O Instituto Royal anunciou nesta quarta-feira (6) estar encerrando as atividades de seu laboratório no município de São Roque, no interior do estado de São Paulo. A decisão ocorre após a libertação de 178 cães da raça beagle, usados em testes de laboratório para cosméticos e produtos de limpeza, por manifestantes no mês passado. O caso teve ampla repercussão e gerou discussões sobre a ética relacionada ao uso de animais em testes. O instituto é investigado pelo Ministério Público desde 2012 por maus-tratos aos animais.
Na ocasião, após vistoriar o laboratório, a prefeitura de São Roque suspendeu o alvará de funcionamento por 60 dias, após um acordo o instituto. O Instituto Royal é uma OSCIP credenciada no Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) e recebeu R$ 7 milhões do governo federal para realização de pesquisas (R$ 5 milhões da Finep e R$ 2 milhões do CNPq).
A instituição justifica o encerramento das atividades alegando que o funcionamento do instituto está comprometido pela “perda de quase todo o plantel de animais e de aproximadamente uma década de pesquisas”. Também diz, em nota, que a “persistente instabilidade e a crise de segurança colocam em risco permanente a integridade física e moral de seus colaboradores”.
O instituto comunicou que os funcionários serão demitidos e que apenas será mantido o Comitê de Ética formado por colaboradores veterinários, biólogos e membros da Sociedade Protetora dos Animais. O destino dos animais remanescentes, que ainda estão em poder da instituição, deve ser decidido com órgãos regulatórios, afirmou no comunicado.
O instituto nega irregularidades nos procedimentos de pesquisa e diz que a causa da invasão seriam inverdades disseminadas de forma irresponsável. “As consequências dos atos advindos dessa equação resultaram não somente em prejuízo para a instituição, que fecha suas portas, mas também e mais gravemente para a sociedade brasileira, que assiste à inutilização de importantes pesquisas em benefício da vida humana”, afirma a nota.
Entenda o caso
Após denúncias de funcionários do instituto sobre maus-tratos dos animais, ativistas da causa animal realizavam uma vigília na porta do laboratório. Em 18 de outubro, o protesto se espalhou pelas redes sociais e cresceu, ganhando adesão de muitos ativistas de diversas outras causas e simpatizantes, que resolveram entrar no instituto para resgatar os animais, o que não estava nos planos dos ativistas da causa animal.
Os manifestantes se depararam com um ambiente insalubre, com canis com o chão coberto de fezes, urina, vômito e até sangue, e resgataram 178 cães da raça beagle, além de coelhos mutilados. Imagens de cães com a orelha inteira ferida de agulhas, cegos, com câncer, hemorragia, músculos da pata atrofiados e inclusive congelados vivos em nitrogênio líquido se espalharam pela internet. A empresa alegou que o cão havia sido congelado porque havia morrido naquele dia.
Ao noticiar o ocorrido, o programa Fantástico, da Rede Globo, mostrou laboratórios quebrados e não veiculou a entrevista com os ativistas nem ouviu cientistas sobre a viabilidade de testes alternativos, adotados em países desenvolvidos. Os manifestantes afirmam que a polícia acompanhou toda a invasão e que não entraram em nenhum outro setor além dos canis. Eles afirmam que os arquivos de pesquisa foram levados pela Polícia Civil e não pelos manifestantes, como afirmado na reportagem da rede de televisão.