Manchetes das notícias do mundo nos últimos meses têm se caracterizado por mais iniciativas diplomáticas do que contagem de corpos.
Conflitos em curso na Síria, Egito, República da África Central e em outros lugares ainda fornecem abutres da violência com amplas histórias. Mas amplas negociações com o Irã, Israel e Palestina, e até com o Sudão do Sul, se tornaram dramáticas, e drama faz notícia. Além disso, contra a insistência de alguns falcões, os Estados Unidos não estão enviando tropas com armas e bombas para intervir onde e quando quer que um problema surja. Em seu discurso do Estado da União, o presidente Obama falou sobre acabar com as guerras, e não iniciar novas, ele insistiu na primazia da diplomacia para evitar a violência e construir um futuro seguro.
A preferência pela diplomacia sobre a ação militar deveria ser autoevidente, mas não para todos. Alguns ainda urgem pelos dias quando os irmãos Dulles travaram guerras clandestinas pelo mundo todo para impor a vontade dos EUA em nações soberanas – muitas vezes instalando ditaduras brutais que protegeriam nossos interesses em detrimento dos valores democráticos e necessidades locais. Em sua revista Weekly Standard, o ativista veterano neoconservador William Kristol descreve a condução da diplomacia em vez do poder militar como “execução fraca de nossa política externa”. Mas estamos pagando um preço grave pelas prescrições de Kristol no Iraque e no Afeganistão, e não somos confiáveis no Irã, em grande parte da África e na América Latina por causa da loucura dos Dulles. Mais músculo militar não ajudará.
Outros temem que a diminuição da ação militar colapse a economia. Afinal, todos os americanos foram criados sabendo, sem dúvida, que a guerra é boa para a economia. Vários anos atrás, eu apresentei a vários membros do Congresso o conceito de ‘construção da paz’. Um deles, um velho amigo, rejeitou a ideia de construir um mundo mais pacífico como sendo inconcebível. “Você não pode fazer isso”, exclamou ele. “Isso arruinará a economia.” Ele realmente acreditava nisso.
Pouco antes de morrer, em 2011, o colunista David Broder pediu ao presidente Obama para começar uma guerra com o Irã para salvar sua presidência e a economia. “À medida que as tensões aumentarem e nós acelerarmos os preparativos para a guerra, a economia melhorará”, argumentou ele. Broder frequentemente estava certo, mas não desta vez. Nós sabemos melhor. A Guerra do Vietnã, por exemplo, não só não conseguiu alcançar a vitória no campo de batalha, mas também criou grandes déficits e alimentou a inflação, levando a crises econômicas na década de 1970. Mais recentemente, temos lutado não apenas uma mas duas grandes guerras e a economia ruiu. O mito de que a guerra é boa para a economia fracassou.
Correlacionando paz e prosperidade
O Instituto de Economia e Paz (IEP) calculou que a guerra e a violência em todo o mundo drenam 11% da economia global. O Índice Global de Paz do IEP classifica os países com base na sua tranquilidade, e a correlação entre paz e prosperidade é quase absoluta. O PIB per capita se eleva em cerca de US$ 3 mil para cada dez lugares mais altos no índice de paz. Os dados indicam uma clara correlação entre paz e prosperidade. Com a exceção de alguns valores estatísticos discrepantes, os países pacíficos são prósperos e os países atolados na violência não são.
Numa carta anual otimista em 2014, Bill e Melinda Gates refutaram os mitos que bloqueiam o progresso nos países pobres, e preveem um crescimento significativo. Mas eles acrescentam: “Alguns países serão retidos pela guerra, política ou geografia.” A paz, por si só, não fará um país prosperar, mas, como Paul Collier e outros economistas do desenvolvimento afirmam, a violência praticamente garante estagnação econômica. As nações mais pobres melhoram suas perspectivas de prosperidade por meio da paz, e não da guerra.
Os Estados Unidos ocupam a 99ª posição dentre 162 países no Índice de 2013. O baixo status é devido a fatores internos, como crimes violentos e a maior taxa de encarceramento do mundo, bem como o envolvimento em guerras no exterior e elevadas despesas militares. Como um país próspero, os Estados Unidos estão entre as poucas exceções na correlação entre paz e prosperidade, mas poderíamos fazer melhor em ambas as contagens. A publicação Contenção da Violência do IEP sobre os Estados Unidos conclui: “Se os políticos entendessem claramente o custo econômico da contenção da violência não produtiva, então, melhorar os níveis de tranquilidade seria visto como central para as reformas estruturais de longo prazo.”
Há alguns anos, eu fui convidado para dar a palestra anual principal na conferência executiva de Ben & Jerry. O tema era ‘Paz, Amor e Sorvete’, e Ben Cohen queria que eu os ajudasse a fazer do evento mais do que um slogan inteligente de marketing. Em torno da metade de minhas observações, o vice-presidente de marketing interrompeu e disse: “Eu entendo. Você vende mais sorvete em lugares calmos do que em lugares em guerra.” Com a exceção de munições, você vende mais de cada produto – e todos vivem melhor – em locais em paz do que em guerra.
A mudança para a diplomacia
A mudança do contexto de guerra permanente para diplomacia permanente pode ser real ou não, e pode durar ou não. Mas tem um potencial significativo para o progresso econômico, bem como evita a morte e a destruição maciças. No período que antecedeu a invasão do Iraque, estávamos certos de que o custo seria praticamente insignificante, e que os ganhos econômicos se seguiriam. Foi uma falsa promessa, e não ousamos cair nessa linha novamente.
Soluções diplomáticas estão quase sempre disponíveis para resolver os conflitos étnicos, sociais, políticos, ideológicos e econômicos. A diplomacia leva tempo e paciência, e raramente produz heróis nacionais. Mas a guerra, muitas vezes leva ainda mais tempo, com resultados terríveis. O resultado da diplomacia é mais apto a ser positivo do que as consequências da guerra.
Claro, precisamos de uma capacidade militar razoável para a segurança nacional, e pode até mesmo ser uma ferramenta de suporte para a diplomacia. Mas ao longo dos anos, especialmente desde os ataques de 11 de setembro, o equilíbrio pendeu para o poder militar sem fazer a América ou o resto do mundo mais seguros ou prósperos. O presidente fez da revitalização da economia nacional um foco de seus anos restantes de mandato. Paz, como ele parece perceber, faz sentido econômico em casa e no exterior.
Charles F. Dambach é ex-chefe de gabinete do congressista John Garamendi (CA-3) e ex-presidente da Aliança para a Construção da Paz
Originalmente publicado na Foreign Policy in Focus