Investigação anticorrupção visa mídia estatal Diário do Povo

08/10/2014 12:09 Atualizado: 09/10/2014 13:35

Este verão, a emissora estatal Central Chinesa de Televisão foi submetida a uma arrebatadora investigação de corrupção. Agora o Diário do Povo, outra mídia estatal porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC), é o alvo da vez da campanha anticorrupção da atual liderança chinesa. Este par de investigações parece visar Liu Yunshan, um membro do Comitê Permanente do Politburo que está no comando da mídia e da propaganda do regime.

O departamento anticorrupção da China, o Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID), afirmou em 5 de outubro que uma “inspeção especial” está em preparação para seis unidades do Diário do Povo, incluindo três filiais locais, e três jornais e empresas afiliados.

Recentemente, ocorreu uma reunião para explicar a inspeção a caminho, diz a declaração. Na reunião, uma mensagem de Wang Qishan, o chefe do CCID, foi apresentada para mostrar a preocupação das autoridades centrais sobre esta investigação. O conteúdo da inspeção inclui a “implementação de políticas e princípios do PCC”, “governo limpo”, “notícias pagas e extorsão midiática”, “aliciamento”, “envolvimento pessoal da liderança”, e assim por diante.

Uma mudança significativa da liderança ocorreu no Diário do Povo antes desta inspeção. Quatro altos executivos do Diário do Povo foram substituídos em cinco dias em abril deste ano, incluindo o presidente do jornal, o vice-presidente, o editor-chefe e vice-editor-chefe.

Na investigação da Central Chinesa de Televisão (CCTV) neste verão, cerca de 20 funcionários foram levados pelo CCID para interrogatório, incluindo o diretor do canal de finanças Guo Zhenxi e o famoso apresentador de TV Rui Chenggang. Mais de 100 pessoas foram convocadas para depor e ajudar na investigação.

O chefe de propaganda Liu Yunshan foi recentemente associado a vários escândalos de corrupção. A revista Chengming de Hong Kong disse em sua edição de outubro que Liu e sua família participaram de extensa corrupção envolvendo a exploração de minérios em Shanxi, sua província natal, e na Mongólia Interior, onde ele foi funcionário por duas décadas.

Liu também foi nomeado num caso de suborno envolvendo um programa taiwanês de TV que foi comprado pela CCTV a um preço superfaturado, segundo o Storm Media Group de Taiwan em 3 de outubro.

O relatório diz que dois produtores de cinema e TV de Taiwan subornaram o filho de Liu, então chefe do Departamento de Propaganda, e Jia Qinglin, o então presidente da Conferência Consultiva Política Popular, pela venda de 800 episódios de uma série de TV, intitulada “Uma Memória Inesquecível”, à CCTV.

Os dois taiwaneses compraram o seriado por US$ 3 mil por episódio da Formosa Television (FTV) de Taiwan, e revenderam por US$ 6 mil por episódio para a CCTV. No entanto, segundo registros da CCTV, o drama foi comprado por US$ 18 mil por episódio, diz o relatório, citando uma fonte anônima da empresa.

Não está claro para onde foi a diferença de quase US$ 10 milhões. O relatório diz que Liu Yunshan e Jia Qinglin são alvos de investigação, embora as autoridades chinesas não confirmem isso.

Liu serviu como diretor do Departamento de Propaganda do Comitê Central do PCC por mais de 10 anos (2002-2012) e continua sendo responsável pela propaganda midiática do regime devido a seu novo cargo como presidente da Comissão de Orientação Central do PCC para Construção da Civilização Espiritual.

Liu é um aliado íntimo do ex-líder chinês Jiang Zemin, que comandou a China entre 1993-2003 e manteve sua influência nos bastidores do governo por mais 10 anos até o atual líder Xi Jinping assumir o leme.

A campanha anticorrupção de Xi Jinping tem cortado as asas da facção de Jiang Zemin destituindo um grande número de funcionários que têm laços com Jiang e seu grupo de interesse, incluindo Zhou Yongkang, o ex-chefe da Segurança Pública, e Xu Caihou, o ex-vice-presidente do Comitê Militar Central.