Li Kashing, um magnata de Hong Kong e o homem mais rico da Ásia, anunciou recentemente que planeja fundir suas duas principais empresas listadas, a Cheung Kong Holdings Ltd.. e Hutchison Whampoa Ltd.., e criar duas novas empresas em seu lugar.
As novas empresas, CKH Holdings e CK Property Holdings, mudarão sua base de constituição de Hong Kong para as Ilhas Cayman. Alguns analistas acreditam que o plano mostra que Li Kashing tem uma visão pessimista sobre a economia de Hong Kong, o que aumentou a preocupação de que haverá mais desinvestimento na cidade.
Numa conferência de imprensa em março do ano passado, Li Kashing insistiu que não tomaria medidas de desinvestimento em Hong Kong. Menos de um ano depois, ele anunciou sua decisão de deslocar suas empresas.
Houve especulações de que Li Kashing tomou a decisão por causa da situação política de Hong Kong. Li anunciou o plano logo após o governo de Hong Kong emitir um relatório distorcido sobre o sentimento do público e um documento que negava ao povo de Hong Kong o sufrágio universal pelo qual eles têm protestado.
Li Kashing participou de uma conferência de imprensa em 9 de janeiro para explicar a reestruturação do negócio. Seu filho mais velho Victor Li Tzar-kuoi, diretor-gerente do grupo Fok Kin-ning, e vários outros executivos o acompanharam.
Cheung Kong e Hutchison cancelarão seu status de companhias listadas no mercado de ações. Das duas novas empresas que Li Kashing criará, a CKH Holdings administrará todos os negócios não imobiliários, enquanto a CK Property Holdings irá gerir os negócios imobiliários das duas empresas anteriores.
Li Kashing, atualmente o presidente da Cheung Kong, será o presidente da CKH Holdings e da CK Property Holdings. Seu filho Victor Li continuará sendo o vice-presidente e diretor-gerente das duas empresas.
Acionistas da Cheung Kong receberão uma ação da CKH Holdings por cada ação da Cheung Kong e acionistas da Hutchison receberão 0,684 da CKH Holdings por cada ação da Hutchison.
Após a implementação do plano, a listagem de CKH Holdings será feita por introdução, e a unidade de negociação será de 500 ações. O atual código (00001) das ações da Cheung Kong será usado nas futuras negociações de ações.
Li Kashing espera distribuir mais dividendos em 2015. Ele disse que a combinação e reorganização propiciarão um futuro melhor para a empresa, eliminando o desconto de participação da Cheung Kong na Hutchison, de modo que mais valor será criado para os acionistas.
“Em resumo, isso será definitivamente bom. Vocês podem confiar em mim”, disse Li Kashing.
Razões políticas?
Li Kashing negou várias vezes que está desinvestindo de Hong Kong, dizendo que a reestruturação é para equilibrar o risco do negócio.
Ele disse que, nos últimos anos, mais de 75% das empresas de Hong Kong e da China continental têm se registrado nas Ilhas Cayman, principalmente devido a sua flexível legislação. Isto é puramente uma questão técnica, não uma deslocação do grupo empresarial, disse Li Kashing.
Victor Li disse que com a nova listagem seria possível mover os direitos controladores da Husky Energy para a companhia de Kong Hong. Quando perguntado se a realocação estava relacionada com a mudança do ambiente de investimento em Hong Kong, Victor Li disse que não pensava muito nisso ao fazer negócios.
O Movimento Guarda-Chuva em Hong Kong, um protesto de 75 dias pela democracia e o sufrágio universal, ocorreu no ano passado, quando cidadãos de Hong Kong se mostraram fartos da interferência de Pequim nas eleições locais.
Quando perguntado sobre o impacto econômico do Movimento Guarda-Chuva em Hong Kong, Li Kashing disse que isso poderia causar alguma perda para empresas de varejo em Hong Kong, mas tinha pouco impacto sobre a Cheung Kong e a Hutchison.
Li Kashing disse que a Cheung Kong opera em 52 países e regiões, com 280 mil empregados, e o Movimento Guarda-Chuva não afetaria as políticas estabelecidas da empresa. Ele sorriu e disse aos repórteres: “Escrevam de forma positiva.”
As recentes vendas maciças de ativos de Li Kashing em Hong Kong e na China continental têm sido vistas como um sinal de sua insatisfação com Leung Chun-ying, o chefe-executivo de Hong Kong.
Li Kashing não votou em Leung Chun-ying na eleição para chefe-executivo de 2012. Após Leung tomar posse, ele implementou políticas pró-comunistas em Hong Kong, o que irritou muitos cidadãos.
Desde 2013, Li Kashing vendeu grandes ativos em Hong Kong e na China continental, mudando os investimentos para a Europa e outros lugares.
Durante a conferência de imprensa, Li Kashing foi repetidamente solicitado a comentar sobre a reeleição de Leung Chun-ying. No começo, ele se recusou a responder, mas depois ele disse: “Vocês sabem melhor do que eu.”
Falta de confiança
Kwan Cheuk-chiu, um economista de Hong Kong, acredita que Hong Kong enfrenta uma crise política, e que a realocação dos negócios da família Li mostra uma falta de confiança em Hong Kong. Ele teme que outros magnatas o sigam.
“Ele parece ter baixa confiança no futuro de Hong Kong. Não é uma questão de desinvestimento ou não, ele só quer se retirar”, disse Kwan.
Quanto ao momento de desinvestimento, Kwan suspeita que isso está relacionado com o clima político recente e indica sua frustração sobre o caos causado pela reforma política em Hong Kong.
O conferencista sênior Lee Siu-po da Universidade Chinesa de Hong Kong, comentou que o aumento do risco político em Hong Kong nos últimos anos faz com que seja compreensível que um enorme império de negócios deseje evitar riscos.
Li Kashing anunciou a nova reestruturação logo após o governo de Hong Kong emitir uma segunda rodada de documentos sobre a reforma política, o que enfureceu os cidadãos de Hong Kong e provocou o Movimento Guarda-Chuva. No entanto, Li Kashing disse na conferência de imprensa que se a reforma política não fosse aprovada, seria pior para Hong Kong.
Alguns analistas indicam que a atual situação política em Hong Kong está intimamente relacionada com a luta entre a facção do atual líder chinês Xi Jinping e a facção do ex-líder chinês Jiang Zemin. Analistas acreditam que Li Kashing não quer se envolver na luta de Pequim, que ele perdeu a confiança no Partido Comunista Chinês e que pretende proteger seus negócios por meio da realocação.