Soldados iraquianos abandonaram suas armas e fugiram da cidade de Mosul, no norte do Iraque, nesta terça-feira (10). A fuga ocorreu depois que a área foi dominada por terroristas que libertaram centenas de prisioneiros e ocuparam bases militares, postos de segurança, redes de televisão, bancos, o aeroporto e a sede do governo local.
Os militantes sunitas que expulsaram os soldados são ligados ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), grupo que foi renegado até mesmo pela Al Qaeda. Horas depois de as forças do governo fugirem de Mosul, o primeiro-ministro Nouri al Maliki declarou um “estado de máximo alerta” em todo o país, sem indicar se estava em curso uma mobilização para retomar a cidade, que fica cerca de 350 quilômetros ao norte de Bagdá.
Também pediu ajuda a governos aliados, sem mencionar especificamente os Estados Unidos. As tropas americanas deixaram o país no final de 2011, depois de oito anos de ocupação. Desde então, o governo de liderança xiita tem enfrentado dificuldades para conter os militantes sunitas.
Com 1,8 milhão de habitantes, Mosul é um importante centro da indústria do petróleo no país e foi a última grande área urbana a ser pacificada pelas tropas americanas. A tensão na região ameaça se espalhar para a adjacente região autônoma curda, no norte do Iraque, que tem sua própria força armada.
Osama al-Nujaifi, presidente do Parlamento, pediu às autoridades do Curdistão que enviem reforços para enfrentar os sunitas. “O que aconteceu é um desastre sem precedentes. A presença destes grupos terroristas nesta vasta província não ameaça apenas a segurança e a unidade do Iraque, mas de todo o Oriente Médio”, afirmou al-Nujaifi, que também é irmão do governador de Nineveh, onde fica Mosul.
O EIIL vinha controlando informalmente a maior parte da província de Nineveh, impondo taxas sobre a circulação de mercadorias e exigindo dinheiro para proteção de autoridades. Na última quinta-feira (5), a ameaça de um ataque ficou mais evidente depois que grupos identificados como comandos do EIIL ocuparam a cidade de Samarra durante doze horas, antes de abandonar o município.
Outras cidades no oeste e norte do país foram atacadas e, na manhã de sexta (6), a parte oeste de Mosul foi invadida. O governador Atheel Nujaifi fez um apelo na TV na noite de segunda-feira (9), pedindo aos moradores que formassem comitês de autodefesa. Mas ele mesmo acabou fugindo no mesmo dia.
Segundo a rede BBC, 150 mil pessoas fugiram na sequência, carregando seus pertences em sacolas ou carrinhos de mão. “Toda Mosul ruiu hoje. Fugimos de nossas casas e bairro e estamos buscando a misericórdia divina. Estamos esperando morrer”, disse o dentista Mahmoud Al Taie. “Mosul agora está um inferno. A cidade está em chamas e a morte está por toda parte”, disse Amina Ibrahim.
Moradores que ficaram na cidade disseram à rede CNN que os sistemas de energia e abastecimento de água foram interrompidos. Os terroristas estão cobrando dinheiro para proteger quem ficou.
Considerada pelos Estados Unidos o último reduto da Al Qaeda no Iraque e porta de entrada para jihadistas no país, a agora controlada Mosul é mais uma comprovação da determinação dos terroristas do EIIL em criar um Estado islâmico na fronteira entre Iraque e Síria, onde o grupo terrorista tenta derrubar o ditador Bashar Assad, aliado do xiita Irã. Acredita-se que o grupo de radicais se dividiu e está seguindo para a província de Salaheddin, localizada ao sul de Nineveh e onde as autoridades iraquianas montaram acampamentos recentemente.