Primeira mulher negra a se tornar juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, há 20 anos, Ivone Ferreira Caetano, de 69 anos, titular da 1ª Vara da Infância da Juventude e do Idoso, agora é também a primeira desembargadora negra do Estado.
Nesta segunda-feira (26), ela tomou posse na nova função. “É um caminho comum para quem entra na magistratura. Só não acho comum que se dê tanta pontuação ao fato de ser uma mulher com características físicas diferentes. Isso eu acho grave. Há muito tempo que isso já deveria ter acontecido normalmente. Esse interesse é que é desagradável, tendo em vista que a minha raça há tantos anos vem sendo sacrificada. Em compensação, acho que pode ser um exemplo para que aqueles que estão chegando vejam que eles também podem”, comentou a magistrada antes da posse.
A juíza, que teve infância pobre e só conseguiu ingressar na escola de magistratura em 1994, aos 49 anos, é a segunda mulher negra do Brasil a ocupar o cargo. O magistrado Gilberto Fernandes foi o primeiro negro a tornar-se desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em 1988.
Filha de uma lavadeira que criou sozinha os 11 filhos, Ivone Caetano tem uma história de luta pela sobrevivência e contra o preconceito. Estudou em colégio público e em algumas escolas particulares e, aos 18 anos, foi trabalhar como digitadora do IBGE. Para ajudar a família, chegou a acumular três empregos ao mesmo tempo. A oportunidade de cursar a faculdade de Direito veio aos 25 anos, depois do casamento. Só com a ajuda do marido pôde parar de trabalhar e dedicar-se aos estudos. Ela foi magistrada a determinar a internação compulsória de menores usuários de crack que vivem nas ruas da cidade. E, em 2012, determinou a primeira internação compulsória de um adulto usuário de crack no Rio de Janeiro: uma mulher de 22 anos, grávida de oito meses.