IDINTHAKARAI, Índia – Para alguns residentes na ponta mais meridional da Índia, um grande terremoto que sacudiu o Oceano Índico no mês passado foi uma coisa boa. Apesar dos alarmes de tsunami soando, trazendo de volta lembranças assustadoras do devastador tsunami de 2004, isso provou algo que há muito eles consideram: A construção da maior usina nuclear da Índia no litoral é um perigo.
Apesar do calor escaldante, milhares de indianos em Idinthakarai e arredores têm protestado nos últimos meses contra a construção da usina nuclear de Kudankulam.
Os manifestantes têm sido testemunhas das cúpulas gêmeas da usina nuclear de Kudankulam subindo lentamente do matagal de sua vila. A usina é um sinal da galopante fome de energia num país movido por uma economia em rápido crescimento e uma população que também aumenta rapidamente.
Após o desastre nuclear do ano passado na usina de Fukushima Daiichi no Japão, as pessoas no estado de Tamil Nadu tornaram-se ansiosas mais uma vez sobre a usina de Kudankulam.
Os protestos datam de 1988, quando o governo indiano assinou um acordo com a então União Soviética para a construção do Projeto de Energia Atômica de Kudankulam. Isso resultou em grandes protestos, tendo seu auge quando 50 mil pessoas foram às ruas em 1989 na cidade de Kanyakumari.
“Após o colapso da União Soviética, o projeto foi arquivado e nós também não fizemos nada. Quando o projeto reiniciou, começamos também nossa luta e temos lutado contra a usina desde então”, diz Uday Kumar, líder do Movimento Popular contra a Energia Nuclear, o grupo que lidera o movimento de protesto.
Durante a década de turbulência pós-comunista na Rússia, o projeto permaneceu dormente. Em 1997, a construção foi revivida. “Quando eles tentaram reabrir o projeto e fazer o exercício de simulação, isso criou muita perturbação para as pessoas, e eles tomaram as ruas nove meses atrás”, disse Kumar.
A usina realizou o que eles chamam de uma operação quente, que envolve o aquecimento da água de refrigeração a temperaturas elevadas, injetando grandes quantidades de vapor no sistema, e, em seguida, liberando o vapor quando a pressão aumenta. Um relatório na revista indiana DowntoEarth menciona Swapnesh Kumar Malhotra, o chefe da divisão de sensibilização do público do Departamento de Energia Atômica, admitindo meses mais tarde que tinham dado uma mancada. “Quando essas válvulas estão abertas há um som alto e estridente. Imagine mil panelas de pressão soprando seus apitos ao mesmo tempo. Qualquer um ficaria petrificado. Nós não comunicamos isso aos moradores locais…”
De acordo com os manifestantes, existe mais de 1 milhão de pessoas que vivem dentro de um raio de 30 km da planta, tornando a evacuação uma tarefa impossível no evento de um desastre nuclear.
“Depois do protesto de 1989, eu trabalhei com meu pai por um curto período como um pescador e em seguida entrei para a marinha mercante. […] Agora que ganhei dinheiro e sou capaz de oferecer tudo a minha família, sinto que suas vidas não estão seguras. Esta usina nuclear é tão perigosa”, disse Peter Milton, que se juntou aos protestos nucleares em Kanyakumari em 1989, quando tinha 18 anos de idade.
Os medos sobre a usina nuclear não estão limitados somente à possiblidade de um desastre. Muitas pessoas na vila temem que também percam seus meios de subsistência. As zonas de pesca que têm sustentado gerações, eles temem que sejam perdidas uma vez que a usina nuclear inicie.
“Quando a usina começar a funcionar, a radiação cairá na água e ninguém comprará nosso peixe. Minha família está sobrevivendo com um empréstimo bancário garantido com as joias de ouro de minha esposa”, disse Joseph, um pescador de Idinthakarai.
“Nossa área de pesca encontra-se dentro de 2 km da usina nuclear e em breve eles vão erigir uma cerca num raio de 1,5 km em torno da planta, no mar e em terra. Nossas áreas de pesca estão dentro desse limite”, disse um pescador local.
No início deste mês, em 6 de maio, quando o Epoch Times visitou o local do protesto, 300 mulheres das cidades vizinhas estavam em seu terceiro dia de greve de fome. Estima-se que 7 mil outras pessoas também se reuniram para protestar. Num gesto simbólico de desafio, 23 mil pessoas já entregaram seus cartões de identificação de eleitores.
Sundari Pentenpus, de 38 anos, uma das grevistas de fome disse, “A energia elétrica é para as pessoas. Para gerar energia, a vida das pessoas não deve ser ameaçada. A energia deve ser gerada por meios mais seguros. Se não há pessoas, para quem se fornecerá energia?”
Em 10 de maio, o protesto foi cancelado depois que as autoridades proibiram protestos, assembleias e passeatas num raio de quatro quilômetros do local da construção. Os grevistas de fome pararam em 14 de maio depois que um mediador, um ex-chefe de justiça do Supremo Tribunal de Madras, interveio.
Segundo Kumar do Movimento Popular, os protestos decorrem do medo e da lacuna de comunicação entre o governo e os moradores da região.
“Desde que o projeto iniciou em 1980, temos exigido um relatório de avaliação de impacto ambiental [AIA], um relatório de análise de segurança, e um estudo de avaliação do local. O governo está negando até mesmo esta informação básica. Depois de tantas lutas nos últimos 23 anos, conseguimos que eles realizem uma AIA, que está desatualizada, incompleta, e tem muita informação falsa. Temos exigido que uma nova AIA seja feita para o projeto que reiniciou. […] Eles não podem continuar com o relatório que fizeram em 1980.”
Um relatório complementar sobre a segurança do projeto de Kudankulam e o impacto de suas operações foi apresentado por um grupo de peritos encomendado pelo governo indiano em 31 de janeiro deste ano. Concluiu-se que a usina nuclear de Kudankulam está procedendo em conformidade com os requisitos regulamentares de segurança estipulados pelo Conselho Regulador Indiano de Energia Atômica (CRIEA).
No entanto, manifestantes pensam o contrário. “De acordo com as estipulações do CRIEA, deveria haver apenas 10 mil pessoas a 5 km do projeto”, diz Leon, um nativo de Idinthakarai e um manifestante no local. Ele diz que apenas em Idinthakarai há 13 mil pessoas e nas aldeias vizinhas há pelo menos 29 mil dentro do raio de 5 km.