Internet chinesa alvoroçada sobre origem dos corpos plastinados

24/08/2012 18:57 Atualizado: 29/08/2012 03:04
O professor Gunther von Hagens ao lado de um de seus corpos plastinados antes do lançamento de uma exposição, em 21 de fevereiro de 2008, em Manchester, Inglaterra. (Christopher Furlong/Getty Images)

Cobertura do Epoch Times provoca intensas discussões

A internet chinesa está movimentada com a especulação sobre a origem dos corpos usados para plastinação que têm feito turnê em exposições ao redor do mundo. A intensa discussão em microblogues, nos principais portais de notícias chineses e na imprensa do continente foi provocada por uma série de artigos publicados na edição em língua chinesa do Epoch Times.

Internautas têm lamentado sobre o que significam essas revelações para a China, mas eles e a imprensa chinesa têm evitado a dinamite política contida nas reportagens do Epoch Times.

Os artigos associaram Gu Kailai, a esposa do ex-membro do Politburo recém-deposto Bo Xilai, com o fornecimento de cadáveres de praticantes do Falun Gong para fábricas estabelecidas na cidade de Dalian para plastinação, um processo de substituição dos fluidos corporais por polímeros com a finalidade de transformar um cadáver em objeto de exposição.

A conversa na internet chinesa começou cerca de uma semana depois que o Epoch Times publicou a história em 10 de agosto (O website do Epoch Times é censurado na China e nenhuma versão impressa pode ser distribuída no continente. Versões impressas do Epoch Times em chinês e inglês são publicadas em Hong Kong) e o volume tem crescido significativamente.

Uma pesquisa por “Hagens”, o pioneiro do negócio da plastinação, no Sina Weibo, uma popular mídia social chinesa similar ao Twitter, em 16 de agosto às 10 horas, horário de Nova York, produziu mais de 218 mil resultados; uma hora depois, havia mais 17 mil mensagens.

Internautas fizeram frequentes referências a um aviso publicado no website de uma das empresas de plastinação, a Premier Exhibitions, como parte de um acordo entre a empresa e o gabinete da procuradoria do estado de Nova York em maio de 2008.

O aviso diz: “Esta mostra exibe vestígios humanos de cidadãos ou residentes chineses que foram originalmente recebidos pelo Departamento de Polícia da China. […] Em relação às partes humanas, órgãos, fetos e embriões que você está vendo, a Premier Exhibitions depende exclusivamente de representações de seus parceiros chineses e não pode verificar de forma independente se pertencem a pessoas executadas enquanto encarceradas em prisões chinesas.”

Um internauta chamado “Fangarr” se referiu a este aviso perguntando sobre o número de cadáveres ao longo dos últimos 13 anos e quantos crimes têm contribuído para estas exposições. Em seguida, Fangarr perguntou o que isso significava para a China: “Que tipo de papel nós desempenhamos? Alguém tem a coragem de pensar sobre isso?”

Um internauta chamado “Brilliant Career” disse que mulheres tiveram de ser mortas por causa das exposições. “Na China, mulheres grávidas não recebem pena de morte. Além disso, como é possível coincidir que tantas mulheres grávidas morressem na prisão? Mesmo a estrutura do feto está completa!! Isto é simplesmente assustador.”

Outro internauta escreveu: “Quando se trata de vender corpos de seu próprio povo por dinheiro, até mesmo fascistas nunca fizeram isso.”

Imagem da internet do aviso publicado no website de uma das empresas de plastinação, a Premier Exhibitions. (The Epoch Times)

Os internautas em sua maioria ficaram em silêncio sobre a origem dos corpos do Falun Gong, exceto usando gírias para se referir ao Falun Gong. “Falun Gong” e palavras afins são fortemente censuradas na internet chinesa.

Os principais portais de notícias da internet, onde a maioria dos chineses obtém notícias diárias, incluindo NetEase, Sina e Sohu, também pegaram a história, reportando principalmente sobre o burburinho recente e fazendo perguntas sobre a origem dos corpos, além de mostrar imagens sombrias de corpos humano abertos.

Uma das empresas líderes de plastinação, a Body Worlds, nunca emitiu um aviso como a Premier. Body Worlds diz em seu website que os corpos colocados em exposição são doados por “pessoas que declararam em vida que seus corpos devem ser disponibilizados após suas mortes para a qualificação de médicos e a instrução de leigos”.

Isso não impediu que internautas ou a imprensa questionassem o fundador da Body Worlds, Gunther von Hagens, sobre a origem dos corpos que ele usou para plastinação.

Na introdução de um artigo investigativo de quatro páginas de 16 de agosto, o China Finance Online perguntou, “De onde na Terra vêm os corpos usados por von Hagens? Por que Dalian autorizou isso como uma nova empresa de alta tecnologia? Que cadeia terrível de lucro e interesse está por trás dessa exposição de cadáveres?”

Em entrevistas, von Hagens fez uma distinção entre os corpos utilizados por sua empresa para exposições e pesquisa. Para esta última, ele admitiu no passado ter usado corpos chineses não reclamados, que sob a lei chinesa, a polícia está livre para dispor a seu critério.

O Epoch Times informou que a polícia chinesa pode facilmente declarar os cadáveres de prisioneiros, especialmente de praticantes do Falun Gong, como “não reclamados” e, em seguida, fornecê-los a fábricas para serem submetidos à plastinação.

O China Finance, depois de levantar a questão dos interesses por trás do negócio de corpos em Dalian, não mencionou o que o Epoch Times havia descoberto: os papéis de Gu Kailai e Bo Xilai.

Bo Xilai, enquanto chefe do Partido Comunista na cidade de Dalian e governador da província de Liaoning, expandiu amplamente as prisões e campos de trabalho na cidade de Dalian e na província de Liaoning e encheu-os de praticantes do Falun Gong que foram a Pequim protestar contra a perseguição do regime comunista chinês. Ele pessoalmente aprovou a construção da inovadora fábrica de plastinação de von Hagens em Dalian.

Gu Kailai, a esposa de Bo Xilai que trabalhava com o britânico Neil Heywood, um assessor de confiança, viu o potencial lucrativo dos praticantes presos, segundo uma fonte familiarizada com o assunto.

Depois que a perseguição ao Falun Gong começou em julho de 1999, Gu Kailai começou a fornecer praticantes do Falun Gong para colheita forçada de órgãos para ajudar a alimentar a rápida expansão da indústria de transplante chinesa, segundo a fonte, e ela também fornecia cadáveres de praticantes para as fábricas de plastinação.

Como uma empresa de mídia operando numa indústria altamente censurada que responde ao departamento de propaganda do Partido Comunista, o China Finance não poderia se aprofundar nesta história.

Heng He, um comentarista e especialista em China, diz que o povo chinês entende mais do que a imprensa pode dizer.

“A maioria das pessoas acredita que Bo Xilai e Gu Kailai são capazes de fazer tais coisas em Dalian. Muitos chineses agora percebem que isso só pode acontecer na China sob o regime comunista. Mas nenhum jornal pode imprimir isso”, diz ele.

Com pesquisa de Ariel Tian.