Itália, próxima recipiente de resgate?

27/06/2012 13:00 Atualizado: 27/06/2012 13:00

O primeiro-ministro italiano Mario Monti e a chanceler alemã Angela Merkel respondem a perguntas no final de sua reunião na semana passada em Roma. Os líderes da Alemanha, Itália, Espanha e França reuniram-se na capital da Itália para formar um consenso sobre o tratamento da crise financeira da Europa antes da cúpula da União Europeia em 28 e 29 de junho. (Franco Origlia/Getty Images)Será que a Itália será o próximo país da zona do euro em apuros a pedir um resgate? Após uma série de pacotes já distribuídos à Grécia, Irlanda, Portugal e, mais recentemente, 100 bilhões de euros à Espanha (125 bilhões de dólares), a lista de candidatos está ficando maior e maior. Na segunda-feira, o Chipre tornou-se o quinto membro da zona do euro a solicitar fundos de resgate.

A Itália tem todos os indicadores financeiros para ser o próximo país a ter problemas com sua dívida pública. Desde ontem, ela já carrega uma dívida pública impressionante de 2 trilhões de euros, a segunda maior na zona do euro, apenas atrás da Alemanha.

No entanto, a grande diferença com a Alemanha é que a economia italiana está estagnada na última década e seu PIB é declinante pelo terceiro trimestre consecutivo. Sua produção industrial declinou 9,2% ao longo do ano. Muitos analistas preveem também que há a possibilidade de uma bolha imobiliária estourar, semelhante à Espanha, já que as vendas de habitação na Itália têm caído 20% ao longo do ano.

O único fator positivo que separa a Itália de outros países atrasados como a Espanha e a Grécia é que ela tem tido algum sucesso na implementação de medidas de austeridade. Esta é uma das razões pelas quais o rendimento dos títulos de 10 anos da Itália seja de “apenas” 5,78%, o que mostra que os investidores ainda têm alguma confiança na Itália. A taxa de desemprego na Itália é de 10,2%, que é inferior à média da zona do euro de 11%.

O sistema bancário italiano parecia ser mais estável do que a Espanha, até a semana passada, quando o banco mais antigo do mundo e o terceiro maior banco da Itália, o ‘Banca Monte dei Paschi di Siena’, requereu ajuda do Estado.

O primeiro-ministro italiano Mario Monti, liderando um governo de tecnocratas, tem sido bem sucedido na implementação de medidas de austeridade desde novembro passado, quando assumiu o cargo após a renúncia de Silvio Berlusconi.

Como resultado da eficácia no corte de gastos públicos, aumento dos impostos e imposição de disciplina rigorosa, ele tem, ao mesmo tempo, tornado-se impopular entre o povo italiano, que ganhou uma reputação de viver relaxadamente e além de seus meios pela última década.

Depois de introduzir um imposto maior sobre a propriedade, ainda há muita resistência das pessoas para pagá-lo. “Eu não paguei”, disse Di Pardo, um advogado de Milão, à Bloomberg, referindo-se a imposição, que era a peça central do orçamento de austeridade de Monti. “Compreendo que estamos à beira do fracasso e do desastre, mas você não pode continuar a tomar das pessoas comuns.”

“Não é um valor enorme [o novo imposto da propriedade]”, disse Dario Castiglia, diretor executivo da corretora de imóveis da RE/MAX Itália, com cerca de 200 escritórios na Itália. “É apenas que os italianos estavam acostumados a não ter qualquer imposto por três anos e isso ocorre quando estamos no meio de talvez uma das piores recessões das últimas décadas.”

No momento, as taxas estão ajustadas para 0,4% do valor da primeira propriedade e 0,76% da segunda. Assim, o imposto anual de um imóvel no valor de meio milhão seria de cerca de 2.000 euros (2.500 dólares).

Pode-se argumentar que este tipo de mentalidade é exatamente a razão pela existência de corrupção em países como Itália, Grécia ou Espanha. Infelizmente, as medidas de austeridade não são o único ingrediente para superar esta crise financeira.

A Itália carece desesperadamente de estímulo econômico para o crescimento. Para resolver isso, na semana passada, o líder italiano se reuniu com a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente francês François Hollande e o primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy. O objetivo da reunião era tratar do futuro da moeda do euro e encontrar maneiras de evitar mais caos econômico.

Como parte das negociações, os líderes concordaram em pressionar seus parceiros da zona do euro a apoiarem um pacote de crescimento de 130 bilhões de euros (162,5 bilhões de dólares), mas não conseguiram chegar a um consenso sobre se o bloco deve emitir eurobônus comuns.

“Para sair em boa forma da crise da zona do euro e da economia europeia, integração ainda maior é necessária”, disse Mario Monti. Se os líderes não conseguirem resolver os problemas rapidamente, “a opinião pública, mas também os governos e o parlamento […] voltar-se-ão contra uma integração maior”, acrescentou ele.

Mario Monti é um forte defensor do eurobônus e da consolidação da dívida da Europa num único pacote. Ele enfrenta maior resistência da Alemanha, que prefere rígidas medidas de austeridade e não favorece os títulos comuns, pois significaria que o dinheiro dos contribuintes alemães fluiria diretamente para os países atrasados e Angela Merkel teria de enfrentar forte oposição do povo e dos bancos na Alemanha.

No entanto, mesmo Merkel tem começado a afrouxar lentamente sua posição sobre rejeitar pacotes de crescimento. “Nós dizemos que o crescimento e finanças sólidas são os dois lados de uma moeda. Finanças sólidas não são suficientes”, disse Merkel.