Rumores têm se espalhado na internet chinesa que Guo Boxiong, o ex-vice-presidente do Comitê Militar Central da China, recentemente tentou fugir do país disfarçado de mulher, apenas para ser interceptado na alfândega. A polícia colocou dois internautas sob detenção criminal e penalizou outros 37 sob a acusação de “fabricar boatos online”.
De acordo com os rumores, todos os voos de entrada e saída de Shanghai em 14 de julho foram atrasados porque as autoridades estariam caçando alguém, e para evitar que o alvo fugisse ou resistisse, o aeroporto foi bloqueado sob o pretexto de exercícios militares.
Em 20 de julho, a Xinhua, uma mídia estatal porta-voz do Partido Comunista Chinês, citou o departamento de polícia dizendo que um internauta de Pequim de sobrenome Ma e outro de Hainan de sobrenome Pei postaram mensagens semelhantes no Weibo, um serviço de mídia social na China semelhante ao Twitter. O artigo da Xinhua disse que o Departamento de Segurança Pública havia colocado Ma e Pei sob detenção criminal e emitiu multas e advertências a outros 37 internautas.
A grande fuga
Quando Xu Caihou, outro ex-vice-presidente do Comitê Militar Central, foi demitido em 30 de junho, rumores online já alegavam que o regime havia capturado outro “grande tigre” da mesma patente militar: Guo Boxiong.
Até 15 de julho, houve uma série de boatos online sobre Guo ter se disfarçado de mulher e tentado fugir do país. Uma história chamada “A Grande Fuga do General G”, detalhando a escapada de Guo, que incluía a hora e o número do voo, foi amplamente circulada na internet.
Rumores ou previsões?
Huang Jinqiu, um comentarista político sobre a China, disse à NTDTV que os chamados “rumores” são o resultado de operações políticas opacas do Partido Comunista Chinês (PCC) e da falta de liberdade de imprensa.
“Muita informação foi rotulada como rumor, mas muitas se mostraram previsões precisas”, disse Huang. “Desde o incidente da fuga de Wang Lijun para a embaixada dos EUA em Chengdu, até o caso de Bo Xilai, incluindo o assassinato de Neil Heywood pela esposa de Bo Xilai, a tentativa de golpe de Estado arquitetada por Zhou Yongkang, um após o outro, estes ‘rumores’ eventualmente se provaram verdadeiros.”
Vazamentos do alto escalão
Zhu Xinxin, ex-editor da Rádio Popular de Hebei, disse à NTDTV que uma variedade de rumores políticos estranhos tem circulado nos últimos tempos, e muitos deles foram divulgados por funcionário de alto escalão do PCC, em meio à luta de poder interna no Partido.
“A campanha anticorrupção do líder chinês Xi Jinping criou pânico entre os funcionários corruptos, daí houve muitas situações complicadas”, disse Zhu. “Isso tem causado uma série de vazamentos intencionais ou não intencionais de informações de fontes no regime. Este tipo de informação verbal pode ser distorcida”, disse Zhu.
Mais rumores
Outros rumores amplamente difundidos online são que Zeng Qinghong, um ex-membro do Politburo, está sendo investigado, que o cantor Song Zuying foi preso, que Jia Qingling foi detido na Mongólia Interior e que muitos outros funcionários corruptos estão sendo presos.
Em relação às prisões, Zhu disse que a principal razão de o PCC prender internautas sob o pretexto de reprimir os rumores é em retaliação à divulgação de suas lutas internas pelo poder, que estão sendo amplamente espalhadas entre a população.
“Os conflitos no Partido Comunista e na sociedade chinesa estão se tornando cada vez mais agudos, mas nada disso está sendo verdadeiramente relatado”, disse Zhu. “[A informação] é passada de boca em boca e assim os rumores prosperam. O objetivo de ‘suprimir os rumores’ é intimidar as pessoas, a fim de dissuadir a opinião pública.”
Controles estritos
Desde a divulgação da fuga de Guo Boxiong, o Escritório de Informação da Internet, um órgão censor do PCC, anunciou via Xinhua que 31 websites com relativamente mais dos chamados “rumores” seriam desligados e retificados.
Na verdade, este ano, as autoridades reforçaram uma série de controles sobre a expressão online. O “Grupo de Liderança de Segurança na Internet e Tecnologia da Informação”, liderado por Xi Jinping, foi formado em fevereiro. Em maio, este Grupo, o Ministério da Indústria e a Secretaria de Segurança Pública realizaram em conjunto a chamada “Campanha de Retificação Especial sobre Ferramentas de Comunicação Instantânea” em todo o país durante um mês. Na ocasião, as empresas de comunicação também afirmaram ter implantado “equipes especiais” [de funcionários-censores] dedicadas a refutar rumores.
Huang Jinqiu disse à NTDTV: “Há falta de fiscalização livre e democrática ou de liberdade de opinião pública na China. Os chamados rumores são realmente rumores? Internautas definitivamente têm sua própria visão e padrões. Se o governo não esclarece ou divulga algo, os internautas obterão informações de outras fontes e confirmaram uns com os outros, e isso se torna uma espécie de supervisão indireta da opinião pública.”
Muitos comentaristas dizem que o ano de 2013 testemunhou o controle mais severo da expressão na China. De portais da web até jornais e revistas na China, de plataformas de comunicação tradicionais até plataformas emergentes de mídia social, de blogueiros populares até celebridades e jornalistas, todos experimentaram a supressão do Partido Comunista.
De acordo com dados do PCC de janeiro passado, durante a campanha de “Limpeza da Internet” em 2013, mais de 10 mil websites ‘ilegais’ foram investigados e mais de 11 mil pessoas foram presas.