Dois incidentes de bomba severos na China nas últimas duas semanas atraíram a atenção nacional e internacional sobre as queixas que estimulam essas medidas extremas. Especialistas e ativistas dizem que os incidentes refletem a frustração em ebulição de muitos chineses sobre injustiças praticadas por agentes do Partido Comunista e o fato de que não confiam no sistema.
Eles esperam que a violência continue ou aumente, se não houver mudanças.
Dois incidentes
Em 6 de novembro, oito bombas explodiram em uma hora ao lado da complexo administrativo do Partido Comunista Chinês (PCC) na cidade de Taiyuan, província de Shanxi. O incidente matou uma pessoa e feriu oito. A polícia encontrou placas de circuito explodidas, bolas de aço e pregos de aço compridos entre os escombros, segundo relatos oficiais.
Outro ataque ocorreu uma semana e meia antes, quando um veículo explodiu em chamas na Praça da Paz Celestial em Pequim. Dois pedestres foram atropelados e mortos pelo veículo, enquanto as três pessoas no interior morreram na explosão e 38 ficaram feridas na praça. Autoridades de propaganda do regime rapidamente rotularam o incidente de um “ataque terrorista premeditado” conduzido por separatistas de Xinjiang, uma província densamente povoada por uigures muçulmanos, que são constante e severamente reprimidos pelo regime.
A mídia internacional questionou se o incidente foi um ato terrorista realizado com um propósito ideológico, religioso ou político específico ou se eram indivíduos lesados revidando. A CNN abordou a questão em seu artigo “Acidente na Praça da Paz Celestial: Terrorismo ou grito de desespero?” O artigo se focou em reportagens de que o Partido Comunista tem “reprimido vozes políticas uigures” e “cerceado consideravelmente as práticas religiosas uigures”.
Queixas
Especialistas em China e ativistas de direitos humanos dizem que as explosões violentas refletem a raiva civil contra o regime comunista chinês, manifestada por um número crescente de chineses. “Essas pessoas usam essas formas extremas de protesto, porque cada uma delas tem queixas próprias”, disse Yang Jianli, um defensor da democracia e fundador da organização de direitos civis “Initiatives for China”.
Os manifestantes, segundo ele, são movidos pelo que julgam injustiça cometida contra eles pessoalmente e também por causa do comportamento do regime chinês em geral.
“O governo chinês saqueia as pessoas financeiramente e as suprime politicamente. Se você quer reparação do governo, é realmente difícil.” Ele disse que ninguém gostaria de recorrer à violência, mas “quando as pessoas não conseguem resolver suas queixas por meio de procedimentos legais, elas ficam desapontadas e recorrem a formas extremas de protesto”.
A desapropriação de terras, segundo ele, é um das formas principais de induzir as pessoas comuns a se radicalizarem: funcionários locais em conluio com construtoras e corretores imobiliários demolem casas e confiscam terras para especulação imobiliária. “O Conselho de Estado da China tem um documento que diz que os tribunais chineses não devem aceitar casos de demolição de casas”, disse Yang.
Sem canais para resolver seus problemas, “as pessoas se autoimolam e algumas se vingam na sociedade”.
Uma história
Os atentados recentes podem ter coincidido com um grande encontro político que o Partido Comunista realizou em Pequim neste fim de semana. Mas há uma longa história desses incidentes.
Ji Zhongxing, um homem espancado e aleijado pela polícia, explodiu uma bomba caseira no aeroporto de Pequim no início deste ano em protesto, depois de anos de petição sem obter justiça.
Em setembro, um peticionário na província de Shandong explodiu uma bomba no pátio de um edifício do governo local, depois de tentar obter indenização por um acidente de trabalho ocorrido uma década antes.
Mais recentemente, um homem descontente na cidade costeira de Ningbo usou um trator para virar e esmagar mais de 10 carros pertencentes aos funcionários locais do PCC. Fotos postadas na internet mostravam veículos revirados e destruídos diante de um edifício opulento pertencente ao governo local. Posteriormente, a polícia o prendeu, mas suas queixas contra as autoridades ainda não são conhecidas.