Recentemente publicado, o excelente livro de Dan DiMicco, “American Made”, que tematiza o restabelecimento da indústria e do setor de construção como protagonista na economia americana – e, por implicação, na canadense também – deseja convencer os leitores de variadas perspectivas políticas, de que a tese de seu estudo é essencialmente adequada para ambas as nações.
DiMicco caminha com desenvoltura nesse território. Entre outras coisas, sua competência é reconhecida pela Harvard Business Review, que o listou entre os 100 melhores CEOs do mundo em 2010, com base em seu desempenho na Nucor, hoje a maior empresa siderúrgica americana e a maior recicladora da América do Norte.
Na Nucor, a cultura é inclusiva, excluindo “regalias” especiais para a gerência sênior. Cada um de seus 22 mil funcionários é um membro da equipe; de modo notável, ninguém foi despedido em 40 anos, apesar de alguns períodos muito difíceis, incluindo 32 empresas siderúrgicas norte-americanas terem pedido falência no início dos anos 2000.
A filosofia do “sem favoritos” é demonstrada, em parte, por dar aos funcionários a mesma cobertura de seguro e quantidade de férias; ninguém tem direito a veículos da empresa, aviões, ou mesmo vagas exclusivas no estacionamento.
Liberdade para experimentar novas ideias fornece à Nucor um diferencial competitivo: uma força de trabalho criativa e proativa. Como resultado, a empresa foi laureada como uma das 100 Melhores Corporações Cidadãs, a melhor da categoria, melhor em responsabilidade ambiental, em ética corporativa, em justiça na relação trabalhista, em transparência para as comunidades locais.
A industrialização, e a inovação que a acompanha, é indispensável para o fortalecimento de qualquer grande nação.
A industrialização, e a inovação que acompanha esse setor da economia, disse DiMicco, é indispensável para o fortalecimento de qualquer grande nação. Notando que cada dólar da atividade de criar e fazer as coisas “cria um adicional de US $ 1,34 em atividade na economia mais ampla”, ele acha preocupante que o setor industrial tenha caído de um quarto da economia americana na década de 1960 para cerca de 12 por cento hoje. Desde 2000, mais de cinco milhões de empregos bem remunerados no setor desapareceram nos Estados Unidos; uma tendência similar ocorreu no Canadá.
Criando riqueza real, em vez de ilusões como a Enron, dot-com, e bolhas imobiliárias, o setor industrial ainda hoje apoia mais de 6 milhões de empregos americanos em serviços. O autor quer aumentar o número de americanos que trabalham na indústria de 12 milhões para 20-25 milhões na próxima década. Uma transformação semelhante no Canadá significaria pelo menos mais 2 milhões trabalhando no setor.
Tendo terminado de escrever seu livro provavelmente em setembro de 2014, DiMicco observou que o Escritório de Estatísticas Laborais dos EUA naquele mês declarou que, oficialmente, a taxa de empregos aumentara para os níveis (pré-crise) de 2007. Ele observa, entretanto, que há algo mais a se considerar, já que mais de 6 milhões de pessoas que queriam trabalho estavam completamente fora do mercado de trabalho; e outros 7,1 milhões trabalhavam em tempo parcial enquanto prefeririam trabalho em tempo integral. Por seu cálculo, a taxa de desemprego real em setembro de 2014 foi, por tudo isso, mais próxima de 13 por cento.
Leia também:
• O colapso da China: entrevista exclusiva com Gordon Chang
• O designer do futuro, uma entrevista com o CEO da ONG&ONG
• China fecha acordo com EUA e diz que cessará roubo de propriedade intelectual
DiMicco observou que até 2025 os Estados Unidos terão que criar 30 milhões de empregos para parear com o ritmo de seu crescimento populacional. Milhões de jovens norte-americanos, acrescenta, estão agora desempregados ou subempregados, muitas vezes, “em pequenos negócios improvisados ou vendendo, por aí, tênis fabricados na China”. Muitos norte-americanos e canadenses trabalham em empregos de baixa remuneração no setor de serviços. Ao invés de seguir nessa direção, as duas economias devem ser encorajadas por todos os meios razoáveis, incluindo prudentes investimentos públicos, a criar milhões de empregos na construção, produzindo e inovando.
O livro assinala que a inovação por si só não irá impulsionar a economia, porque, na última década, enquanto cerca de 6 milhões de empregos na indústria americana desapareceram, o emprego em tecnologia da informação, nas telecomunicações e eletrônica e em serviços técnico-profissionais permaneceu essencialmente estável. Além disso, muitas empresas americanas estão mudando seus laboratórios de pesquisa para a China, já que se inventa onde se constrói. DiMicco nota que a maior parte das empresas dos EUA que se deslocaram para a Ásia tiveram que treinar pessoas lá, além de realocar pessoal para lá, porque os governos ofereceram incentivos lucrativos para a mudança.
O comércio global de hoje é tudo menos livre porque alguns países se recusam a jogar dentro das regras ao subsidiar seus setores de exportação e ao manipular suas moedas para obter vantagens competitivas injustas.
O livro salienta que o assassino número 1 do trabalho no setor industrial é a manipulação da moeda, o que proporciona vantagens de custo enormes para predatórios concorrentes estrangeiros. DiMicco conclui que o comércio global de hoje é tudo menos livre, porque alguns países se recusam a jogar dentro das regras ao subsidiar seus setores de exportação e ao manipular suas moedas para obter vantagens competitivas injustas.
É citado o caso da compra e venda de dólares americanos pelo Japão e pela Alemanha, na década de 1980, a fim de desvalorizar suas próprias moedas. Quando o presidente Reagan e o Congresso dos EUA acabaram com essa manipulação, o déficit comercial dos EUA, como consequência, diminuiu em mais de 50 por cento.
Na década de 1990, no entanto, a desvalorização do yuan pela China causou a perda de milhões de empregos para a economia americana. Corrupção sistêmica, suborno e chantagem somaram-se ao déficit comercial bilateral com a China. Uma das principais propostas do livro é que a América ajude a promover uma maior aplicação da lei comercial ao redor do globo.
O atual déficit comercial anual da economia americana é de 475 bilhões de dólares e certamente deve chamar a atenção do público neste ano pré-eleitoral. O apelo de DiMicco é para que os líderes políticos e de negócios dos EUA possam, em conjunto, focar a verdadeira crise da economia que enfrentam: os 30 milhões de empregos que o país precisa para criar até 2025, em parte, para fechar os déficits comercial e orçamentário.
David Kilgour, advogado, serviu na Câmara dos Comuns do Canadá por quase 27 anos. No gabinete de Jean Chretien, ele foi secretário de Estado voltado para as questões de África e América Latina e para as questões de Ásia-Pacífico. É autor de diversos livros e co-autor, com David Matas, de “Bloody Harvest: The Killing of Falun Gong for their Organs“.
O conteúdo deste artigo não representa necessariamente a posição do Epoch Times