Recente pesquisa publicada pela escola de negócios francesa Insead e pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), intitulada de “The Global Innovation Index – The Local Dynamics of Innovation”, sugere que os indicadores de inovação no mundo vêm se deteriorando. O objetivo desta pesquisa é analisar 142 economias, que representam 98% do PIB mundial e 94% da população do planeta.
Chama a atenção o fato de os investimentos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) estarem em queda em correlação à redução dos investimentos privados, a partir das recentes crises econômicas americana e europeia. Seguindo esta lógica, todos os países que compõem os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) vêm apresentando indicadores insatisfatórios de inovação, algo inesperado para o bloco que seria o motor para o crescimento econômico mundial.
Como aprendizes no processo de inovação estão países como Uganda, Mali, Quênia, Senegal e Índia que, apesar da baixa renda, vêm gerando novos negócios e tecnologia de ponta, dado o elevado financiamento em P&D vindo de outros países e o estabelecimento de parcerias entre governo e empresas multinacionais. Ou seja, é possível inovar com poucos recursos.
Já os líderes em inovação são Suíça, Suécia, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Israel e Irlanda, onde o investimento em P&D é superior a 4% do PIB e a colaboração entre governo, empresas e centros de pesquisa está em estágio avançado. Surpreendentemente, os Estados vêm reduzindo seus esforços em inovação, com eficiência abaixo da média entre os líderes acima citados.
De acordo com a pesquisa, o Brasil estaria no bloco de países como Emirados Árabes, Kuwait, Catar e Arábia Saudita, tipicamente produtores de petróleo e com baixo investimento em novas tecnologias, a não ser aquelas destinadas a exploração e produção dessa fonte energética. Estaria o Brasil vivendo a maldição do petróleo, como inimigo da inovação?
Aprofundando o caso brasileiro: percebe-se um avanço no número de artigos publicados em bases internacionais. No entanto, somente 32% das empresas industriais e de serviços incluem a inovação como algo estratégico em seu modelo de negócio, além de um número ínfimo de pedidos de patentes. Vale ainda citar o baixo nível de inovação em setores como máquinas e equipamentos, coque e biocombustíveis. Seria o fenômeno responsável pela crise econômica vivida por estes setores?
Próximos ao Brasil no ranking estão países como México, Peru, Argentina e Uruguai, onde a dinâmica governamental não vem sendo suficiente para incentivar a inovação e a abertura de novos negócios. Para tanto, a cultura da inovação deveria ser incentivada, estimulando um ambiente menos regulado, meritocrático e convertendo a competência da pesquisa aplicada em empresas locais.
Hugo Ferreira Braga Tadeu é professor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral; pós-doutor pela Sauder School of Business, Canadá; doutor em engenharia mecânica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG) e mestre em engenharia elétrica pela mesma universidade. Ele é graduado pela faculdade de administração e economia do Ibmec
Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Millenium