 3 de julho.

A Reuters disse que a nomeação é o primeiro grande passo numa remodelação política antes da mudança da liderança, o que permitirá a Hu manter sua influência política após deixar o cargo.

Segundo a Reuters, “É esperado agora que Guo seja indicado a integrar o círculo de tomada de decisões do Politburo, durante a mudança da liderança no 18º Congresso Nacional do PCC ainda este ano.”