A passagem dos icebergs muda as características da água do oceano
Numa descoberta que tem implicações globais para a pesquisa climática, cientistas descobriram que quando os icebergs esfriam e diluem os mares por onde passam por dias, eles inclusive elevam os níveis de clorofila na água que, por sua vez, podem aumentar a absorção de dióxido de carbono no Oceano Antártico.
Uma equipe de pesquisa interdisciplinar apoiada pela Fundação Nacional da Ciência (NSF), EUA, destacou a pesquisa na revista Nature Geociences.
A pesquisa indica que “o transporte e o derretimento dos icebergs desempenham um papel na distribuição do fitoplâncton no Mar de Weddell”, o que não se suspeitava antes, disse John J. Helly, diretor do Laboratório de Meio Ambiente e Ciências com o Centro de Supercomputação de San Diego, na Universidade da Califórnia–San Diego, e o Instituto Scripps de Oceanografia.
Helly foi o principal autor do artigo “Esfriamento, Diluição e Mistura da Água Oceânica pela Flutuação à Deriva-Livre de Icebergs no Mar de Weddell”, que foi publicado pela primeira vez na revista Deep-Sea Research Part II.
O resultado indica que os icebergs são especialmente suscetíveis a influenciar a dinâmica do fitoplâncton numa área conhecida como “Beco do Iceberg”, a leste da Península Antártica, a porção do continente que se estende para o norte em direção ao Chile.
As últimas descobertas adicionaram uma nova dimensão a pesquisa anterior realizada pela mesma equipe que alterou a percepção sobre os icebergs como sendo enormes, familiares, mas passivos elementos da paisagem marinha da Antártica. A equipe mostrou anteriormente que os icebergs atuam, com efeito, como um “oásis” oceânico de nutrientes para a vida aquática e aves marinhas.
A equipe de pesquisa indica que icebergs comuns tendem a se tornar mais prevalentes no Oceano Antártico, particularmente à medida que a Península Antártica continua com uma tendência de aquecimento bem-documentada e plataformas de gelo se desintegrando. A pesquisa também mostra que estes icebergs comuns são elementos importantes não apenas no ecossistema marinho, mas inclusive no ciclo global de carbono.
“Estas pequenas novas descobertas amplificam os achados anteriores da equipe sobre icebergs e confirmam que icebergs contribuem a outra, anteriormente insuspeitável, dimensão da complexidade física e biológica dos ecossistemas polares”, disse Roberta L. Marinelli, diretora do Programa de Ecossistemas e Organismos Antárticos do NSF.
O NSF gerencia o Programa Antártico dos EUA, através do qual coordena todas as pesquisas norte-americanas científicas e logísticas relacionadas no extremo sul do continente e abordo de navios no Oceano Antártico.
As últimas descobertas documentaram uma alteração persistente nas características físicas e biológicas das águas na superfície após o trânsito de um iceberg, o que tem um efeito importante na população de fitoplânctons, demonstrando claramente “que icebergs influenciam as águas da superfície oceânica e sua mistura em maior proporção do que se pensava”, disse Ronald S. Kaufmann, professor associado de ciência marinha e estudos ambientais da Universidade de San Diego e um dos autores do artigo.
Os pesquisadores estudaram o efeito por amostragem da área em torno de um grande iceberg com mais de 32 quilômetros de comprimento; a mesma área foi examinada novamente, 10 dias mais tarde, após o iceberg ter se afastado.
Após 10 dias, os cientistas observaram concentrações elevadas de clorofila e concentrações reduzidas de dióxido de carbono, quando comparadas às áreas próximas sem icebergs. Estes resultados são consistentes com o crescimento do fitoplâncton e a remoção do dióxido de carbono do oceano.
Os novos resultados demonstram que os icebergs fornecem uma conexão entre os domínios geofísicos e biológicos que afeta diretamente o ciclo de carbono no Oceano Antártico, acrescentou Marinelli.
Em 2007, a mesma equipe publicou as descobertas no periódico Science que icebergs servem como “hotspots” para a vida oceânica com comunidades prósperas de aves marinhas acima e uma rede de fitoplânctons, camarões e peixes abaixo. Naquela época, os pesquisadores relataram que os icebergs mantinham preso material terrestre, o qual era liberado no mar quando derretiam, um processo que produz um “efeito halo” com significante aumento de nutrientes e camarões ao longo de um raio de mais de três quilômetros.
A nova pesquisa foi conduzida como parte de um projeto multidisciplinar que também envolveu cientistas do Instituto de Pesquisa do Zoológico Aquático da Baía de Monterey, da Universidade da Carolina do Sul, da Universidade de Nevada-Reno, da Universidade Brigham Young, e do Laboratório Bigelow de Ciências Oceânicas.
A bióloga marinha do Instituto Scripps de Oceanografia, Maria Vernet e o estudante de graduação Gordon Stephenson também contribuíram para o artigo.