Lideranças divergem entre si sobre a condição de não dormir no local
RIO DE JANEIRO – Indígenas da ocupação Aldeia Maracanã e autoridades do governo do estado acertaram em reunião na tarde desta terça-feira (6) na ex-sede do Museu do Índio, na Tijuca, zona norte do Rio, os primeiros pontos para a institucionalização no local de um centro de referência indígena sob gestão dos próprios índios. Cerca de 30 índios, de 21 etnias, e aproximadamente mais 60 manifestantes, permanecem na antiga sede, reocupada há dois dias, após a violenta remoção pela polícia militar, em março, que teve repercussão internacional.
Além das lideranças indígenas e simpatizantes com a causa, a assembleia teve a presença dos secretários estaduais de Cultura, Adriana Rattes, de Direitos Humanos Zaqueu Teixeira, deputada estadual Janira Rocha, o advogado dos índios Arão da Providência e funcionários e defensores públicos.
O encontro teve momentos de tensão por volta das 17h30 quando a secretária Adriana disse que a única condição do governo é que os índios não poderiam dormir nem acampar no local. “É preciso entender que não estamos tendo essa reunião hoje porque vocês invadiram o local”, disse a secretária, interrompida por gritos de “ocupação, ocupação”. A condição, porém, foi motivo de discórdia entre as lideranças.
O líder indígena e professor Urutau Guajajara propôs a permanência sem dormir, sob os gritos de “resistir, resistir”. Ele pediu que ninguém saísse do local enquanto não forem assinados todos os documentos. Os índios defendem um modelo de gestão próprio, combinando os conceitos de centro cultural e aldeia, uma “universidade viva” e não exatamente um museu. Ficou acordado que os indígenas podem permanecer até a próxima reunião com o governo, marcada para o próximo sábado (10) às 11h.
Outros dois momentos delicados foram quando os índios questionaram sobre a permanência da polícia dentro do terreno durante o encontro. Adriana disse não saber de onde partiu a ordem para a presença dos policias e ligou para o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, solicitando a retidada da corporação.
O outro foi quando Rattes foi questionada se será demarcado todos os 12.300 m² do terreno ou somente parte. Segundo ela, os indígenas terão que negociar esse ponto com os responsáveis pelo projeto esportivo que está sendo desenhado para o entorno do Maracanã. Os índios dizem que só o edíficio não permite a implantação do projeto do centro de referência e que também é necessário fazer a terraplanagem do terreno para a realização de danças e rituais.
Os índios planejam fundar uma universidade indígena no local, que teria cursos diversos como história étnica e artesanato e funcionaria tanto para preservar quanto para disponibilizar para o país um saber milenar precioso no qual, segundo eles, pode estar a solução para muitos dos principais problemas enfrentados pela sociedade, como por exemplo a sustentabilidade. O centro também teria atividades culturais diversas como danças e rituais, visitas guiadas, hortas e oficinas de confecção de ornamentação corporal e de instrumentos musicais.
O edifício, construído no final do século XIX, seria inicialmente demolido para a construção de um estacionamento, que geraria receitas para o Consórcio Maracanã cobrir parte dos custos com o Estádio Mário Filho, o Maracanã. Após má repercussão do projeto, o governo do estado decidiu criar no local o Museu Olímpico, preservando o edifício mas expulsando os índios. Com a crescente impopularidade de Sérgio Cabral evidenciada com a evolução dos recentes protestos, o governador anunciou em 29 de julho a devolução da administração do local aos índíos.
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