Ingresso para final da Copa do Brasil: Futebol, exploração e segregação

12/11/2013 16:19 Atualizado: 13/11/2013 13:57

O preço dos ingressos anunciado pela diretoria do Flamengo para o segundo jogo da final da Copa do Brasil contra o Atlético/PR, dia 27 de novembro, no Maracanã, não pode ser visto apenas como um absurdo por conta dos altos valores ou como uma mera estratégia do clube para ter um enorme lucro. Deixou claro, também, as reais intenções em relação aos torcedores que ainda não aderiram ao programa de sócio torcedor e, até mesmo, aos de menor poder aquisitivo.

Com o anúncio da entrada mais barata fixada em R$ 250 – valor próximo ao ingresso mais barato para a final da Copa do Mundo de 2014, que é de R$ 330, e mais caro que a final da última Champions League, que saiu por R$ 220 – e com a antecipação da venda aos sócios para esta segunda (11), tendo o início da venda para os não sócios somente na semana do confronto, a diretoria do Flamengo, que vem fazendo uma boa gestão se comparada às anteriores, acaba de fazer um tremendo gol contra praticamente transmitindo as seguinte mensagens: “só vai para a final quem se associar”, “só vai quem puder pagar” e “o povão vai ficar de fora”.

Ao mesmo tempo em que se aproveitou do ótimo momento da equipe e da importância da partida para incentivar uma adesão ainda maior ao programa de sócio e de que o argumento de combate ao cambismo tenha sido utilizado, a decisão provavelmente afastará do estádio os torcedores de baixa renda, inclusive os com direito a meia entrada, que não sai por menos de R$ 125.

Certamente, um verdadeiro golpe nas costas da maioria dos flamenguistas, que têm sofrido nas filas para os jogos das fases anteriores – vide a caótica comercialização para o jogo contra o Goiás – e ajudaram a equipe a chegar até aqui, a apenas dois jogos do título.

Além disso, o aumento anunciado também pode ser considerado uma exploração da paixão do torcedor como fonte geradora de lucro, o que não é novidade. Esta constatação fica ainda mais nítida quando se verifica, inclusive, a redução do desconto no ingresso para sócios, de 50 para 40%.

Com isso, o discurso de elitização causada pelo programa de sócio-torcedor pode ser cada vez mais comprado, especialmente no Flamengo. Uma iniciativa altamente paradoxal: ajuda financeira ao clube, tendo, em contrapartida, uma espécie de segregação aos que não podem arcar com um alto valor.

Apesar de grande parte dos ingressos ainda ser destinada ao torcedor comum, a tendência é que esse número diminua com o grande aumento de associações previstas. Quadro cada vez mais provável caso o Fla ganhe o título, que viria acompanhado também da tão sonhada vaga na Libertadores 2014.

Neste caso em particular, o artifício de convencimento para a associação e seus benefícios está sendo usado de forma, no mínimo, bastante questionável. Até a semana do decisivo duelo contra o furacão, por exemplo, a previsão do clube é que seja alcançada a marca de 60 mil associados. Ou seja, até lá, é bem possível que grande parte das entradas, inclusive as mais “baratas”, já tenham se esgotado, restando ao torcedor que não é sócio pagar a bagatela de R$ 500, ou, até mesmo, impressionantes R$ 800, para assistir ao jogo. Para o flamenguista, isso praticamente torna obrigatória sua associação.

Nesta segunda (11), o Procon do Rio de Janeiro classificou como abusivo o aumento do preço dos ingressos e anunciou que cobrará explicações do Flamengo. A deputada Cidinha Campos, da Secretaria Estadual de Promoção e Defesa do Consumidor, afirmou ontem ao Globo Esporte que “o Flamengo está tripudiando em cima da torcida”.

Ela não está errada. A decisão da diretoria do Flamengo é um verdadeiro crime contra o maior patrimônio do clube: sua torcida, independente de associação. Embora algum aumento possa ser justificável, o que foi anunciado simplesmente ultrapassa os limites do bom senso.

Preços cobrados pela diretoria do Flamengo para a final do dia 27 no Maracanã (Infográfico/Epoch Times)
Preços cobrados pela diretoria do Flamengo para a final do dia 27 no Maracanã (Infográfico/Epoch Times)