O Hospital Queen Mary é o repositório de um banco de dados de transplantes de fígado da China que possui evidência que pode ser usada para ajudar a expor a prática da extração forçada de órgãos na China.
“O governo do Partido Comunista Chinês está encobrindo este crime, e parte… [do encobrimento] está ocorrendo no Hospital Queen Mary de Hong Kong”, disse o advogado canadense de direitos humanos David Matas num fórum em 28 de novembro, realizado em Hong Kong pelos ‘Médicos Contra a Colheita Forçada de Órgãos’ (DAFOH), uma organização de direitos humanos com sede em Washington DC.
O banco de dados é fechado ao público, mas nem sempre foi assim, segundo Matas, que passou anos investigando a colheita forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong e de outros prisioneiros de consciência realizada pelo Partido Comunista Chinês (PCC).
“Cada hospital na China tem de relatar casos de transplante de fígado ao Hospital Queen Mary. Estes dados eram abertos ao público no passado, mas quando outros pesquisadores e eu começamos a citar o bando de dados como referência, eles proibiram o acesso”, explicou Matas no fórum de 28 de novembro.
Com sua unidade de cirurgia de alta sofisticação, o Hospital Queen Mary é responsável por gerenciar o banco de dados do ‘Registro de Transplante Hepático da China’ (CLTR), que foi criado em fevereiro de 2005 para registrar todas as cirurgias de transplante de fígado na China. O objetivo do banco de dados é ajudar na análise científica e avaliação e estabelecer uma plataforma de intercâmbio científico entre os centros de transplante de fígado na China e ao redor do mundo.
“É extremamente útil e importante obter esses dados”, disse Damon Noto, o porta-voz dos DAFOH.
“Isso nos ajudará a rastrear quantos fígados são transplantados, em que hospitais e com que frequência”, disse ele. “Quando a China diz que eles estão fazendo menos transplantes agora, nós não podemos confiar nesta afirmação. Esse registro permitirá confirmar quantos hospitais estão fazendo o quê.”
“Seria bom se tivéssemos acesso ao registro de rim, ao registro de córnea e assim por diante. Isso poderia funcionar como uma amostra, permitindo-nos saber quantos órgãos estão sendo transplantados na China e onde”, acrescentou Noto.
O CLTR cobre 80 centros de transplante de fígado em 36 cidades na China. De 2005 a 2012, ele coletou dados sobre um total de 21.740 casos de transplante de fígado, incluindo 1.560 casos de transplante de fígado de doadores vivos.
O CLTR também classifica anualmente a qualidade e validade dos dados fornecidos por cada centro de transplante de fígado, incluindo a quantidade de fígados transplantados e se os órgãos são completos ou parciais. Os dados do Centro Oriental de Transplante de Órgãos do 1º Hospital Central de Tianjin foram classificados em primeiro lugar em 2010 e 2011.
Segundo a ‘Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong’ (WOIPFG), o 1º Hospital Central de Tianjin é um dos hospitais suspeitos de usar órgãos de praticantes vivos do Falun Gong. O hospital alcançou o recorde de 44 transplantes de fígado numa única semana em dezembro de 2004, segundo o jornal sul-coreano Chosun Ilbo. E também realizou 24 transplantes de fígado e rim em um dia, segundo familiares dos pacientes disseram ao Phoenix Weekly.
“É muito preocupante que este hospital tenha sido capaz de fazer tantos transplantes”, disse Noto. “Por que eles têm tal oferta de órgãos? Há uma prisão ou campo de trabalho forçado próximos ao hospital? Isto nos daria pistas sobre de onde os órgãos estão vindo.”
“Outra coisa é, não sabemos o quanto podemos confiar nos dados. Anteriormente, David Matas estava bastante confiante de que os dados eram corretos. Mas agora que afirmamos que esses dados são fundamentais, as autoridades chinesas podem falsificar os dados”, disse Noto.
“Para reconhecer se um sistema de transplante é ético, é preciso que ele seja transparente”, acrescentou Noto. “Em outros países pode-se ver os seus registros. A China não apenas deveria abrir os seus registros agora, eles devem abrir seus registros anteriores. Devemos ter acesso à história do que eles fizeram.”