Hidrelétrica de Belo Monte: documentário prevê desastre irreversível à Amazônia

22/12/2011 00:00 Atualizado: 20/08/2012 15:03

Ativistas seguram cartazes e agitam bandeiras diante do Congresso Nacional em Brasília contra a construção de da hidroelétrica de Belo Monte no Rio Xingu, na Amazônia. (Evaristo S.A./AFP/Getty Images)São Paulo, Brasil – Vídeos, filmes e atos públicos dão força aos debates contra a construção da hidroelétrica de Belo Monte no Estado do Pará.

O documentário “Belo Monte – Anúncio de uma Guerra”, com imagens e entrevistas, é uma produção independente que demorou anos para ser realizada e enfoca na imposição da obra sobre a população brasileira, que nunca foi consultada.

Este vídeo estava arrecadando dinheiro até 21 de dezembro passado para poder ser exibido nas salas de cinema do Brasil e do mundo. Previamente, já se havia coletado R$ 137.410,00.

A divulgação do desastre ecológico em Belo Monte com a construção da hidroelétrica gerou vários atos simbólicos de protesto em muitas cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Campinas, Porto Alegre, Brasília, Cuiabá e Manaus.

Num ato realizado em Manaus, em 17 de dezembro, os poucos estudantes presentes argumentaram que a construção da usina afeta os direitos humanos da população.

“Não se consultou os povos que habitam a região da baía do Xingu”, afirmou o organizador do ato, em entrevista ao website G1.

Também se difundiu uma grande quantidade de vídeos de opiniões sobre o que ocorre em Belo Monte, os quais estão em circulação na internet.

Artistas famosos, pessoas diretamente envolvidas nos impactos de Belo Monte, estudantes universitários, acadêmicos, cientistas, ambientalistas e até os políticos mesmos estão trazendo a luz questões ambientais, sociais e mesmo econômicas sobre a construção da hidroelétrica.

Os problemas levantados nos vídeos não são somente de interesse nacional, mas também de interesse mundial, porque envolvem impactos numa das mais importantes florestas do mundo, a Amazônia.

Impactos sociais, ambientais, e inclusive econômicos levantam polêmica e abrem os debates sobre a construção de Belo Monte.

O vídeo do “Movimento Gota d’Água” é outro documentário que está em circulação. Ele foi feito por artistas e cineastas brasileiros e promove o lema “Xingu Vivo para Sempre”.

Ele está dando a Belo Monte “a visibilidade que merece no Brasil”, disse Rodolfo Salm, professor da Universidade Federal do Pará, ao website Correio da Cidadania.

Para o professor, o vídeo enfatizou demasiadamente o custo de 30 bilhões de reais da obra e a inundação de 640 km² de floresta.

O problema é que a construção de Belo Monte e de muitas outras hidroelétricas planejadas para as próximas décadas provocarão a “destruição de metade da floresta amazônica”, por causa de transformações devido a centenas de milhares de pessoas imigrando para a região da floresta, a perda da biodiversidade, o que, segundo ele, seria “uma imensa tragédia para a humanidade”, além de um enorme prejuízo financeiro, afirmou.

No aspecto ambiental, o argumento utilizado pelos que estão a favor da hidroelétrica é que o projeto é baseado em “energia limpa”. Um vídeo em resposta ao Movimento Gota d’Água, chamado “Tempestade em Copo d’Água” foi feito por estudantes, conduzidos por Sebastião Amorin, professor da Unicamp.

Segundo a empresa, a “energia hidroelétrica é energia limpa”. A água utilizada é tão limpa antes como depois de gerar energia, segundo o vídeo, no entanto, é sabido que além da água, a hidroelétrica gera metano, gás de efeito estufa cerca de 20 vezes mais nocivo que o gás carbônico.

O professor Salm explicou que isto ocorre devido à “degradação de matéria orgânica em condições anaeróbicas”. Além disso, ele afirma que se produz a destruição da floresta direta e indiretamente.

Inclusive no vídeo do Movimento Gota d’Água, os artistas questionam, “Seria energia limpa se fosse no deserto, porém na floresta?”

Um relatório independente de 230 páginas feito por 27 especialistas e 14 colaboradores defende que a obra não é viável do ponto de vista social e ambiental, informou Internacional Drivers.

Em termos políticos, Belo Monte atende principalmente interesses internacionais, nãos aos brasileiros, disse Oswaldo Sevá, professor da Unicamp, em entrevista à televisão Século XXI.

Além disso, não se deve observar somente a obra, mas também as pessoas que estão propondo isto, expressou o professor Sevá.

O ministro Edison Lobão começou sua carreira no período da ditadura militar e as mídias do Brasil o denunciaram por sua repressão aos opositores da ditadura.

Outros vídeos, como “O belo monstro e o belo castelo”, “Resistência contra Belo Monte – Vídeo dos estudantes da Amazônia”, e “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”, são alguns dos trabalhos que expõem opiniões das pessoas diretamente afetadas por Belo Monte.

Belo Monte é a terceira maior hidroelétrica do mundo, e começou a ser construída em 23 de junho de 2011. Está previsto que as obras finalizem em 2015, a menos que os direitos humanos dos afetados sejam escutados.

Ela produzirá capacidade máxima (no Rio Xingu) de 11,2 mil MW. A usina é uma das principais obras do Plano de Aceleração do Crescimento, criado pelo governo federal, e que tem como principal objetivo estimular a economia brasileira por meio do desenvolvimento de energia, transporte e infraestrutura urbana.