Hidroelétricas: Longe de serem “energia limpa”, são fábricas de metano sem fim

27/05/2013 16:29 Atualizado: 06/08/2013 17:17
Estudos demonstram que a contaminação das represas por dióxido de carbono e metano é significativa
A represa hidroelétrica de Itaipu no Rio Paraná, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, em Foz do Iguaçu, é a maior da América do Sul (AFP/Evaristo SA/Getty Images)

O Prof. Philip M. Fearnside, doutor em Ciências Biológicas da Universidade de Michigan, afirma que é um erro chamar a energia hidrelétrica de energia verde ou limpa, porque “infelizmente, as barragens, especialmente nos trópicos, emitem grandes quantidades de gases de efeito estufa”.

“Eu não fui o primeiro a descobrir que as barragens emitem gases de efeito estufa”, diz Fearnside, que agora é professor no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em Manaus, Amazonas, Brasil. Um artigo com a sua análise foi publicada pela Universidade de Harvard.

Quando um grupo do Canadá publicou um artigo em 1993, com registros de emissões dos reservatórios do país, Fearnside disse que “dois anos depois, eu mostrei que algumas barragens da Amazônia, como Balbina, emitem mais gases de efeito estufa; esse documento foi o que enfureceu a indústria da energia hidroelétrica”. Por fim, as hidroelétricas mudaram sua posição de negação completa ao admitirem que algumas barragens emitem gases de efeito estufa, “porém, apenas uma quantidade insignificante”.

“Infelizmente, os valores não são insignificantes, especialmente se os cálculos forem feitos sem omitir as fontes de emissão importantes.”

Fearnside destaca primeiramente que as árvores deixadas fora d’água, para se desintegrarem a céu aberto, liberam seu carbono como dióxido de carbono. Além disso, embora a madeira seja decomposta muito lentamente sob a água, este não é o caso para a vegetação macia, como o carbono nas folhas e no solo, o que significa maior liberação de CO2.

Outra questão é a camada superficial de água num reservatório, que é mais quente e menos densa e que está em contato com o ar rico em oxigênio. Esta camada mede cerca de dois a dez metros de profundidade e mantem-se separada, sem se misturar com a camada inferior mais fria e mais densa. Esta separação é chamada termoclina.

“A água das duas camadas não se mistura e o oxigênio na camada inferior é rapidamente esgotado, deixando esta camada quase sem oxigênio”, diz Fearnside, argumentando que nesta área do fundo do reservatório acaba se produzindo metano (CH4), em vez de dióxido de carbono (CO2), uma vez que esta camada não tem oxigênio para formar CO2.

“Embora esteja presente em concentrações muito menores na atmosfera, o metano é um gás de efeito estufa muito mais potente do que o dióxido de carbono”, diz o estudo.

“Parte do metano é liberado do reservatório na forma de bolhas ou por difusão, que ocorreria num lago formado naturalmente.”

No caso das emissões de uma central de energia hidroelétrica, a água é extraída da parte inferior do reservatório, bem abaixo da área de separação da água com e sem oxigênio, ou termoclina.

“A água liberada pela barragem está carregada com metano. Uma vez que a solubilidade do gás na água é proporcional à pressão (Lei de Henry na química), o metano forma bolhas e estas escapam quando a pressão surge subitamente, como quando a água sai das turbinas. Este é o mesmo fenômeno que é evidente quando você abre uma garrafa de refrigerante: os gases formam bolhas quando a pressão é liberada pela remoção da tampa. A pressão sob o peso da água no fundo de um reservatório é muito maior do que no interior de uma garrafa de refrigerante e, assim, a liberação de gás é também maior quando a pressão é liberada”, observa o cientista.

“Muitas estimativas de emissões de hidrocarbonetos têm sido usadas para afirmar que as pequenas emissões indicadas subestimam ou ignoram as principais fontes de emissões.” As emissões das turbinas e vertedouros são muitas vezes completamente ignoradas, destaca o professor, que tinha denunciado este fenômeno em junho de 2012, num estudo realizado por Salvador Pueyo e publicado na revista Nature.

A maior parte do metano é emitida quando a água deixa a turbina e o resto é liberado no próprio interior das turbinas, diz o estudo.

O único modo prático para evitar subestimar as emissões, segundo o cientista, é calcular a diferença entre a concentração de metano na água acima da barragem, no nível das turbinas e a jusante da barragem.

De acordo com seu estudo, nas hidroelétricas se produzem grandes emissões nos primeiros anos, após o reservatório ser inundado, devido à liberação de carbono das folhas das árvores e do solo. Em seguida, esses níveis diminuem gradualmente, mas não desaparecem.

A característica que denota a formação de metano é durante a subida e descida do nível da água a cada ano. Quando a água é extraída para gerar energia na estação seca, um grande pântano é exposto na borda do reservatório. “Ali, as ervas daninhas crescem rapidamente e, quando a água sobe novamente, esta vegetação macia se decompõe no fundo do reservatório onde a água tem reduzido oxigênio.”

Por meio da fotossíntese, a vegetação remove o CO2 da atmosfera, mas retorna na forma de metano, um gás de efeito estufa muito mais potente. Devido a este processo contínuo, o reservatório funciona como uma “fábrica de metano” interminável.

“Infelizmente, não temos muito tempo para começar a fazer algo sobre o aquecimento global”, diz o professor. O plano de 2011-2020 de Expansão da Energia no Brasil pede a construção de 30 grandes barragens na Amazônia, uma barragem a cada quatro meses, justo no período em que deveríamos evitar a liberação de gases de efeito estufa.

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