Localizado no 61º andar da Torre do Banco da China, o Instituto de Pesquisa Um País Dois Sistemas aluga um dos espaços de escritório mais caros do mundo. Este não é o lugar onde alguém esperaria encontrar um centro de pesquisa sem fins lucrativos, mas um artigo recente sugere que este instituto anteriormente obscuro é cheio de surpresas.
A edição de 8 de agosto da revista Next alega que o Instituto, que foi fundado pelo chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, recebe financiamento público e usa esse financiamento, em parte, para pagar por uma versão local do chamado “exército dos 50 centavos do Partido Comunista Chinês [PCC]”. Conhecido primeiramente na China continental, o exército dos 50 centavos são inspetores da internet que recebem 50 centavos por postagem para “guiar” e monitorar o debate público na web.
De acordo com o vazamento de uma diretiva de 16 pontos do PCC, os membros do exército dos 50 centavos do PCC praticam uma forma moderna de propaganda que se destina a influenciar a opinião pública sem ser detectado. Eles aprendem a assumir identidades falsas e postam mensagens persuadindo ou inspirando internautas a penderem seus comentários numa direção favorável ao PCC.
O exército dos 50 centavos também usa várias táticas para assustar, distrair ou confundir os internautas, a fim de interromper ou tornar incoerentes as discussões que não estejam seguindo o que o PCC considera a “orientação correta”. Eles também semeiam discórdia, iniciando discussões que visam desviar a atenção de questões fundamentais. Fóruns que são difíceis de controlar podem ser atacados com spam ou outros métodos.
Há algum tempo, esse grupo tem sido uma presença perturbadora nos fóruns da internet de Hong Kong. Em julho de 2012, internautas de Hong Kong formaram a “Aliança de Hong Kong contra o exército dos 50 centavos”, que apresenta em sua página do Facebook todas as ações suspeitas do grupo.
No Instituto, membros do exército de 50 centavos de Hong Kong são chamados de “investigadores da internet”, segundo um ex-funcionário nomeado Ah Ho, que contou sua história à revista Next. Os “investigadores da internet”, que são mais comumente conhecidos no Instituto como “machados da rede”, têm de passar por um treinamento especial por duas semanas para aprender a rebater a crítica das pessoas ao PCC.
De acordo com Ah Ho, trabalhando no Instituto está Fu Zhenzhong, um membro principal da organização chamada ‘Voz do Amor por Hong Kong’, que é amplamente considerada como uma organização de fachada do PCC.
Fu Zhenzhong (anteriormente conhecido como Chan Kongman) foi um membro da ‘Voz do Amor por Hong Kong’, que teve um papel de destaque nos protestos neste verão condenando a professora primária Alpais Lam Wai-sze. A Sra. Lam havia criticado a polícia de Hong Kong por não proteger os direitos dos praticantes do Falun Gong.
Fu Zhenzhong, segundo a revista Next, trabalha no Instituto como um “investigador da internet” e como líder da equipe de pesquisa de opinião pública.
Conexões políticas
Ah Ho afirmou ter visto no Instituto o chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, e figuras influentes de Hong Kong, como Cheung Chi-kong e Barry Cheung Chun-yuen.
Cheung Chi-kong é um membro não-oficial do conselho executivo de Hong Kong e um escritor com fortes pontos de vista pró-PCC. Ele é o atual diretor-executivo do Instituto.
Barry Cheung Chun-yuen é também um membro não-oficial do conselho executivo de Hong Kong, um empresário e ex-chefe da Autoridade de Comércio e Renovação Urbana de Hong Kong. Depois de estar sob investigação policial em maio de 2013, ele renunciou a todos os seus cargos oficiais.
De acordo com Ah Ho, Leung Chun-ying foi pessoalmente cumprimentar e dar as boas-vindas a todos antes do início dos treinos de “investigadores da internet”.
Leung agir como se fosse dono do lugar não é surpreendente. Ele fundou o Instituto de Pesquisa Econômica Um País Dois Sistemas Ltda. em 1990 (em 1997, o Instituto retirou a palavra “econômica” do nome) e atuou como seu diretor até dois meses antes de assumir o comando de Hong Kong.
Leung levou consigo o ex-diretor-executivo do Instituto, Shiu Sin-por, para o governo de Hong Kong, instalando-o como chefe da Unidade da Política Central. Leung também usou o Instituto para ajudá-lo em sua campanha eleitoral, segundo a revista Next.
De acordo com as informações de arquivo do Registo Empresarial de Hong Kong; em 2011, o Instituto, que é uma organização sem fins lucrativos e isenta de impostos, teve uma receita total de HK$ 13,26 milhões (US$ 1,71 milhões), composta por HK$ 10,4 milhões em doações e HK$ 2,86 milhões em renda investigativa adicional. Os custos com pessoal em 2011 foram de HK$ 6,51 milhões (US$ 840 mil).
O site do Instituto orgulha-se de ter completado 13 projetos de pesquisa encomendados ou patrocinados por organizações externas, incluindo oito projetos para a Unidade da Política Central do governo de Hong Kong. Nenhum desses projetos parece ter sido feito nos últimos anos.
A revista Next afirma que o Instituto está recebendo financiamento do governo de Hong Kong.
Após o artigo da revista Next aparecer, o Instituto postou uma mensagem em seu site dizendo que o artigo não é verdadeiro, que nunca contratou uma pessoa chamada Fu Zhenzhong ou Chan Kongman e que estaria passando o assunto para seu advogado. Quase dois meses se passaram e o Instituto não abriu qualquer processo, segundo fontes da revista.
Uma recepcionista do Instituto respondeu a um telefonema que solicitava comentários sobre a história dizendo que apenas o diretor do Instituto poderia comentar, mas que ele não estava disponível.