Quase 50 anos atrás, nos movimentos iniciais da Revolução Cultural da China em 1966, Song Binbin, uma colegial de Pequim e proeminente “Guarda Vermelha” ajudou a estimular uma série crescente de sessões de crítica e luta violenta em sua escola que resultaram na morte brutal da diretora. Agora, a idosa Song Binbin diz estar arrependida.
Song Binbin, a quem Mao Tsé-tung conheceu pessoalmente e apelidou de “Yaowu” (“disposta a lutar”), apareceu na escola feminina afiliada à Universidade Normal de Pequim em 12 de janeiro e fez um discurso de arrependimento.
“Por favor, permitam-me expressar a minha solicitude eterna e desculpas à diretora Bian”, disse ela a um grupo de ex- professores e alunos, segundo um artigo do Beijing Times. “Eu falhei em proteger adequadamente os dirigentes escolares e isso tem sido uma fonte permanente de angústia e remorso.”
Filha do almirante Song Renqiong, um dos líderes fundadores da China comunista, Song Binbin era uma líder sênior entre os Guardas Vermelhos em sua escola feminina em Pequim em 1966. Os Guardas Vermelhos, criados para promover os objetivos de Mao durante a Revolução Cultural, criaram caos incalculáveis para as instituições do país e o quadro social.
Em junho, Song produziu o pôster criticando a liderança da escola. Isso culminou em agosto, quando uma multidão frenética espancou o secretário do Partido Comunista na escola e a vice-diretora Bian Zhongyun.
“A Revolução Cultural foi uma calamidade enorme”, disse Song, segundo um texto de sua declaração publicada no Consensus Net, um site chinês especializado em discussões intelectuais e políticas. Uma foto de Song e outros ex-alunos se curvando diante de um busto da sra. Bian apareceu nos jornais chineses.
O assassinato da diretora foi apenas um dos primeiros e mais conhecidos do tipo.
“Nos dias seguintes, a violência aumentou. Como resultado, mais e mais professores foram espancados e muitos morreram”, segundo uma pesquisa realizada pela professora americana Wang Youqin, que também foi uma Guarda Vermelha. Cerca de 100 foram torturados até a morte num único distrito no centro de Pequim em duas semanas em agosto de 1966 e muitos mais ficaram aleijados.
Song disse que foi inspirada a se desculpar por Chen Xiaolu, o filho de outro oficial comunista de alto escalão. “Nós vimos que a sociedade reconheceu seu pedido de desculpas. Esta é uma oportunidade. Esperamos que mais pessoas possam conhecer a verdade”, disse Song.
A Revolução Cultural foi uma campanha política lançada por Mao Tsé-tung, o ex-líder do Partido Comunista Chinês e fundador da República Popular da China, para conter a autoridade de supostos inimigos ideológicos e recuperar seu poder no Partido após o desastroso “Grande Salto para Frente”, que matou de fome dezenas de milhões.
Inicialmente, sua base de apoio vinha dos filhos de altos oficiais do Partido, incluindo Song, que buscavam demonstrar suas credenciais revolucionárias. Pouco depois, este grupo inicial de Guardas Vermelhos foi abandonado por Mao e deixado vulnerável ao ataque de outros grupos numa espiral crescente de luta e violência.
Os efeitos da Revolução Cultural se difundiram amplamente. O atual líder chinês Xi Jinping e seu pai Xi Zhongxun estiveram entre as vítimas. Xi Zhongxun foi demitido do cargo de vice-premiê do Conselho de Estado do Partido Comunista, tornando-se alvo de investigação e detenção. O próprio Xi Jinping, na época um menino, foi denunciado, ficou desabrigado, passou fome e foi detido. No início de 1969, com 16 anos, Xi Jinping foi enviado para trabalhar numa área rural no norte da província de Shaanxi, onde passou sete anos vivendo em condições miseráveis.
Wang Jingyao, o viúvo de 93 anos de Bian Zhongyun, trabalhou por muito tempo para preservar a memória da esposa falecida, bem como para aumentar a consciência do papel desempenhado pela sra. Song e outros na morte.
“Ela é uma pessoa má por causa do que fez”, disse ele numa entrevista ao New York Times. “Ela e os outros foram apoiados por Mao Tsé-tung. Mao era a fonte de todo o mal. Ele fez tantas coisas ruins. E isso não é apenas um problema individual” de alguém como a sra. Song, acrescentou ele. “Todo o Partido Comunista e Mao Tsé-tung também são responsáveis.”