Saiu o resultado da inflação, medida pelo IPCA, de fevereiro: 0,69%, o que implica numa inflação acumulada em 12 meses da ordem de 5,68%. Apenas nos dois primeiros meses do ano a inflação atingiu a “modesta” marca de 1,24%.
Até agora a imprensa já culpou o tomate e a batata… por um breve período o feijão carioquinha também foi suspeito… CHEGA!!! A culpa da alta da inflação é do Banco Central com sua desastrada política monetária. Aquela política monetária que previa um comportamento neutro da política fiscal no longo prazo…
Tudo bem, podemos culpar também a péssima qualidade da política fiscal. Ok, certamente os gastos públicos em alta contribuem para o ambiente inflacionário. Mas, cá entre nós, quem dizia que a política fiscal seria neutra no longo prazo era o próprio BACEN!!! Aliás, poucas vezes se viu tamanho servilismo no BACEN quando daquela fatídica ata do COPOM que previa politica fiscal neutra para o horizonte relevante de análise. Tudo bem que dizer que a inflação convergiria para a meta de maneira não-linear já era um abuso, mas aparentemente não há fim para o estoque de besteiras que a diretoria atual do BACEN é capaz de produzir.
Alguém se lembra da última vez que a inflação acumulada em 12 meses ficou no centro da meta de 4,5% (que aliás já é um centro bem elevado para os padrões civilizados)? Se não se lembra, deixa eu te contar, isso ocorreu pela última vez em agosto de 2010 (IPCA acumulado de 12 meses de 4,48%). Isso mesmo, iremos para o quarto ano consecutivo de inflação acima da meta. E, friso novamente, a meta de inflação brasileira é alta para padrões civilizados!!! Ou seja, o BACEN promete que vai perder o jogo de apenas 3 a 0 (pois uma meta de inflação de 4,5% é mais ou menos o equivalente a isso), mas mesmo assim consegue se sair pior!!!
Sim, não vamos esquecer que a política fiscal não esta ajudando. Sim, não vamos esquecer que os gastos públicos pressionam a inflação (medida pelo IPCA) para cima. Contudo, no final do dia, não tem como não dar cartão vermelho para a atual diretoria do BACEN: um bando de pernas de pau que trouxeram a inflação de volta a realidade brasileira.
Para finalizar, você pode estar pensando: “mas o BACEN está tentando trazer a inflação de volta a meta…” NÃO, o BACEN hoje está feliz da vida com uma inflação abaixo de 6%. Tanto é verdade que as expectativas de inflação para 2015 estão ao redor de 5,8%, ou seja, iremos para o quinto ano com uma inflação próxima do teto, e sob aplausos e cumprimentos da diretoria do BACEN.
Querem saber a verdade? A verdade é que, tal como eu afirmei várias vezes antes, o BACEN chutou para escanteio o sistema de metas de inflação. Claro que uma pessoa bem intencionada pode argumentar que o BACEN não abandonou o regime de metas, mas ele apenas alterou o centro da meta. Assim, o centro da meta passaria a ser 5,5% (e não mais os 4,5%). Pode ser verdade isso? Sim, pode ser verdade. Mas, nesse caso, o BACEN deve explicações a sociedade.
Adolfo Sachsida é Doutor em Economia (UnB) e Pós-Doutor (University of Alabama) orientado pelo Prof. Walter Enders. Lecionou economia na University of Texas – Pan American e foi consultor short-term do Banco Mundial para Angola. Atualmente é pesquisador do IPEA. Publicou vários artigos nacional e internacionalmente, sendo de acordo com Faria et al. (2007) um dos pesquisadores brasileiros mais produtivos na área de economia
Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal do Instituto Liberal