Hung-Kuan Chen tinha uma afinidade natural para a ciência desde criança e desejava se tornar um cientista. Por causa de sua natureza curiosa, ele queria explorar o mundo e acreditava que a ciência era o caminho a seguir, mas uma súbita revelação aos 16 anos levou a uma mudança de direção.
O jovem Chen estava praticando o lento movimento Sonata nº 29, op. 106, para Piano de Beethoven (mais conhecida como a Hammerklavier), quando teve o que ele chama de uma experiência mística – a sensação de que havia algo imenso para além da peça que ele não conseguia entender.
Nascido em Taiwan, Chen estava morando na Alemanha naquela época, pois sua irmã mais velha já estava se tornando uma pianista profissional. A experiência provocou sua curiosidade natural e levou-o a pensar o que mais poderia descobrir através da música e da ciência.
“[A música] abriu um mundo diferente para mim que eu não conhecia antes”, disse Chen numa entrevista por telefone de seu estúdio de Boston.
Hoje, Chen é um dos pianistas mais premiados de sua geração. Ganhador do prestigiado Avery Fisher Career Grant, ele também foi premiado com honras na Arthur Rubinstein, o Busoni, o Montreal, e nas competições Internacionais de Piano Geza Anda, entre outros.
Professor realizado, Chen atualmente leciona na New England Conservatory, em Boston, e também na Universidade de Yale. Ele também ensinou na Universidade de Boston e recebeu o título de Artista Distinto em Residência na Mount Royal University, em Calgary.
Criando um sentimento de admiração
Chen disse que ele tem uma abordagem holística para a vida e a música, acreditando que há muito mais lá fora do que o que se vê, ouve e toca.
Sua música tem sido aclamada por produzir um sentimento de admiração na plateia, algo que ele compara a um milagre – algo que é ao mesmo tempo estranho, bonito e exaltante.
“Eu acho que é um eterno desejo que nós, seres humanos, temos. Queremos milagres, queremos estar num mundo de maravilhas, queremos ser atraídos e acreditar que existe essa beleza incrível”, disse ele, acrescentando que a música permite experimentar isso.
Ele acredita que essa maravilha é criada quando o artista é capaz de canalizar a fonte que inspirou a composição da música, que ele vê como uma realidade maior ou verdade. Na filosofia chinesa, este conceito refere-se à unidade (o Tao), que Chen acredita ser o equivalente ao que as pessoas entendem como Deus, no Ocidente.
Para Chen, os artistas são particularmente sortudos, porque sua profissão lhes permite se conectar a esta maior sensação de realidade. Ele acredita que a intuição tem um papel importante neste processo.
“Para mim, a abordagem intuitiva é o mais importante, e a abordagem intelectual vem logo após – está um passo atrás”.
Chen entrou numa sintonia especial com esta abordagem holística depois de uma lesão que sofreu na mão, em 1992, o que levou a distonia focal, uma condição neurológica que tem afligido muitos músicos, incluindo o pianista norte americano Leon Fleischer.
Ele ficou completamente ausente do piano por seis anos e só veio a se recuperar totalmente 13 anos mais tarde. No entanto, quando começou a tocar novamente, sentiu-se revigorado e equipado com uma melhor compreensão da vida e da música.
“Isso me deu a oportunidade de ver o mundo de forma diferente, de experimentar a vida de forma diferente, e de entender as coisas que eu não teria entendido se eu apenas tocasse piano. Por isso, eu acho que foi um presente”.
Chen disse que sua intuição e estudo de qigong, um tipo de yoga com um foco espiritual, ajudou-o a melhorar, coisa que muitos outros músicos não conseguiram.
Guiando jovens músicos
Chen disse que a educação musical é uma oportunidade maravilhosa para as crianças, observando que a idade de 6 ou 7 é um bom momento para começar – a idade que ele tinha quando começou a tocar.
“Escolher a música ajuda a cultivar a mente, o corpo e o espírito”, disse ele, acrescentando que a música também cultiva as emoções e um senso de beleza e proporção, entre outras coisas.
“É quase uma educação completa”.
Chen explicou que na antiga sociedade chinesa, os estudantes que queriam se tornar oficiais do governo tinham de passar por uma série de quatro exames, os quais eram: música, xadrez, literatura e arte visual. A música foi a primeira, o que não foi coincidência. Ele acredita que isso ocorreu porque a música é a mais complexa e a mais equilibrada de todas.
Ele observou que a Universidade de Harvard é um exemplo de escola que dá atenção especial a candidatos que são músicos.
“Uma vez que [as crianças] entram em contato com ela, elas podem desenvolver senso de valor estético e, talvez, até mesmo pensamento complexo”, disse ele.
Muitos estudos têm mostrado que crianças que estudaram música possuem melhor desempenho em outras áreas porque sua mente é mais rápida, disse Chen.
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