Os resultados das eleições presidenciais do Irã em 14 de junho, anunciados no dia seguinte à votação, foram nada menos que um terremoto político.
A vitória do centrista Hassan Rowhani era improvável quando o corpo avaliador do Irã, o Conselho Tutelar, qualificou-o como um dos oito candidatos em 21 de maio. Além disso, uma vitória no primeiro turno por qualquer candidato numa competição lotada não foi prevista por qualquer sondagem pré-eleitoral.
Até algumas semanas atrás, a sabedoria convencional considerava que apenas um candidato conservador ungido pelo aiatolá Ali Khamenei poderia ganhar. Poucos esperavam a vitória de um autoidentificado independente e moderado que não era bem conhecido fora de Teerã e muito menos se esperava 73% de participação do eleitorado. A margem prevista era de cerca de 60-65% em favor de candidatos conservadores que se beneficiam de uma base estável e que sempre vota.
Mas o movimento poucos dias antes da eleição de reformistas e centristas – orientado por dois ex-presidentes, Mohammad Khatami e Akbar Hashemi Rafsanjani – para unir forças e se alinhar atrás do centrista Rowhani foi bem sucedido. Ele promete mudanças significativas na gestão, nas camadas superiores de vários ministérios do Irã e em secretarias provinciais. Rowhani também prometeu uma mudança em direção a uma política externa mais conciliadora e um ambiente político interno menos securitizado.
A aliança centro-reformista formou-se numa ação calculada quando o candidato reformista Mohammadreza Aref retirou sua candidatura em favor de Rowhani. Mas o forte apoio para Rowhani, que sustentou sua vitória no primeiro turno, veio de um aumento inesperado no número de eleitores.
Grande parte do eleitorado, decepcionado com a contestada eleição de 2009 e a repressão que se seguiu no Irã, tornou-se cético em relação ao processo eleitoral e sobre o valor de seus votos. Eles também questionavam se qualquer funcionário eleito poderia mudar a direção do país.
Embora a baixa afluência às urnas fosse esperada, com a aliança centro-reformista o clima do país mudou, propiciando debates sérios sobre votar ou não. Quanto mais pessoas se convenciam, as chances de Rowhani aumentavam. A esperança venceu o ceticismo e o cinismo.
Vitória reformista
O argumento central apoiando a votação era que a instituição democrática mais importante da República Islâmica – o processo eleitoral – não deveria ser abandonado por medo de que seria manipulado por instituições não-eletivas e que abandonar a participação era equivalente à rendição prematura.
Editoriais de jornais reformistas também articularam o temor de que uma continuação das atuais políticas do Irã poderia levar o país à guerra e instabilidade. A Síria, em particular, desempenhou um papel importante, pois o público iraniano assistiu aos protestos pacíficos por mudança se transformarem numa violenta guerra civil. A esperança de que o sistema eleitoral iraniano ainda pode ser usado para registrar um desejo de mudança foi uma motivação importante para os eleitores.
Além da escolha do presidente do Irã, a conduta dessa eleição deve ser considerada uma afirmação de uma instituição-chave da República Islâmica, que foi contaminada quando os resultados de 2009 foram questionados por uma grande parte do público votante. Essa eleição atual foi realizada de forma pacífica e sem qualquer queixa séria sobre seu processo.
Outros vencedores individuais desta eleição, além de Rowhani, são, sem dúvida, os ex-presidentes Hashemi Rafsanjani e Khatami, que provaram que podem liderar e convencer seus apoiadores a votar no seu candidato preferido. Khatami, em particular, teve de reunir reformadores atrás de um candidato centrista que, até essa eleição, havia dito pouco sobre muitas preocupações reformistas, incluindo a prisão de seus principais líderes, Mir Hossein Mousavi, sua esposa Zahra Rahnavard e Mehdi Karrubi.
A tarefa de Khatami foi facilitada quando Rowhani também começou a criticar o ambiente securitizado dos últimos anos e as prisões de jornalistas, ativistas da sociedade civil e até mesmo de ex-funcionários do governo. Enquanto isso, Hashemi Rafsanjani, cuja própria candidatura foi rejeitada pelo Conselho Tutelar, viu seu pedido de moderação e reconciliação política confirmado pela vitória de Rowhani. Ele sentiu que, apesar dos enormes problemas econômicos do país, causados pela má gestão e pelas fortes sanções lideradas pelos EUA e impostas ao Irã, os eleitores entenderam a importância da mudança política para a recuperação econômica.
Rowhani, como candidato centrista em aliança com reformistas, ainda será um presidente que terá de negociar com um parlamento conservador controlado, o Conselho Tutelar e outras instituições-chave como o Judiciário, várias organizações de segurança e o escritório de Khamenei, que continua a ser controlado por conservadores. Mas os eleitores do Irã mostraram que ainda acreditam que o gabinete presidencial tem importância e esperam que o presidente desempenhe um papel vital na condução do país numa direção diferente.
Farideh Farhi é colaborador da Foreign Policy In Focus, www.fpif.org. Este artigo foi publicado originalmente no Inter Press Service.
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