O sistema de liberdade de Hong Kong têm sido um pesadelo para o Partido Comunista Chinês desde seu retorno à República Popular da China em 1997.
Em 1º de julho de 1997, o Reino Unido entregou Hong Kong, conhecida como “Pérola do Oriente”, à República Popular da China (RPC). Garantias foram feitas na forma da doutrina de “um país, dois sistemas”, conforme estabelecida na Lei Básica de Hong Kong, uma Constituição negociada antes da entrega.
“O sistema e as políticas socialistas não devem ser praticados na Região Administrativa Especial de Hong Kong e o sistema capitalista prévio e o modo de vida devem permanecer inalterados por 50 anos”, diz o Artigo 5º da Lei Básica.
A diferença fundamental entre os modos de vida na China e Hong Kong é a diferença entre ditadura do Partido Comunista Chinês (PCC) no continente e as instituições de liberdade de Hong Kong herdadas do Reino Unido.
Essas instituições de liberdade foram um grande presente. Entre outras coisas, o sistema judicial de estilo britânico de Hong Kong permitiu a Hong Kong se tornar um dos três principais centros financeiros internacionais do mundo, correndo páreo a páreo com Nova York e Londres.
A semente da liberdade plantada em Hong Kong pode se tornar uma árvore imponente e beneficiar toda a China com sua sombra.
Livro Branco
Em 4 de junho de 2014, data do 25º aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen), a ‘Aliança de Hong Kong em Apoio dos Movimentos Democráticos Patrióticos na China’ realizou sua vigília anual no Parque Vitória.
Mais de 180 mil pessoas participaram do evento, o maior número na história. A Aliança de Hong Kong apelou ao povo que unisse as mãos, que honrassem o movimento de 4 de junho pela democracia e acabassem com a ditadura de partido único do PCC.
Em 10 de junho, menos de uma semana após a vigília no Parque Vitória, o Escritório de Informação do Conselho de Estado da China publicou um manual de 23 mil palavras sobre a política de ‘um país, dois sistemas’ de Hong Kong, o primeiro livro branco sobre Hong Kong desde a transferência de sua soberania.
De acordo com o documento, as autoridades centrais da China têm “jurisdição completa” sobre Hong Kong. O que as autoridades do Partido Comunista concederem à Região Administrativa Especial de Hong Kong será o tanto desfrutado por Hong Kong.
O livro afirma que “um país” é a premissa e base dos “dois sistemas”; que os “dois sistemas” são subordinados a e derivados de “um país”. “Patriotismo” é o requisito político básico para Hong Kong exercer seu autogoverno.
O documento interpretativo do PCC é o Artigo 23 ressuscitado. Em 2002, o PCC tentou passar uma lei antissedição, a proposta de inclusão de um Artigo 23 na Lei Básica de Hong Kong. A população local julgou que o Artigo 23 efetivamente removia seus direitos básicos e isso gerou grandes protestos, resultando no recuo da emenda.
Este ano, entre 20-22 de junho, o povo de Hong Kong vota um referendo pelo sufrágio universal e pela eleição direta do chefe-executivo de Hong Kong. Em 1º de julho, haverá uma grande marcha pedindo a democracia em Hong Kong.
Estas manifestações e a gigante vigília em 4 de junho não demonstram o “patriotismo” exigido pelo Partido Comunista. Assim, apavorado com estes desenvolvimentos, o PCC tentou intimidar o povo de Hong Kong com seu livro branco.
Liberdade política
Há também mais uma coisa que tem aterrorizado o PCC.
A Revolução Girassol de Taiwan, que ocorreu entre 18 de março e 10 de abril, derrotou o pacto comercial que permitiria enorme influência do PCC sobre Taiwan. A liberdade política demonstrada pelo protesto estudantil também causou um efeito borboleta, com repercussões silenciosas reverberando em toda a China.
A Revolução Girassol, a vigília de 4 de junho, o referendo de 22 de junho e a grande marcha de 1º de julho são significantes manifestações de massa pela liberdade política organizadas pelos cidadãos de Hong Kong e Taiwan.
Se o poder do exemplo desses eventos irradiar de Hong Kong para a China continental, isso pode reacender a paixão e a vontade dos cidadãos do continente de participarem num movimento pela liberdade política. Outro movimento de grande escala, como o Movimento pela Democracia de 1989, poderia ocorrer. Para o PCC, esta é uma crise política crucial.
Se a votação pública de 22 de junho dos cidadãos de Hong Kong atrair a atenção do público em geral na China continental, os cidadãos chineses do continente naturalmente pensarão: Se as pessoas de Hong Kong podem votar publicamente, por que nós chineses do continente não podemos também?
Na era da internet de hoje, com o uso generalizado de dispositivos móveis, se tais pensamentos se espalharem pela China continental, os chineses podem exigir a abdicação do PCC por meio de eventos populares e organizados de voto. Isso pode provocar uma transformação súbita no sistema político da China.
Hoje, o PCC controla estritamente os militares, a segurança pública, a polícia militar e os funcionários do Partido. Mas o PCC não pode controlar tudo rigorosamente e definitivamente não pode controlar estritamente o coração das pessoas.
Reunindo forças
Uma vez que um forte mecanismo de interação social seja formado, isso ruirá por dentro o sistema autoritário de controle do PCC.
Nesta época de novas tecnologias, grandes forças em prol da justiça social estão rapidamente se reunindo. Se o ‘Exército de Cinquenta Centavos’ – os milhões de censores e comentaristas de blog contratados pelo regime chinês para manipular a opinião pública na internet em favor do Partido Comunista – decidir desertar e parar de censurar os internautas chineses, se mensagens de microblogs sobre o movimento de “Renúncia ao PCC” começarem a circular amplamente, então chegará o fim do regime totalitário do PCC.
No início da Guerra Fria, os alemães orientais imigraram em massa para Berlim Ocidental, atraídos pela liberdade lá. A União Soviética não podia fazer nada, mas construiu um muro, espalhou arame farpado e instalou torres de vigia. Algumas almas corajosas continuaram tentando escapar e alguns foram mortos por tentarem.
Mas o poder do exemplo de liberdade em Berlim Ocidental não podia ser bloqueado e atuava continuamente nos corações daqueles por trás da Cortina de Ferro. No final de 1989, ondas de protestos em massa abalaram a Alemanha Oriental e em 9 de novembro o Muro de Berlim caiu.
Hong Kong é a Berlim Ocidental da China. Hoje ela está sob cerco, mas o poder de um manual não pode superar o anseio do coração humano pela liberdade.