Guerra do regime chinês à dança tradicional – Parte 1

04/05/2012 01:00 Atualizado: 22/05/2013 00:20
A Companhia de Arte Shen Yun sendo aplaudida de pé pelo público. O Shen Yun tem a missão de reviver a cultura tradicional chinesa, já tendo se apresentado em centenas de cidades ao redor do mundo para milhões de pessoas (Companhia de Arte Shen Yun)

Aqueles que sobreviveram à Revolução Cultural na China não esqueceram os seus horrores. Foi uma época em que a religião foi rotulada como “superstição” e os intelectuais foram estigmatizados como “inimigos de classe”, na qual os princípios fundamentais de 5000 anos da cultura chinesa foram destruídos.

A dança chinesa, com seus movimentos fluidos e suas crenças tradicionais, seria logo atacada para destruir as suas raízes e ser restabelecida como uma ferramenta da revolução.

Em 16 de maio de 1966, o primeiro líder do Partido Comunista Chinês (PCCh), Mao Tse-Tung iniciou a Revolução Cultural. O movimento de matar os “inimigos de classe” e de destruir a cultura tradicional duraria até sua morte, em 9 de setembro de 1976. Estima-se que a Revolução Cultural causou a morte de mais de 8 milhões de pessoas em 10 anos, de acordo com o Centro Mundial de Serviços para Renunciar ao PCCh.

Logo que começou a Revolução Cultural, Mao nomeou sua quarta esposa, Jiang Qing, vice-diretora do Grupo Central da Revolução Cultural, ganhando assim o controle da destruição da cultura tradicional e estabelecendo a cultura do partido.

A esposa de Mao, conhecida como “Sra. Mao”, permitiu apenas cinco “histórias revolucionárias para serem dançadas”. Ela “assumiu o controle do estilo, dos temas e da expressão artística de maneira tal que estivessem orientados a um estilo revolucionário e militar”, disse um relatório que foi divulgado no Music Center de Los Angeles, EUA.

Lily Cai, uma professora de dança na época que teve de suspender seus ensinamentos tradicionais, recorda-se que “neste período, todos aprenderam uma dança revolucionária que não requeria técnica.”

Tentando destruir a dança yangge

Ellen Gerdes, uma especialista em dança tradicional chinesa, explorou a dança yangge, uma forma específica de dança folclórica chinesa com origens nas cerimônias agrícolas. Acredita-se que suas origens são da dinastia Song (959-1278 d.C.). Ela disse que a dança yangge “está intimamente relacionada com as políticas do PCCh durante o estabelecimento do Partido e da Revolução Cultural.”

A dança yangge atraiu a atenção do PCCh, porque sua base de dança agrícola a relacionava com a meta do regime emergente de congregar a classe mais baixa para levantar-se contra a classe alta.

“Como os agricultores de toda China praticavam o yangge como uma dança coletiva… era um objetivo importante para o PCCh, que tentava unificar a classe baixa por uma causa”, declara Gerdes.

A fim de estabelecer uma nova cultura baseada no comunismo e no ateísmo, até o presente o regime chinês permanece oficialmente ateu, o PCCh destruiu os valores e crenças tradicionais da China durante a Revolução Cultural. As artes cênicas desempenharam um papel importante nisto e foram “um fator importante na vitória do PCCh”, segundo Gerdes.

“Os líderes do PCCh tomaram a maneira processional e o simbolismo destes movimentos para criar uma dança de pessoas comuns que segue um líder”, escreveu. Este novo estilo de dança foi chamado de “yangge revolucionário” e “não era uma forma tradicional, mas algo novo baseado em movimentos, temas e popularidade desenvolvidos conforme a necessidade do PCCh”, escreveu Gerdes.

E acrescentou: “Foi esta alteração no tema original do yangge que permitiu ao PCCh usá-lo em encontros massivos e demonstrações políticas públicas que apresentavam as novidades do campo e estimulavam a reforma agrária.”

O uso e a alteração da dança tradicional por parte do PCCh serviu a dois propósitos: destruir os elementos culturais da arte e restabelecê-los como uma forma de louvar o partido. As histórias tradicionais foram alteradas, enquanto algumas foram criadas para promover as diversas campanhas do regime.

Apesar do papel desempenhado em estabelecer a nova cultura do PCCh, a dança yangge igualmente foi suprimida durante a Revolução Cultural, devido as suas raízes da arte tradicional. “Mao não pôde ignorar suas origens”, escreveu Gerdes.

A essência desta dança se perdeu. “A professora Ma, uma professora de dança num escritório cultural em Pequim, me explicou que a nova forma de yangge é uma combinação de movimentos do balé soviético e de outras formas aprendidas das escolas de dança estabelecidas pelos militares chineses”, resume ela.

Para Gerdes, apesar de muitas pessoas na China ainda tentarem preservar a dança yangge, sem saberem “também estão preservando uma forma de dança carregada da ideologia comunista.”

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