Irá o líder do Partido na China Ocidental tornar-se um senhor da guerra?

28/03/2012 03:00 Atualizado: 28/03/2012 03:00

Bo Xilai, secretário do Comitê Municipal do Partido Comunista Chinês em Chongqing, em março de 2011. (Feng Li/Getty Images)Avanço de Bo Xilai está barrado, mas ele possui recursos à mão

Os vínculos entre Bo Xilai, líder do Partido na megalópole chinesa de Chongqing, e seu antigo braço-direito, Wang Lijun, foram rompidos após Bo destituir Wang do cargo de chefe de polícia em 2 de fevereiro.

Quatro dias depois, temendo que Bo o assassinasse para evitar que informações acarretassem numa possível investigação sobre a corrupção na região, Wang fugiu para o consulado norte-americano em Chengdu.

O porta-voz do regime chinês, a agência Xinhua, confirmou em 9 de fevereiro que Wang passou um dia (6 de fevereiro) no consulado norte-americano em Chengdu, e que agências relacionadas estariam atualmente investigando o caso.

As afirmações do Xinhua mostram que Wang não é mais um “camarada”, mas sua ação de ir ao consulado tampouco foi encarada como traição. Sua vida parece estar salva, mas seu futuro político está definitivamente sepultado.

O destino de Bo Xilai é muito mais complexo.

A mídia estatal chinesa disse que Bo visitou a província de Yunnan entre 8 e 9 de fevereiro e se encontrou com o primeiro-ministro canadense na noite de 11 de fevereiro.

Circulam rumores de que Bo pedira desculpas aos nove membros do Comitê Permanente do Politburo chinês, afirmando que nunca deveria ter usado alguém como Wang Lijun; que ele negava acusações de corrupção, mas estava disposto a cooperar numa investigação de suas finanças e de sua família.

Alguns dizem que essa questão logo estará acabada, pois o caso todo seria esquecido caso o regime o deixe de lado por alguns anos.

Outros acreditam que Bo ainda pode entrar no Comitê Permanente do Gabinete Político durante o 18º Congresso Popular, dando o ar de que nada aconteceu.

No entanto, isso é definitivamente impossível, uma vez que pelo menos cinco forças querem se livrar de Bo.

Cinco forças contra Bo

Primeiro, os que iniciaram esse incidente não desistirão. Entre estes está He Guoqiang, membro do Comitê Permanente do Gabinete Político; e Qiao Shi, secretário da Comissão Central de Inspeção Disciplinar, ambos planejam vingança há 15 anos contra Bo Yibo, pai de Bo Xilai, e Jiang Zemin. O filho de Peng Zhen, ex-membro do Congresso Popular, que quer compensar a prisão de seu subordinado Li Zhuang, etc. O objetivo de todos os citados é acabar com Bo.

Segundo, a comunidade internacional não ficará em silêncio, pois Wang diz que entregou materiais no consulado norte-americano, e organizações de direitos humanos estão reivindicando a publicação do que foi revelado sobre a retirada de órgãos de aderentes ainda vivos do Falun Gong, um grupo espiritual suprimido pelo regime. Devido à pressão, o governo norte-americano certamente exigirá uma explicação do regime comunista.

Terceiro, devido à propagação de softwares anti-bloqueio, já é impossível o governo chinês ocultar os crimes e mentiras que rondam Bo Xilai. Nem mesmo o próprio Partido concordará em deixar no poder esse corrupto já revelado.

Quarto, a esse ponto, nem o próprio Bo Xilai quer se tornar um membro do Comitê Permanente. Como Wang dissera, Bo é invejoso e faminto por poder. Em todos os aspectos, Bo acredita ser melhor que Xi Jinping, atual vice-presidente e o mais cotado para suceder Hu Jintao; assim, Bo almeja ser o “príncipe-herdeiro” do regime chinês, e não um mero membro do Gabinete Político. Logicamente, essa posição não será ganha sem enfrentar uma resistência severa.

Quinto, naturalmente, a última força contra Bo é a combinação do presidente Hu Jintao com o primeiro-ministro Wen Jiabao.

A força de Bo

Quando Bo foi banido para o sudoeste da China, ele começou a usar a insatisfação popular com as graves disparidades sociais, lançando sua campanha “Cantando o vermelho e combatendo o preto”, ou seja, cantar canções pró-comunistas da era maoísta e lançar uma campanha anti-máfia em Chongqing. Essa foi a primeira vez na história do Partido Comunista Chinês (PCCh) que um movimento político foi lançado por um oficial local, visivelmente desprezando a autoridade do governo central.

Todos sabem que Bo sonha em ser um segundo Mao Zedong, vigorosamente construindo o culto à própria personalidade nos últimos três anos. Ele ordenou a instalação de um letreiro de neon com os dizeres, “Secretário Bo, você se esforça arduamente!”, uma clara referência às propagandas do tempo de Mao.

Ele também mudou a bel-prazer o nome, os uniformes e os equipamentos da tropa de segurança pública de Chongqing, transformando-o numa espécie de exército independente. Quando deu ordens para prender Wang, mobilizou a polícia armada como quem estivesse dando um golpe de Estado.

Além disso, Bo tem usado instalações de materiais bélicos e a base de armas nucleares nas montanhas de Chongqing para fortalecer seu poder militar. Em 1960, o PCCh começou a se preparar para uma guerra com a ex-União Soviética e para combater desastres naturais, o Partido transferiu o principal poderio militar para Chongqing, incluindo a base de armas nucleares.

É dito que Bo há muito se prepara para lutar uma guerra prolongada, e está bem confiante que terá forças para confrontar-se com o governo central assim que romper com este; caso contrário, Bo não organizaria treinamentos militares na ausência de Hu Jintao durante a reunião da APEC em 10 de novembro de 2011.

Oficiais presentes durante estes exercícios militares incluem: Liang Guanglie, membro da Comissão Central Militar, conselheiro de Estado e ministro da Defesa Nacional; Li Shiming, comandante da Região Militar de Chengdu; Tian Xiusi, comissário político; Liu Changyin, vice-comissário político; Yang Jinshan, comandante da Região Militar Tibetana; Jiang Jufeng, governador da província de Sichuan; Zhao Kezhi, governador da província de Guizhou; Huang Qifan, prefeito da cidade de Chongqing; Li Jiheng, governador interino da província de Yunnan e vice-presidente do governo da Região Autônoma do Tibete.

Quatro trunfos de Bo

De fato, há também diversas condições favoráveis para que Bo não admita seus erros a Hu e Wen. Além disso, a disputa entre estes e Bo já se tornou pública e indisfarçável, e Bo não tem o que esconder. Simplificando, Bo possui quatro trunfos para barganhar com Hu e Wen.

Primeiro, Bo possui o apoio das forças armadas no sudoeste da China, como citado anteriormente. As tropas que serviram seu pai se concentram na província de Yunnan, no extremo sul do país, província essa que fora rebaixada de “distrito militar” para “força secundária”; assim, salários foram severamente rebaixados e os oficiais dali estão insatisfeitos. Aliado à grande distância do núcleo do governo, Yunnan sempre teve a cara de um império independente.

Segundo, a condição mais favorável para Bo é o descontentamento dos líderes locais com o governo central. Desde que o primeiro-ministro Zhao Ziyang reverteu os impostos de médias e grandes empresas estatais exclusivamente para o governo central, os governos locais não conseguem satisfazer suas despesas, especialmente em regiões mais afastadas como Yunnan, Tibete e Sichuan.

As vantagens desfrutadas por muitas grandes empresas estatais são pilhadas por oficiais do governo central. Oficiais locais têm desenvolvido grande insatisfação sobre essas condições econômicas desiguais sem ter onde desabafar.

Politicamente, eles também suportam intimidação dos oficiais do governo central do PCCh. A situação é muito similar ao contexto anterior à Revolução de 1911, quando muitos oficiais locais queriam dividir a China depois de um longo período de união. Caso Bo realmente dê o chamado de convocação, muitos iriam atendê-lo.

Terceiro, sendo Bo um mestre em mentiras, ele é percebido como carismático entre parte das pessoas populares de Chongqing. Eles pensam que Bo é uma boa pessoa, um oficial correto oprimido pelos oficiais corruptos do PCCh. Enquanto Bo continuar com a atuação, muitos ainda serão enganados, e falarão em sua defesa.

Quarto, como Bo planejava há muito usurpar o poder, sem dúvida, ele colheu todo tipo de provas da corrupção da liderança do Partido, incluindo Hu e Wen, bem como de seus familiares. Enquanto Hu não tocá-lo, Bo não tornará esses materiais públicos.

Consequentemente, Bo não tem de se render ao governo central de forma alguma. Bo conhece bem a natureza cruel e sanguinária do Partido Comunista Chinês. Ele sabe bem que o Partido poderia prometer-lhe uma posição no Comitê Permanente, e, assim que chegasse a Pequim, o que o esperaria seriam algemas. Uma vez que Bo não tem base e exército para protegê-lo em Pequim, ele não ousará deixar o Sudoeste.

Em outras palavras, queira Bo ou não, ele não tem como recuar e terá de abrir o jogo e duelar com Hu e Wen.