Escrevi anteriormente a respeito do problema que os liberais clássicos enfrentam quando os nossos críticos tentam monopolizar a posição moral privilegiada. Por exemplo, quando defendemos a eliminação do salário mínimo, nos acusam de não nos importarmos com os pobres e talvez até mesmo de sermos racistas porque se presume que leis desse tipo ajudem desproporcionalmente pessoas de cor. Devemos sempre estar cientes dessa jogada retórica e desafiá-la imediatamente.
Nas últimas semanas, o presidente Obama utilizou uma retórica similar a respeito do plano de empregos que ele apresentaria ao Congresso. Num discurso recente, o presidente americano disse: “Apenas precisamos que o Congresso se una a nós. Veremos se os membros do Congresso colocarão o país em primeiro lugar e o partido em segundo. Nós daremos a eles um plano e veremos se eles querem criar empregos.” A segunda frase é particularmente problemática porque ele acusa os seus críticos de falta de patriotismo e baseia a sua oposição às políticas presidenciais num desejo de ganho partidário ao invés de numa crença sincera de que o plano pode ser um erro. Enquanto Obama pode estar falando especificamente a respeito da sua oposição congressional, argumentos similares são feitos contra qualquer um que critique um governo ativista, incluindo os liberais clássicos.
Meios e fins
Como destaquei anteriormente, o problema aqui surge do problema de se distinguir meios de fins. Afirmando que eles são moralmente superiores porque apenas eles estão preocupados com o “país” ou em ajudar os pobres, os críticos do liberalismo clássico assumem que as suas políticas (seus meios) são as únicas maneiras de se alcançar objetivos com valor moral (fins). Qualquer um que discordar dos meios deve, portanto, rejeitar o fim. Ou, em termos políticos, qualquer um que discordar da sua preferência política não deve se preocupar em alcançar o objetivo daquela política. Essa recusa em presumir que o interlocutor possa estar discutindo de boa-fé é a incapacidade de respeitar o princípio da reciprocidade necessário para uma discussão civilizada.
Os críticos que usam esses argumentos também caem na falácia de implorar por perguntas. Argumentando que apenas o seu plano, que presumidamente consistirá em mais gasto governamental em infraestrutura e outros “investimentos-alvo” (sem mesmo usar a palavra “estímulo”), pode criar empregos, Obama presume a ideia em questão: que o seu plano realmente criará empregos. A resposta liberal para esse plano é que ele não criaria empregos nem levaria a uma recuperação significativa, mas que o livre mercado faria ambos. Afirmando que os críticos colocam o partido em primeiro lugar, Obama nega que exista qualquer argumento razoável do outro lado.
Este último ponto leva ao que eu acho que está frequentemente na raiz da recusa de reconhecer a boa-fé no oponente. É tentador acusar essas pessoas de rejeitarem os argumentos liberais sem mesmo ouvi-las, e não há dúvida de que, especialmente num contexto altamente politizado como numa campanha política, isso é muitas vezes verdade. Mas assumir que esse é o motivo por que os outros não discutem conosco de boa-fé seria fazer exatamente o que nós os acusamos de fazer!
Malícia de ninguém
Existe outra explicação para a atitude dos nossos oponentes? Eu acho que deveríamos, pelo menos, começar assumindo que aqueles que tentam monopolizar a superioridade moral, não o fazem por malícia, mas porque eles nunca ouviram o que eles pensam ser um argumento sensível para a nossa posição. Para muitas pessoas, é óbvio que a maneira de criar empregos é fazendo o governo gastar mais, e é provável que eles não tenham encontrado críticas ou alternativas para essa ideia.
Ao invés de supormos que se trata de má-fé, deveríamos presumir que se trata de ignorância e fazer o melhor para remediar a situação. Pode ser que a nossa suposição de boa-fé esteja errada, e neste caso podemos desafiar o oponente evidenciando o seu erro. Mas até que tenhamos evidências dessa conclusão, devemos dar aos nossos oponentes o respeito que gostaríamos de receber deles. E isto significa compreender e respeitar os seus melhores argumentos. Apenas então saberemos que realmente existem pessoas inteligentes que sinceramente desejam tornar o mundo melhor e que têm argumentos diferentes dos nossos que não podemos facilmente ignorar. Quando reconhecermos que os outros não são nem estúpidos nem insensíveis seremos capazes de alcançar um diálogo genuíno.
Steven G. Horwitz é economista da St. Lawrence University
Esta matéria foi originalmente publicada em 14.09.2011 pelo Instituto Ordem Livre