Apesar do colapso da coalizão, o Parlamento tem uma semana para apresentar orçamento para Bruxelas
AMSTERDÃ – Na Grécia, há pouco para rir estes dias, mas a queda do governo holandês sobre negociações do corte do orçamento provavelmente deixou muitos gregos com uma risadinha.
Afinal, nos últimos meses, Amsterdã, ao lado de Berlim, tem sido um dos maiores defensores da necessidade de países europeus cortarem bilhões de dólares em gastos para cumprir as difíceis metas do déficit.
Mas agora, a Holanda, que tem uma das economias mais fortes da Europa, tem falhado em chegar a um acordo sobre a forma de estreitar e dobrar seu défice orçamental abaixo dos 4,5% do PIB para o máximo permitido de 3%.
“Confesso que eu gostei da queda do governo holandês e da dissolução de Merkel [e] seus parceiros que participaram nesta terrível política econômica que levou a uma estagnação da economia europeia e aumento do desemprego”, escreveu o jornalista grego Paul Stragas em 18 de abril.
Após sete semanas de negociações a portas fechadas, os líderes políticos da Holanda foram incapazes de chegar a um acordo sobre o orçamento, resultando no colapso da coalizão minoritária em 21 de abril.
Esse momento veio quando Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade de extrema-direita, deixou as conversas com o primeiro-ministro Mark Rutte do Partido Popular para a Liberdade e Democracia e parceiro de aliança do Partido Democrata Cristão.
Wilders, cuja principal plataforma gira em torno da anti-imigração e Islã-fobia, subiu rapidamente no palco político holandês. Fundado em 2006, seu Partido da Liberdade se tornou o terceiro maior depois das eleições de 2010.
Durante o debate de 24 de abril no Parlamento sobre a queda do governo, Wilders foi amplamente criticado tanto por seus ex-parceiros de aliança, bem como pela oposição política por deixar as negociações do orçamento e mergulhar o país numa crise política.
Wilders diz que ele simplesmente não podia concordar com os cortes orçamentários propostos porque feriria o homem e a mulher comum, aos quais ele se refere como “Henk e Ingrid”. Ele culpa os problemas de orçamento sobre o custo elevado da União Europeia, argumentando que é injusto que o país precise cortar bilhões de euros no mercado interno, enquanto bilhões vão para Bruxelas.
“Ou optamos por Henk e Ingrid; ou optamos por Bruxelas e os megacortes orçamentais, e destruímos a economia”, disse Wilders no Parlamento em 24 de abril.
Apesar da crise política, a Holanda, com uma das 20 maiores economias, ainda terá de avançar com um plano de orçamento para 2013 até 30 de abril que atenda às metas europeias.
O desafio para o primeiro-ministro Rutte, agora oficialmente um primeiro-ministro interino, é como encontrar apoio suficiente da oposição para passar sua proposta de orçamento, contendo cerca de 14 bilhões de euros (18,5 bilhões de dólares) em cortes.
Dado que a coligação de direita dividiu-se sobre a questão, governar nos partidos de esquerda da oposição deverá ser ainda mais difícil. Eles já indicaram que não podem concordar com muitos dos cortes propostos, e alguns membros da oposição estão sugerindo que seria bom para a Holanda não cumprir as metas do défice da Europa. Este ponto de vista é rejeitado pela maioria dos economistas que apontam que o país poderá enfrentar pesadas multas de Bruxelas, se as metas não forem cumpridas.
A queda do governo Rutte é a última de uma série de líderes europeus a serem derrotados pela crise da dívida. Na Grécia, o ex-primeiro-ministro George Papandreou renunciou sob pressão da Europa depois de se atrever a pedir um referendo nacional sobre cortes orçamentários obrigatórios, o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi também renunciou sob pressão europeia. Na Eslováquia, o governo caiu sobre a questão, e na Irlanda, Espanha, Portugal os líderes não foram reeleitos.
Analistas acreditam que se o candidato presidencial socialista francês François Hollande vencer a eleição presidencial na França em 6 de maio, a Europa poderá ver grandes mudanças na forma como lidar com a crise. Até agora, os líderes das duas maiores economias da Europa, Alemanha e França, têm estabelecido a principal estratégia de um orçamento equilibrado. Hollande prometeu que se ganhar, reverterá a direção austera da Europa, o que poderia revelar-se muito popular com o número crescente de nações com economias cansadas.
Com reportagem de Neli Magdalini Sfigopoulou em Atenas.