Indústrias brasileiras enfrentam a tempestade econômica

26/04/2009 00:00 Atualizado: 26/04/2009 00:00

Corretores fazem seus lances no índice de futuro da iBovespa na Bolsa de Mercados e Futuros (BM&F), em São Paulo, Brasil. (Mauricio Lima/AFP/Getty Images)

Em 2009, a economia brasileira mostrou sinais de desaceleração econômica, mas não na extensão de alguns de seus parceiros comerciais, como os Estados Unidos ou outras partes da América Latina.

Tornou-se mais difícil adquirir empréstimos no Brasil, empréstimos tornaram-se um pouco mais caros e os termos de pagamento são menos generosos. Antes da crise financeira mundial, bancos davam 5 anos de prazo nos financiamentos de automóveis, depois da crise, os termos são de dois anos e meio no máximo.

“O Brasil vai ser afetado”, disse Odemiro Fonseca, proprietário da cadeia brasileira de restaurantes Viena Rio. “Por exemplo, o mercado de crédito externo ficou paralisado por cerca de 15 dias.”

Fonseca disse que os mercados de crédito, desde então, estabilizaram-se um pouco. Seus comentários foram relatados num recente estudo do Knowledge @ Wharton (KW).

O mercado de ações brasileiro registrou um decréscimo constante nos últimos meses, com um declínio próximo a 11% entre janeiro e fevereiro de 2009, segundo a BM&F Bovespa S.A., líder na bolsa de valores da América Latina.

“Os preços das commodities brasileiras já declinavam mesmo antes da crise, e o mercado de ações declinou cerca de 30% [entre outubro de 2008 e o início de 2009]… Mas ainda não há sinais de declínio econômico”, afirmou Fonseca.

No entanto, algumas indústrias brasileiras têm tomado uma surra. As últimas estatísticas disponíveis mostram que a indústria de vestuário brasileira demitiu 8,9% dos seus empregados em fevereiro de 2009. As indústrias de calçado e couro demitiram 9,6% dos seus empregados e indústria madeireira perdeu 14,8% dos seus trabalhadores.

Numa nota positiva, a produção das indústrias de refinamento de petróleo e de álcool elevaram sua força de trabalho em 4,6% no mesmo período, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o departamento do censo brasileiro.

O setor agrícola do Brasil continua estável e relata aumento na produção de café, arroz, feijão, milho e soja.

Indústria brasileira atingida

Fonseca notou que os bancos e cofres do governo brasileiro estão em boas condições e uma crise cambial não está no horizonte.

“O balanço [dos bancos brasileiros] é muito forte. O setor empresarial brasileiro é extremamente subaproveitado. O cidadão brasileiro é mal aproveitado”, disse Candido Bracher, presidente e CEO do Itaú Unibanco, durante uma entrevista recente, publicada pelo KW. Itaú Unibanco é um dos maiores bancos brasileiros e tem sede em São Paulo.

O Real começou a cair em relação ao dólar em setembro de 2008, mas vem subindo lentamente desde o final de março. A Unidade de Inteligência Econômica prevê que o Real deve se manter estável, ou mesmo ligeiramente elevado, em 2009, mas não para início de setembro devido aos rendimentos de exportação serem mais baixos.

“As companhias que foram afetadas [pela crise do setor financeiro], curiosamente, não foram os bancos. As empresas afetadas foram as empresas industriais que estavam especulando na moeda, na verdade, apostando sobre a moeda”, disse Bog Mangels, CEO da Mangels Industrial S.A., fabricante brasileira de rodas de carro.

Competitividade global

“Uma série de deficiências continua a afetar a paisagem competitiva do Brasil e evitar que o país eleve seu grande potencial e realize um maior crescimento e prosperidade”, sugeriu o Forum Econômico Mundial em seu relatório intitulado “Relatório Global de Competitividade” de 2009. O relatório foi lançado em 16 de abril de 2009.

O Brasil, classificado em 64 dos 134 no índice de competitividade, possui uma grande disparidade de renda. Os ricos controlam um montante desproporcional do capital, enquanto a grande maioria dos brasileiros vive abaixo da linha da pobreza.

Dois pontos fracos que impedem o Brasil de conseguir uma classificação mais alta são as limitações da infraestrutura e um sistema educacional inferior.

O sistema de transporte do Brasil está abaixo da média e é impedido pelo conflito entre “leis, regras e procedimentos federais, estaduais e municipais”. A repartição de investimento continuará a ser prejudicada significativamente, a menos que uma parceria público-privada seja constituída, de acordo com o relatório do KW.

Por outro lado, o Brasil foi o que mais recebeu investimento estrangeiro direto (IED) na América Latina.

“As vantagens competitivas do Brasil, com seu vasto e expansivo mercado, juntamente com seus abundantes recursos naturais e sua relativa abertura ao IED”, são as forças motrizes do investimento estrangeiro contínuo, disse Fabrice Hatem e Anne Miroux, representantes da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, no relatório do KW.

Mas o IDE futuro poderia ser obstruído devido à ineficiência do governo e o aumento da concorrência dos países que produzem a baixo custo. No entanto, as empresas brasileiras estão ansiosas para globalizar e se expandirem, resultando num fluxo de IED para as suas empresas nacionais.

A Companhia Vale do Rio Doce (Vale), uma das maiores empresas de mineração do mundo, se tornou global em 2006 através da aquisição da Inco, a segunda maior operadora em mineração do Canadá. A Vale também tem participações em operações de mineração na Angola, Austrália, Chile, Finlândia, Índia, Mongólia, Peru, África do Sul e alguns outros países.

O Petróleo Brasileiro, S.A. (Petrobras), uma empresa de energia semipública mundial, tem interesses na África, Ásia, Europa, América do Norte e América do Sul.