Os iraquianos escolhem nesta quarta-feira (30) um novo Parlamento, nas primeiras eleições legislativas desde a saída, no fim de 2011, das tropas norte-americanas do país, abalado por atentados diários e ameaçado por nova guerra.
O primeiro-ministro xiita, Nuri Al Maliki, candidato a um terceiro mandato, é considerado favorito, apesar das múltiplas críticas de que é alvo e da rejeição dos iraquianos cansados do desemprego, da corrupção, da falta de serviços públicos básicos, da paralisia das instituições, devido à crise política e à insegurança.
A campanha eleitoral, que terminou ontem (28) à noite, foi marcada por vários ataques sangrentos contra assembleias de voto ou comícios.
A votação antecipada das forças de segurança iraquianas ficou marcada, nesta segunda-feira, por uma série de dez atentados, que causaram pelo menos 27 mortes e deixaram dezenas de feridos. Nenhum ataque foi reivindicado e as autoridades mantiveram-se, até o momento, em silêncio.
Esta manhã, pelo menos dez pessoas foram mortas em um duplo atentado contra um mercado no Leste do Iraque, causando temor em relação à jornada eleitoral.
Cerca de 600 soldados foram mortos desde janeiro passado e ninguém consegue conter a violência, que já deixou cerca de 3 mil mortos desde o início do ano. As autoridades decretaram cinco feriados – entre domingo passado e quinta-feira – para tentar garantir maior segurança no pleito, para o qual estão recenseados mais de 20 milhões de eleitores.
Mais de 9 mil candidatos disputam 328 lugares no Parlamento, mas o favorito Al Maliki não tem um verdadeiro adversário. A oposição está completamente dividida, apesar das acusações de corrupção e de ser considerado um ditador, especialmente pela minoria sunita, que alega ser marginalizada.
A espiral de violência colocou a insegurança no centro do debate. Algumas áreas do país, nas mãos de rebeldes radicais, não deverão conseguir votar.
Al Maliki e o seu partido, a Aliança para o Estado de Direito, basearam a campanha na necessidade de união com o governo para pôr fim ao banho de sangue.
O primeiro-ministro xiita está “usando a crise de segurança para desviar o debate sobre a insatisfação da população com o governo”, explicou Michael Knights, do Instituto Washington para a Política no Médio Oriente.
Em 2010, Al Maliki só tomou posse oito meses após as eleições e depois de difíceis e longas negociações entre grupos políticos. Esse cenário poderá voltar a ocorrer, principalmente com a multiplicação de pequenos partidos com alianças religiosas ou tribais, um “fator maior de divisão”, lamentou recentemente a Organização das Nações Unidas ()NU).
A violência também é alimentada pela guerra na vizinha Síria, onde há três anos se enfrentam rebeldes e as forças do regime de Bashar Al Assad.
Muitos iraquianos juntaram-se ao combate, ao lado do regime no caso dos xiitas, enquanto a minoria sunita integrou as fileiras da rebelião, e o conflito ultrapassou as fronteiras sírias.
Em Falluja, a 60 quilômetros a oeste de Bagdá, e em algumas áreas da cidade de Ramadi, na província de Al Anbar, os combates entre xiitas e sunitas levaram mais de 400 mil pessoas a fugir, no maior êxodo populacional no Iraque desde as violências registradas há sete anos, de acordo com a ONU.
Único elemento positivo da situação é o aumento da produção de petróleo. Mas, até essa boa notícia alimenta a revolta dos eleitores, que não veem qualquer impacto no mercado de trabalho do aumento das exportações, mas veem os rendimentos da exploração petrolífera sendo desviados por corrupção maciça.
Ontem foi antecipada a votação de 800 mil membros das forças de segurança, de doentes hospitalizados, pessoal médico, presos, guardas prisionais e de iraquianos residentes em 19 países.
Esse conteúdo foi originalmente publicado no Portal EBC