O “Holocausto Oculto” na China

18/03/2014 12:00 Atualizado: 21/03/2014 13:45

Em 2009, praticantes do Falun Gong e simpatizantes recordaram os mais de 10 anos da perseguição do regime chinês ao Falun Gong, uma campanha que tem sido chamada de “holocausto oculto”.

Este tema foi elaborado pelo porta-voz do Falun Gong, John Deller, em 15 de julho de 2009, no fórum do Parlamento do Estado de NSW em Sidney, Austrália.

“Um holocausto é descrito como qualquer massacre ou a destruição irresponsável da vida, e estou certo de que vocês concordariam que isto é o que está acontecendo”, disse o Sr. Deller.

O primeiro a falar foi o membro do Conselho Legislativo de NSW, Rev. Hon. Dr. Gordon Moyes. Ele comentou sobre ter sido pego contrabandeando bíblias para dentro da China e sobre seus esforços em ajudar estudantes chineses a adquirirem moradia permanente na Austrália após o massacre da Praça da Paz Celestial em 1989.

O Dr. Moyes disse que quando o primeiro fórum do Parlamento do Estado foi realizado anos atrás, a embaixada chinesa os contatou por telefone, pressionando-os para que cancelassem o evento. O Dr. Moyes certificou-se de que isto não ocorresse.

“Nós respondemos que a embaixada estava se intrometendo indevidamente. Depois disto, nunca mais fui convidado a voltar à China.”

Ele disse que havia conhecido missionários chineses com cicatrizes e estórias sobre tortura e espancamentos, similar ao modo como os praticantes do Falun Gong são tratados hoje.

“Há pouco tempo atrás eram os cristãos que passavam por isto”, disse o Sr. Moyes. “Minha preocupação é com os direitos humanos, quer seja para Cristãos ou pessoas do Falun Gong.”

“A China poderia ser o maior país do mundo, mas eles precisam entender que os direitos de cada pessoa são inalienáveis.”

Embaixada chinesa

O Sr. Deller falou do desenvolvimento do Falun Gong e da subsequente perseguição na China. Ele recordou à audiência que em 1995, quando a prática foi disseminada no exterior, a primeira palestra do fundador do Falun Gong, Li Hongzhi, foi dada na embaixada chinesa na França, após um convite do embaixador chinês.

Ele disse que ao contrário de algumas crenças, o Falun Gong (também conhecido como Falun Dafa) prospera na China, particularmente por meio do uso do website Minghui.com, que foi criado e é mantido por praticantes do Falun Gong como forma de trocar informações sobre a prática e expor as atrocidades do Partido Comunista Chinês (PCC).

“É através do acesso deste site que os praticantes do Falun Dafa dentro da China tem sido capazes de se comunicarem com o mundo externo”, comentou Deller.

Ele disse que 254 mil casos de perseguição foram registrados no Minghui desde julho de 1999, quando a perseguição começou, até 2009, e que, no mesmo período, o site já havia recebido mais de 406 mil declarações solenes de praticantes do Falun Gong afirmando que as declarações feitas anteriormente sob pressão das autoridades contra o Falun Gong eram nulas e inválidas.

“Isto nos passa uma ideia da escala da perseguição”, disse Deller.

Ele disse que a perseguição ao Falun Gong tem implicações no mundo inteiro. O PCC tem separado o povo chinês de seus valores tradicionais, força-os a participar da perseguição ao Falun Gong, e está tentando fazer o mesmo no exterior.

“O Partido Comunista está tentando aliciar pessoas no Ocidente para o mesmo propósito”, afirmou Deller. “É basicamente um ataque à moralidade humana.”

“Nossos pensamentos irão inclusive ajudar a desintegrar o Partido Comunista ou ajudar a sustentá-lo.”

O Sr. Deller comentou que a perseguição ao Falun Gong é ilegal pelas próprias leis chinesas, uma vez que os tribunais não têm permissão de aceitar casos do Falun Gong e advogados não tem permissão de representar praticantes do Falun Gong.

Similarmente, os governos dos países ocidentais bloquearam ações legais contra autoridades chinesas.

“Infelizmente a Austrália não é exceção”, conta Deller, descrevendo um certificado emitido pelo Ministro das Relações Exteriores, Stephen Smith, sobre o Ato de Imunidade dos Estados Estrangeiros, o qual permite ao Ministro conferir imunidade a um oficial de Estado estrangeiro cujo tribunal tem de aceitar.

“Este certificado é na verdade uma diretiva à corte que é perturbadoramente semelhante à diretiva dada às cortes na China”, afirmou o Sr. Deller.

Um “inferno na Terra”

Sobrevivente de um campo de trabalhos forçados, praticante do Falun Gong, e autora do best-seller Witnessing History (Testemunhando a História, ainda sem tradução para o português), Jennifer Zeng descreveu a vida no interior de um campo de reeducação pelo trabalho para mulheres em Pequim após ser presa em abril de 2000.

Ela foi torturada com o objetivo de fazê-la desistir de sua crença no Falun Gong.

“Quando as pessoas me perguntam como era a vida no campo de trabalhos, só posso dizer que foi um inferno”, disse Zeng.

Ela disse que foi eletrocutada com bastões elétricos, impedida de dormir por dias seguidos e forçada a permanecer agachada por horas sob o sol. Ela viu um preso amarrado durante dias numa cama, incapaz de se mover, fazendo com que a carne de suas nádegas e costas apodrecesse.

“Este tipo de abuso era muito comum no campo,” afirmou Zeng.

Ela também teve de trabalhar sem descanso desde 5:30 da manhã até 1 ou 2 horas da madrugada todos os dias produzindo blusas, carteiras e brinquedos de pelúcia de exportação para países ocidentais.

“Sabíamos que eles eram para os ocidentais por causa dos tamanhos maiores”, disse Zeng. “Não era para o povo asiático.”

Ela também teve seu sangue testado e foi submetida a raios-x. Com o surgimento de evidências de que os praticantes do Falun Gong estavam sendo mortos e tendo seus órgãos extraídos, ela depois compreendeu o significado daqueles exames.

Investigação pessoal

O jornalista Ethan Gutmann falou de sua investigação pessoal sobre as alegações de extração de órgãos, e a falta de cobertura da mídia ocidental.

“Quando os testemunhos sobre a extração de órgãos apareceram, você poderia contar o número de reportagens detalhadas na mídia ocidental nos dedos de uma mão”, disse Gutmann.

Ele entrevistou mais de 100 pessoas e descobriu que uma grande porcentagem tinha experimentado “exames de sangue caros e inexplicáveis”, além de exames físicos de suas córneas que poderiam ser transplantados.

Era estranho que isto fosse feito sem as verificações correspondentes da boca, ouvidos e órgãos genitais, que seriam mais importantes num exame de saúde física.

Ele disse que o regime comunista chinês estava sem saber o que fazer com as dezenas ou mesmo centenas de milhares dos mais obstinados praticantes do Falun Gong que se recusavam a serem “transformados”.

“Os praticantes do Falun Gong tornaram-se o equivalente a tambores vazando resíduos tóxicos”, disse Gutmann. “Eles se tornaram muito caros para manter e muito arriscados para liberar.”

Ele disse que estas pessoas anônimas e desumanizadas são alvos vulneráveis para a extração de órgãos.

Suas investigações foram publicadas em 2008 no periódico The Weekly Standard.