Internautas chineses reclamam sobre registo obrigatório do nome real

09/02/2012 14:01 Atualizado: 14/12/2012 14:06
Chineses navegam na internet num cibercafé na China (AFP/Getty Images)

O regime chinês está determinado a castrar a comunidade blogueira da China a partir de março, implementando um sistema de registo e controle restrito aos utilizadores de serviços do gênero Twitter, conhecidos como Weibo (palavra chinesa que significa ‘microblogue’).

Com uma mudança significativa na liderança do regime neste ano, Pequim está lutando para eliminar qualquer vulnerabilidade que exista na guerra da “estabilidade” contra os cidadãos chineses. Os microblogues, ao promovem a liberdade de expressão, são uma dessas vulnerabilidades com que eles tanto se preocupam.

As autoridades de Pequim comunicaram em 7 de fevereiro que os utilizadores de serviços de microblogue que não se registrarem com seus nomes reais até 16 de março serão banidos de publicarem nesses websites. As contas dos Weibo promovidas pelos quatro maiores servidores de internet da China (Sina, Sohu, NetEase e Tecent) estarão sujeitas às novas regras.

Escritórios do Partido Comunista serão estabelecidos junto as maiores empresas de microblogue para supervisioná-las e policiá-las. Contudo, alguns analistas preveem que as autoridades comunistas não conseguirão cumprir esse objetivo.

O poder dos Weibo

Num país em que os noticiários são modelados e censurados pelo regime, os microblogues proporcionaram ao povo chinês um meio rápido de comunicar informações e ideias. O regime chinês está paranoico com o poder dos Weibo desde o movimento pró-liberdade da Primavera Árabe no qual os microblogues desempenharam um papel decisivo.

“A razão pela qual os microblogues são encarados como uma ameaça pelo regime chinês é devido ao fato de que este modelo de mídia rompeu o sistema convencional em que o PCC controla a sociedade usando suas organizações”, disse Wen Zhao, um comentarista político baseado fora da China, ao Epoch Times.

Wen Zhao afirma que os microblogues são eficazes porque se tratam de uma tecnologia avançada e, por isso, o modo tradicional do PCC de reforçar suas organizações terá um efeito muito limitado.

As pessoas responsáveis pelo departamento ideológico e de propaganda do PCC estão muito assustadas, diz Wen Zhao. Uma vez que percam o controle no decorrer das reformas políticas, provavelmente eles serão eliminados. Muitas destas pessoas foram responsáveis por perseguições e repressões e, por isso, carregam um peso enorme.

Hu Jun, diretor da Campanha dos Direitos Humanos na China, disse à NTDTV que o sistema de registo do nome real terá um efeito muito limitado em termos de estabilidade social, porque o sistema do PCC já se encontra em seu último fôlego.

“Com o rápido desenvolvimento da internet, cada vez mais pessoas se atrevem a falar. No passado, era raro ver pessoas protestarem na rua. Agora, todos os dias, podemos vê-las protestarem por seus direitos”, diz ele.

Usuários insatisfeitos

De acordo com um artigo do United Daily News de Taiwan em 6 de fevereiro, as quatro maiores empresas de internet receberam informação do Departamento Central de Propaganda (DCP) de que oficiais governamentais passarão a estar presentes em suas companhias para implementarem as normas do DCP, do Conselho de Estado e do Departamento de Informação da Internet.

O Sina já conta com muitos usuários insatisfeitos desde que Pequim anunciou em 16 de dezembro de 2011 que os novos usuários serão obrigados a se registrarem nos Weibo com nomes reais. Muitos usuários do Sina queixam-se de que suas contas de internet foram suspensas ou encerradas desde que o Sina implementou as novas regras.

Um internauta da província de Zhejiang relatou à Rádio Som da Esperança que ele e um amigo registaram repetidamente suas contas de microblogue, mas estas foram sistematicamente encerradas.

“As contas foram encerradas muito depressa, em duas ou três horas”, relatou ele. “Várias pessoas tiveram esta experiência, ainda que o conteúdo postado não fosse demasiado ‘sensível’. Eram apenas conteúdos pessoais, mas ainda assim foram encerrados.”

Muitos blogueiros conhecidos já deixaram o Sina Weibo devido à censura. Entre eles estão Zhang Ming, um professor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Renmin; Yu Jianrong, professor da Academia Social de Ciências; e He Weifang, um professor de direito da Universidade de Pequim.

Depois do prazo de 16 de março ser anunciado, muitos internautas manifestaram preocupação de que seus direitos à privacidade e à liberdade de expressão serão restringidos. Alguns já confirmaram que deixarão de utilizar o Weibo.

Ano passado, a agência estatal de notícias Xinhua reportou que, em determinado momento em 2011, o Sina Weibo contava com cerca de 20 milhões de novos registros por mês. Contudo, os novos registos caíram para cerca de 3 milhões desde que o Sina implementou a política de registo do nome real.

Violação de privacidade

A Coreia do Sul, o primeiro país a implementar o registo do nome real na internet, anunciou recentemente planos para abolir a exigência.

O Prof. Yu Zhishu da Universidade de Seul publicou um artigo em abril de 2010 que diz que o número de usuários da web e publicações online decresceu em dois terços no período em que a norma esteve em vigor.

Em janeiro de 2010, várias organizações não governamentais e grupos de direitos humanos na Coreia do Sul levantaram a questão de que o registo com nome real viola a liberdade de expressão e o direito à privacidade dos internautas.

Desde que o sistema foi implementado, grandes websites sul-coreanos também se tornaram alvo de hackers. Em julho último, hackers roubaram 35 milhões de números de identificação de usuários nacionais. No final de novembro, uma companhia de jogos na Coreia do Sul foi violada tendo sido roubadas as informações relativas a 13,2 milhões de usuários. As autoridades sul-coreanas decidiram então abandonar o sistema de registo do nome real.

O Semanário Metropolitano do Sul, uma revista liberal em Ghuangzhou, publicou em 9 de janeiro que a Coreia do Sul serviu como uma forte referência para outros países que consideram implementar o sistema.

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