Indústria baleeira japonesa não é lucrativa, mas altamente subsidiada

01/03/2013 17:42 Atualizado: 01/03/2013 17:42
Pescadores japoneses processam uma baleia-bicuda-de-baird no Porto Wada em Chiba, Japão, em junho de 2007 (Koichi Kamoshida/Getty Images)

O grupo conservacionista e vigilante ‘Sea Shepherd’ interceptou baleeiros japoneses dias atrás, efetivamente interrompendo a caça da frota. O relatório anual dos confrontos nos mares da Antártida pode ser uma pedra no sapato da indústria, mas forças maiores estão lentamente matando a indústria, segundo o Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW).

Um relatório do IFAW, intitulado “A economia dos baleeiros japoneses”, publicado no mês passado revela que baleeiros japoneses são altamente subsidiados, operam com prejuízo e enfrentam um mercado de carne de baleia em declínio.

“Sob a superfície, uma mudança está tomando forma na abordagem do Japão sobre a questão baleeira”, escreveu Patrick Ramage, diretor do programa baleeiro do IFAW que passou os últimos 20 anos dedicado ao assunto, num artigo do IFAW que introduzia o relatório.

“Até agora, a mudança é frágil, como porcelana e papel de arroz, mas o novo relatório do IFAW […] está ajudando a iluminar o caminho”, escreveu Ramage.

A frota baleeira do Japão é operada pelo Instituto de Pesquisa de Cetáceos (ICR) em nome da pesquisa científica. Ativistas acreditam que isso é um velado empreendimento comercial.

O IFAW cita uma análise de 2006 da Comissão Baleeira Internacional (CBI), que mostrou que a pesquisa do ICR não alcançou qualquer um de seus objetivos.

O governo japonês continua a bombear cerca de 782 milhões de ienes (aproximadamente 9,78 milhões de dólares) anualmente na caça, desviando inclusive o dinheiro da ajuda a tsunamis para o ICR, relatou o IFAW.

O ICR, no entanto, opera com perda significativa de dinheiro do contribuinte.

O consumo de carne de baleia está diminuindo no Japão – ele atingiu seu pico em 1960 e agora é de apenas 1% daquele patamar. A última tentativa de leiloar os estoques do ano passado não conseguiu descarregar três quartos da carne.

Por muito tempo, os japoneses veem a caça à baleia como parte de sua herança cultural, mas 54,7% dos japoneses entrevistados pelo IFAW são agora indiferentes ao tema. Cerca de um quarto dos entrevistados, 27%, disse que apoia a caça.

Um pescador japonês processa uma baleia-bicuda-de-baird no Porto Wada, em Chiba, Japão, em junho de 2007 (Koichi Kamoshida/Getty Images)

Relatório: ‘Por que o Japão apoia a caça à baleia’

Num artigo de 2005, publicado no ‘Journal of Wildlife Internacional and Policy’, intitulado “Por que o Japão apoia a caça à baleia”, Keiko Hirata da Universidade do Estado da Califórnia observou a ânsia do Japão em ser um personagem chave em iniciativas internacionais do meio ambiente.

Hirata perguntou, “Se o Japão é sério sobre a proteção ambiental e deseja desempenhar um papel como ‘colaborador verde’, porque ele não abraça as normas que proíbem a caça à baleia, assim se juntando a outros estados na proteção da vida selvagem e assumindo um papel maior na liderança mundial ambiental?”

Disputas internas entre departamentos governamentais foram parte da resposta de Hirata. Membros do parlamento japoneses não controlam as políticas de caça às baleias. É o Ministério da Agricultura, Florestas e Pescas (MAFP) e a Agência Pesqueira que gerenciam a indústria.

“O fim da caça às baleias pode significar um declínio no poder político dessas agências”, escreveu Hirata. “Devido a intensas rivalidades interministeriais no Japão, não é provável que esses atores burocráticos voluntariamente cedam uma de suas áreas de jurisdição. Em vez disso, esses funcionários podem querer eventualmente retomar a caça comercial para fortalecer ainda mais sua posição na política burocrática interna.”

Hirata definiu quatro motivos principais citados pela Agência Pesqueira e o MAFP para se perpetuar a caça:

• É parte da herança cultural do Japão;
• Afirmam que algumas espécies de baleias devem ser abatidas para se manter o equilíbrio ecológico;
• É necessário para a investigação científica;
• Apontam que a moratória da CBI sobre a caça instaurada em 1982 restringe a caça comercial apenas até 1990.

O IFAW sugere uma maneira alternativa para desfrutar e lucrar com as baleias sem controvérsia: a observação das baleias. O IFAW informou que a indústria de observação de baleias cresce 6,4% em média ao ano e em 2008 gerou 176 bilhões de ienes (cerca de 22 milhões de dólares).

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