Quando as tropas norte americanas e da coalizão se retiraram do Iraque em dezembro de 2011, em meio a um caos de destruição e mortes, ainda havia esperança de grande parte dos iraquianos de que o país poderia retomar seu cotidiano com segurança e crescimento, agora com a promessa de apoio de um novo e importante aliado, os Estados Unidos da América. Porém, o que se vê atualmente, é uma guerra civil sem precedentes entre um governo fraco, apoiado pelos EUA, contando com mal equipadas e mal treinadas forças de segurança iraquianas contra um crescente número de grupos extremistas inspirados na Al Qaeda, que desejam, a séculos, estabelecer um estado islâmico naquela região e lutam com a vida para atingir este objetivo.
Um destes grupos, o maior e mais ativo na atualidade, é o Exército Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) que tomou as cidades de Tikrit, terra natal de Saddam Hussein, Mosul, a segunda maior metrópole do país e Baiji, que abriga a maior refinaria de petróleo. Além da tomada de pontos estratégicos, as ações do grupo são de extrema violência e incluem atentados a bomba, sequestros, estupros e execuções sumárias contra autoridades e população local. Outro grupo radical emergente é o ISIS, de natureza sunita assim como o EIIL, mas com integrantes e simpatizantes de diversas nacionalidades, inclusive europeus e brasileiros.
Neste cenário, contrariamente ao que muitos analistas acreditavam, o terrorismo ressurge com mais ímpeto e força, certamente com apoio bélico e financeiro de países próximos, como manda a tradição histórica destes movimentos. Seus combatentes, mais experientes em conflitos assimétricos do que na década passada, conhecida como a década do terror, são sobreviventes de oito anos de ocupação estadunidense, ex-integrantes da Guarda Republicana, uma força de elite, somados a outros militantes com vivências múltiplas adquiridas no conflito da Síria, onde atuam com extremo profissionalismo.
Lamentavelmente, após tanta retórica discursiva norte americana de pacificação e segurança, a verdade é que o Iraque está sozinho, deixado como diz um ditado popular, “aos leões”. Sem um apoio militar permanente, não terá condições de debelar o avanço dos radicais que podem estar próximos de seu objetivo maior. Minha percepção é de que o único motivo que não os torna ainda mais fortes são as divergências ideológicas entre as diferentes lideranças, pois do contrário, estariam prontos novamente para perpetuar ataques em qualquer alvo no planeta.
De qualquer maneira, o cenário demonstra claramente que as forças militares dos EUA e da coalizão não conseguiram vencer os insurgentes, apenas controlar suas ações enquanto permaneceram no país. O mesmo fenômeno se deu no Afeganistão e Paquistão e promete repetir-se no Iêmem e na Somália. Pode-se afirmar, também, que a situação tende a se deteriorar e o sentimento anti-americano, especialmente com o uso de VANT armados em alvos terrestres, cresce e se multiplica.
André Luís Woloszyn é analista de assuntos estratégicos, consultor de agências e órgãos internacionais em matéria de conflitos de média e baixa intensidade, especialista em Ciências Penais e mestrando em Direito