Jornada de Hu Jintao ao supremo poder militar – Parte 1

29/06/2012 05:00 Atualizado: 29/06/2012 05:00

O líder chinês Hu Jintao na sessão de encerramento do Congresso Nacional Popular em 14 de março. (Lintao Zhang/Getty Images)Numa carta ao regime central chinês no início de maio, os chefes militares maiores da China fizeram um apelo conjunto para o líder chinês Hu Jintao manter seu posto como presidente da Comissão Militar Central (CMC) depois que ele deixar seus cargos de liderança no governo e no Partido Comunista Chinês (PCC), segundo a publicação de junho da revista Cheng Ming de Hong Kong.

Se aprovado, Hu seguirá os exemplos de seus antecessores Deng Xiaoping e Jiang Zemin, pois ambos retiveram poder sobre os militares por dois anos após seus mandatos de 10 anos como presidente do PCC terem terminado.

Começo lento

Mas Hu enfrentou uma batalha mais longa e difícil do que seus antecessores para ganhar o apoio dos militares e obteve sucesso apenas no último ano de seu mandato de dez anos.

Em 2002, o 16º Congresso Nacional do PCC, quando Hu assumiu oficialmente plenos poderes para governar o país, Zhang Wannian, o aliado militar do líder chinês antecessor Jiang Zeming, e outros 22 generais surpreenderam o Congresso com uma moção especial para Jiang manter seu posto militar.

Naquela época, Hu tinha pouca influência para confrontar os chefes militares. Então, quando Zhang Wannian gritou com Hu durante o Congresso e exigiu que ele respondesse à moção, Hu disse em voz baixa, “Desde que todos concordam com a moção especial, eu não tenho nenhuma objecção.”

Nos dois anos seguintes, Hu, o líder supremo da China, viveu na sombra de Jiang e sua facção. Os internautas muitas vezes brincavam chamando-o de filho do imperador. Seu nome era sempre mencionado depois do de Jiang em comunicados oficiais e ele sempre andava atrás de Jiang em todas as ocasiões públicas; no mundo estrito da propaganda comunista chinesa, essas eram demonstrações públicas de seu status inferior.

A situação embaraçosa de Hu foi refletida em seu primeiro diálogo oficial com o então vice-presidente Dick Cheney em 2002, pouco antes de Hu se tornar o secretário-geral do PCC. Em seu mais recente livro de memórias, Cheney disse que convidou Hu para uma reunião um-a-um. Durante a reunião, Li Zhaoxing, o ex-ministro chinês das Relações Exteriores, disparou pela porta e sentou-se entre Cheney e Hu, se recusando a deixar quando solicitado. Li, um dos aliados de Jiang, tinha sido enviado para monitorar Hu e relatar seus comentários de volta para Jiang.

Como vice-presidente da CMC, Hu estava autorizado a comissionar apenas aqueles no nível de maior-general ou inferior. Jiang tinha a palavra final sobre o comissionamento da maioria dos oficiais de nível superior até mesmo anos depois que ele deixou o cargo de presidente da CMC.

A influência de Hu entre os militares se manteve baixa. Ao ponto de alguns soldados se recusarem a obedecerem às ordens de Hu e do primeiro-ministro Wen Jiabao para se juntarem aos esforços de regate após o terremoto de Sichuan de 2008, que matou 70 mil pessoas.

Não há paz

A postura submissa de Hu não lhe granjeia tranquilidade. Jiang preparou um sucessor para Hu assim que Hu assumiu seu posto de liderança do Estado, assim como Deng Xiaoping havia estabelecido Hu como sucessor de Jiang. Chen Liangyu, o ex-prefeito de Shanghai e membro do Politburo, uma das figuras principais da facção de Jiang em Shanghai, era o herdeiro escolhido por Jiang.

Chen dificilmente se preocupou em esconder sua ambição e muitas vezes desmentia Hu publicamente. Em muitas ocasiões, Chen expressou seu desafio a Hu e o chamou de um estudioso frágil que não podia arcar com suas responsabilidades. Chen também rejeitou as políticas econômicas de Hu e Wen e declarou publicamente que elas não se adequavam a Shanghai.

Boatos, ou vazamentos, até mesmo sugeriram que Jiang planejou assassinar Hu um ano antes do 17º Congresso Nacional do PCC, possivelmente na ânsia de ter seu próprio homem no controle do país.

Segundo a revista Trend de Hong Kong, Hu fez uma visita não divulgada a uma base da Marinha em Qingdao, na costa leste da China. Quando revistava a frota de um destroier de mísseis guiados no Mar Amarelo, dois navios de repente dispararam contra o destroier matando cinco soldados. Hu escapou ileso e rapidamente voou para a província sudeste de Yunnan, onde permaneceu por uma semana antes de retornar a Pequim, disse a Trend.

Hu logo retaliou. Apenas quatro meses depois, Chen foi detido por acusações de corrupção e, posteriormente, condenado a 18 anos de prisão.

Em agosto, dois meses após a tentativa frustrada de assassinato, Zhang Dingfa, o então comandante da Marinha, foi dispensado. Quando Zhang morreu em dezembro do mesmo ano, exceto por um breve anúncio num jornal da Marinha, não houve grande cobertura da mídia sobre sua morte.

Assumindo o controle

Analistas políticos chineses veem a aparente tentativa de assassinato como um ponto de virada para Hu, que então tomou medidas decisivas para fortalecer seu controle sobre os militares.

Ele começou a partir de seu território imediato, Pequim. Em dezembro de 2006, Hu substituiu tanto o comandante quanto o comissário político (chefe do PCC local) da Guarnição de Beijing com oficiais promovidos diretamente de unidades militares locais. No ano seguinte, Hu comissionou Fang Fenghui, homem de seu confiança, como chefe do Comando Militar de Pequim, para o qual a guarnição reporta.

Mais tarde, em 2007, Hu aproveitou o 17º Congresso Nacional do PCC como uma oportunidade para forçar a saída de You Xigui, um aliado de Jiang Zemin que foi chefe do Gabinete Central de Segurança, que é responsável pela segurança dos dirigentes seniores do PCC. O sucessor de You foi o relativamente neutro Cao Qing.

No mesmo ano, Ling Jihua, o braço direito de Hu, tornou-se chefe do Gabinete Geral do PCC e, assim, obteve autoridade para expedir o Gabinete Central de Segurança.

Desde então, Hu assumiu completamente o controle das forças militares de Pequim, que era o ponto de partida para sua eventual vingança. Isso não só sinaliza sua posição sólida, mas também ajudou na luta de poder contra membros da oposição no PCC.

Na quarta sessão plenária do 17º Congresso Nacional do PCC em 2009, Fang Fenghui se opôs abertamente ao plano delineado pela facção de Jiang. Oprimido pelo controle militar de Fang, a congresso teve de transigir e não tomar qualquer decisão partidária.

No ano seguinte, Fang foi promovido a general e Hu pessoalmente entregou o certificado comissionado a Fang e a outros 10 novos generais que ele aprovou.