Iêmen: o próprio nome do país traz muitos pensamentos à mente. Ele é um dos centros mais antigos da civilização na região e é atualmente o segundo maior país da Península Arábica. Se isso não impressioná-lo, o Iêmen também é o único Estado na Península Arábica que tem uma forma puramente republicana de governo e foi o primeiro país da região a conceder o direito de voto às mulheres.
De fato, um bom currículo! Infelizmente, nos últimos tempos, o Iêmen não apareceu nos jornais pelas razões certas. Por mais duro que possa parecer, o Iêmen atual está longe de ser perfeito.
Algum contexto histórico
A unificação iemenita ocorreu em 1990, quando o Iêmen do Norte (oficialmente, República Árabe do Iêmen) foi unido com Iêmen do Sul (República Popular Democrática do Iêmen). O que parecia ser uma unificação pacífica, mais tarde, levou a um clima de guerra civil e uma busca de tomada de poder se seguiu.
Embora houvesse sinais de insurgência no final dos anos 1990 e início de 2000, a “revolução” real ocorreu em 2011. De fato, a Revolução Iemenita quase coincidiu com os grandes protestos da Primavera Árabe. As questões iniciais focadas pela Revolução incluíam o desemprego, uma economia deprimente e a corrupção.
As coisas logo foram por água abaixo e certos protestos levaram a confrontos violentos entre os ativistas e a polícia. Sob pressão doméstica e internacional, um governo conjunto foi estabelecido, com a intenção de elaborar uma nova Constituição e realizar eleições presidenciais e parlamentares em 2014.
Como esperado, a insurgência não pereceu. O Iêmen está hoje dividido em vários grupos (que por sua vez são divididos entre seitas sunitas e xiitas), ambas violentas e pacíficas, bem como facções pró-governo. Adicione a isso o fato de que EUA não sabem como manter seus drones e bombas longe dos civis, e você terá uma ideia da situação caótica que o Iêmen vive atualmente.
Situação atual
Então, haverá eleições no ano que vem no Iêmen? As chances parecem sombrias. O que torna as coisas ainda piores é o fato de que a menos que eleições sejam realizadas em tempo (em 2014, como prometido), a própria essência da revolução pode morrer. Iemenitas podem ser forçados a voltar às ruas e pressionar por reformas democráticas. Quer seus protestos produzam qualquer mérito ou não é uma questão discutível, mas com certeza os insurgentes não perderão tempo em sequestrar a revolução e impor sua agenda violenta.
Não se enganem sobre isso: em 2011, a revolução iemenita ofereceu um raio de esperança. Ela acenou para uma possível mudança que o Iêmen poderia finalmente ser capaz de eliminar as algemas elitistas e prosseguir em direção ao crescimento e a prosperidade de seu povo. Quando o ex-presidente Ali Abdullah Saleh foi marginalizado, numerosos manifestantes em todo o Iêmen tiveram um motivo para se alegrar.
No entanto, isso parece estar desaparecendo enquanto falamos. O substituto de Saleh, o presidente-interino Mansour Hadi, não é nada revolucionário. Claro, isso não significa que seu mandato como presidente de transição tem sido decepcionante, mas Hadi também não tem muitas coisas boas a dizer.
O principal ponto de discórdia é a quase fracasso da Conferência de Reconciliação Nacional (doravante abreviada como CRN). O objetivo da CRN era encontrar uma base comum de acordo entre todos os setores das massas iemenitas, para implementar com sucesso uma nova Constituição e avançar para as eleições de 2014. No entanto, como a CRN aprendeu da maneira mais difícil, resolução rápida e eliminação das diferenças sectárias, políticas e étnicas não são coisas simples. Naturalmente, isso dá aos adeptos de Saleh alguma coisa para falar: a CRN está à beira do fracasso e, portanto, o regime anterior sob Saleh provavelmente não era tão mau.
Para piorar as coisas, os delegados da parte sul do Iêmen decidiram que deixar a CRN foi uma coisa inteligente a fazer. Por quê? Porque quando tudo está desmoronando, separatismo soa mais saboroso do que nunca.
A partir de agora, a situação no Iêmen é muito diferente da Revolução Iemenita de 2011. Naquela época, tanto o Norte como o Sul ficaram juntos na luta contra a corrupção e a governança ineficiente. Infelizmente, a visão coletiva promovida pela revolução de 2011 não se transformou em vitória política, pois mesmo após a eliminação de Saleh, as coisas não conseguiram avançar como planejado.
A comunidade internacional também não foi capaz de desempenhar um papel adequado na crise iemenita. Na melhor das hipóteses, ao se aliar com Saleh ou Hadi, as potências estrangeiras apenas mataram o vigor da Revolução.
E agora?
A situação pode ser melhor do que costumava ser dias antes da unificação. No entanto, o Iêmen está atualmente parado na beira de um precipício. Se as coisas continuarem a ir ladeira abaixo a partir daqui, a unificação de 1990 alcançada entre o Norte e o Sul do país pode estar seriamente ameaçada. Para tornar as coisas piores, tanto o Norte como o Sul são marcados por divisões internas e divergências próprias.
As divisões no Iêmen crescem num ritmo rápido. Nesta encruzilhada, se o presidente-interino Hadi sair ou for removido, o Iêmen pode ser dilacerado por uma luta de poder atroz. Pior ainda, se ele estender seu mandato, a agitação política pode aprofundar e segregar ainda mais o Norte e o Sul.
Uma terceira alternativa poderia ser que o antigo regime de Saleh voltar, possivelmente como uma entidade capaz de unir o povo iemenita e salvar o país da desintegração. Embora isso possa salvar o Iêmen de outra guerra civil, também esterilizará tudo o que a revolução de 2011 representou.
O Iêmen é um dos países mais pobres do mundo e os iemenitas estão cientes deste fato. Mesmo no meio de tal caos e pobreza, o espírito da revolução ainda está forte, embora o frenesi e a euforia pareçam estar morrendo. Considerando o fato de que o governo interino está sendo uma testemunha silenciosa do aumento da instabilidade no país, os iemenitas em breve poderão ser obrigados a reacender a revolução e pressionar por democracia e transparência novamente.
Sufyan bin Uzayr é autor de Sufism: A Brief History. Ele escreve para várias publicações impressas e online e recentemente começou seu próprio blogue progressivo chamado Political Periscope. Você também pode entrar em contato com ele usando Facebook ou Google+
Esta matéria foi originalmente publicada pela Foreign Policy in Focus