O jogo final no arrastado drama da Síria está próximo. Poucos observadores da Síria agora questionam que o regime de Assad esteja condenado; eles apenas questionam quantos dias ou meses lhe restam. Mas, independente do cronograma, o que é mais importante são as consequências e as ondulações que enviarão por toda a política regional e internacional.
Aron Lund, um jornalista freelance baseado na Suécia e autor de “O Sonho de Damasco”, um relato da história política da família Assad e do Partido Baath, diz que este é o começo do fim já que o regime de Assad perdeu o controle de partes das áreas curdas e de certas regiões pobres e que o interior do país dominado por sunitas nas regiões orientais provavelmente será o próximo.
Até agora, o regime tem mostrado resiliência, mas o mês passado mostrou mudanças rápidas, aponta Lund. O exército da oposição lançou uma grande ofensiva em Damasco, matando várias figuras importantes do regime, e o brigadeiro-general Manaf Tlass, um confidente do presidente Assad, desertou.
Ainda assim, é difícil prever como e quando tudo acabará. “Muito depende das aparências”, diz ele. “Se as pessoas acreditarem que o regime cairá, eles estão mais propensos a tomarem as ruas, então, poderemos ver um efeito bola de neve, mas o oposto também é verdadeiro. Este é um regime que pode muito bem lutar por um bom tempo, mas também pode cair muito rápido.”
Os principais grupos que lutam contra o regime agora são dependentes do apoio ocidental. Os Estados Unidos, a França e seus aliados regionais, como a Arábia Saudita, Qatar e Turquia, todos têm interesse na oposição e gostariam de ver certos grupos assumirem, diz Lund.
Isso não é necessariamente uma aliança ideologicamente compatível. Ninguém espera, por exemplo, que a Síria inverta sua política completa e imediatamente com Israel, mas isso pode não ser tão importante agora, afirma Lund.
Ele aponta para a Líbia como um exemplo, onde os rebeldes islâmicos, apoiados pela França e pelos Estados Unidos, derrubaram Muammar Gaddafi e como isso serviu para melhorar a percepção ocidental a respeito os líbios e, consequentemente, a relação da Líbia com o Ocidente.
“Agora, esta é uma aliança bastante oportunista por parte do Ocidente, mas isso também vale para os rebeldes. Tudo pode mudar mais tarde, dependendo de que grupos terão contínuo apoio do Ocidente”, disse ele.
Muitos sírios comuns se preocupam com a relação do país com os governos ocidentais, pensa Lund.
“A política da Síria é permeada por um forte nacionalismo sírio e árabe. O governo explora isso em sua propaganda, em que acusa os rebeldes de serem agentes estrangeiros. Há, certamente, muita discussão entre os sírios e, provavelmente, uma grande preocupação em alguns setores”, disse ele.
Por outro lado, com o aumento da violência, os sírios agora estão mais abertamente pedindo a intervenção ocidental, algo inédito há um ano, acrescentou ele.
As dinâmicas locais da região serão afetadas, mas, novamente, é difícil saber exatamente como isso se desenvolverá.
Um fator fundamental na área é a relação entre o Irã, Israel e Líbano. A Síria árabe, secular e nacionalista e a teocracia persa do Irã formam um estranho par, mas forjaram uma relação muito forte em torno de seus inimigos comuns: os Estados Unidos e Israel. Sem um aliado na Síria, a capacidade do Irã de influenciar a região está bastante enfraquecida, diz Lund.
Israel, por outro lado, está numa posição precária. Ele teme tanto um governo islamita na Síria, que pode ser forte aliado do Hamas, como uma desestabilização geral que possa perturbar a paz.
O Hezbollah libanês apoiado pelo Irã ou outros grupos pode decidir agir contra Israel ou alguma facção remanescente dentro do regime sírio pode se tornar desesperada e ameaçar Israel.
Anteriormente, Israel e Síria se moveram um contra o outro indiretamente, muitas vezes através do Líbano, mas “se e quando o regime de Assad cair, todas as apostas estão fora”, disse Lund.
Numa escala geopolítica global, uma mudança na Síria também poderia gerar consequências de longo alcance.
Numa análise desta semana para a empresa Stratfor de inteligência global, George Friedman diz que a queda do regime de Assad verá os Estados Unidos aparecem no topo de várias maneiras: o Irã será enfraquecido e, assim, a área pode desenvolver um equilíbrio de poder que não exigirá a intervenção norte-americana constante, pois a Turquia começará a equilibrar melhor a influência do Irã.
Isto, por sua vez, liberará Washington para se concentrar em questões globais, incluindo a China e a Rússia. Pequim e Moscou preferem ver os Estados Unidos atolados em outra intervenção onerosa.
Além disso, se Assad cair sem a intervenção ocidental, Friedman argumenta que isso criará um precedente positivo para a não-intervenção, que seria bem-vindo ao Pentágono e à OTAN.